Como pequenas atitudes e hábitos podem nos ajudar a zelar por nossa saúde psíquica?

A indagação escolhida para nossa reflexão evidencia uma relação entre causa e consequência. A constante adoção de atitudes proativas, diligentes e otimistas, por menores que possam parecer em algumas circunstâncias, certamente ensejam a abertura a novas e promissoras perspectivas, contribuindo para a preservação do equilíbrio emocional e afetivo, enfim, da saúde psíquica.

Dessa forma, alguns poderão presumir que este tema esteja de tal forma explorado, que abordá-lo atualmente significaria transitar, uma vez mais, no assim denominado lugar-comum, onde transbordam clichês e frases de efeito, próprios, aliás, dos discursos redundantes, tão frequentes na atualidade.

Ora, defendemos a ideia de que no campo da espiritualidade deve imperar o senso amplificador, que permite uma autêntica e sustentável compreensão da vida. Nesse processo, faz-se necessária uma releitura de determinados conceitos, à luz de uma apreciação abrangente e compromissada com o desenvolvimento humano.

Antes de abordarmos os aspectos mais relevantes sobre tema desta reflexão, cabe mencionar que alguns equívocos decorrentes de interpretações inadequadas retiram a importância dos pequenos gestos e hábitos, quando na verdade são eles que estruturam e mantêm a saúde psíquica. Procuraremos demonstrá-los na sequência.

Entre os diversos dramas vivenciados pelo ser humano ao longo de sua trajetória por este planeta, assume excepcional importância a perda do equilíbrio psíquico, que gera um sentimento capaz de anular as manifestações de espontaneidade e criatividade, inibindo a possibilidade de construir uma vida harmônica. É nesse contexto que a sincera abertura para a transcendência, que nos incentiva a proceder com ponderação, moderação e valor, bem como a gerir nossos sentimentos, aprimorando nossos hábitos e o senso crítico da realidade, impõe-se como condição fundamental para a manutenção da vitalidade.

À medida que a mente se desenvolve como consequência do processo de entendimento da realidade espiritual, o ser humano torna-se forte o bastante para não se abalar diante dos mais variados estímulos externos e internos. Sua consciência amplia-se – e, com ela, o autêntico sentido da vida, em todas as suas formas de manifestação.

 A questão da saúde psíquica é, sem dúvida, de grande importância, pois toda pessoa esclarecida espiritualmente, qualquer que seja sua ocupação cotidiana, seu grau de cultura, seu posicionamento social etc., anseia por preservá-la. É preciso, portanto, ter em conta alguns aspectos erroneamente considerados de menor importância, tais como os pensamentos que emitimos cotidianamente, as palavras que utilizamos a toda hora, os ambientes que frequentamos e os relacionamentos que estabelecemos, de modo a não frustrar a edificação de uma vida integralmente saudável, como nos alerta o Racionalismo Cristão.

Note-se, quanto ao mais, que flui para o ser humano consciente de sua origem espiritual a alegria revigorante que produz harmonia e satisfação. Aquelas situações desagradáveis que geram abalos emotivos ou sensíveis, aqueles males que tanto causticam e estigmatizam a humanidade despreparada e materialista perdem intensidade onde impera a espiritualidade, onde se enaltece o Transcendente.

Qualquer menção ao papel da espiritualidade na preservação da saúde psíquica seria incompleta se não se destacasse o valor do método, da ordem, enfim, da disciplina. Uma vida que não valorize o critério, a organização e a disciplina, inclusive nas pequenas atitudes, tende à desordem e, consequentemente, ao esgotamento das energias físicas e psíquica.

Assim, mesmo quando o ser humano espiritualizado e responsável é exposto a um ambiente demasiadamente estressante e desorganizado, não se deixa desequilibrar, pois internamente mantém ordenado o fluxo de suas ideias e pensamentos. Seu juízo agudo e elevado, edificado pelo hábito da disciplina, aprimorado pela inteligência e sedimentado pela atitude metódica, não se permite influenciar por ruídos dissonantes e hostis, por opiniões aviltantes e por pressões cotidianas, tão recorrentes no mundo moderno.

 Veem-se surgir de quando em quando excentricidades de insolência, variantes da preguiça mental e do enfermiço desleixo, que negam demagogicamente o valor da disciplina. Todavia, a partir do momento em que o ser humano compreende a necessidade de viver disciplinadamente, desenvolvendo uma consciência que pode florescer da simples observação de que todas as manifestações da natureza se dão de forma ordenada, experimenta uma profunda sensação de paz, afastando de si, naturalmente, a tensão e a ansiedade, fatores predisponentes ao surgimento de doenças.

A atitude que deve caracterizar a pessoa perante as situações do dia a dia é, essencialmente, a positividade. Mesmo as situações difíceis nos conduzem a repensar a vida e a reavaliar nossos objetivos e, por isso mesmo, trazem em si a semente da positividade. Se a crise for confundida com punição, castigo, esvazia-se seu significado mais profundo, perde-se sua dimensão de oportunidade. Mas se a enxergarmos como um momento passível de reversão, desde que nos disponhamos, individual e coletivamente, a melhorar nossos hábitos, pensamentos e sentimentos, é possível estabelecer com ela uma relação pedagógica e colher magníficos ensinamentos que concorrerão para nosso aperfeiçoamento intelectual e moral.

A positividade apoiada em sensatez permite que a pessoa tome decisões coerentes e acertadas, que ela desenvolva progressivamente o senso de responsabilidade. Assim sendo, a positividade, além de virtude, se converterá em um estilo de vida, que exigirá um posicionamento maduro e uma grande responsabilidade para a edificação de um mundo melhor.

Por tudo o que abordamos nesta reflexão, fica evidente que o ser humano, por meio de cuidados básicos em relação a seus pensamentos e emoções e do desenvolvimento consciente de seus atributos – o domínio próprio, a inteligência, o raciocínio, a consciência de si mesmo, entre outros –, tanto pode afastar de si influências malfazejas advindas de ambientes de alto estresse, preservando e zelando por sua saúde psíquica, como interferir positivamente nos mais diversos cenários da vida social, elevando-os e transformando-os com o vigor de seu pensamento, com a nobreza de seus sentimentos e sobretudo com a força de seu exemplo.

É um postulado inquestionável da espiritualidade racionalista cristã a busca da vivência fraterna e igualitária que, por seu turno, se exterioriza nas pequenas atitudes e hábitos. Essa consciência é capaz de estimular os ânimos e atirá-los à ação concreta, arrojada e benfazeja, ensejando o desenvolvimento dos mecanismos psíquicos que resistirão às eventuais influências deletérias costumeiras em ambientes hostis e conturbados.

Por fim, é necessário destacar novamente a dificuldade – e talvez mesmo a impossibilidade – de manter uma postura plácida, moderada e firme em meio a um ambiente improdutivo, violento e estressante sem o concurso da disciplina, destacando a da limpeza psíquica diária criada pelo mestre Luiz de Mattos, fundador do Racionalismo Cristão.

Na verdade, amigos, a solução dos problemas mais complexos e complicados e a manutenção sustentável da saúde psíquica repousam na vivência cotidiana de conceitos simples e claros: a disciplina, o valor, a dignidade, o respeito, a boa vontade, o discernimento e o bom senso. Eis as alavancas que retiram os seres humanos do pântano da ilusão e das atitudes grosseiras e os projeta ao nível da sublime serenidade e da saudável harmonia.

Muito Obrigado!