Em todos os períodos e lugares, por mais remotos que sejam, o ser humano sempre buscou, desde seu estágio mais rudimentar até seu nível atual de desenvolvimento, formas de aperfeiçoar suas habilidades. A pergunta que dá título a esta reflexão tem um propósito mais abrangente do que simplesmente o de evocar possíveis métodos para o desenvolvimento dos talentos ou das habilidades humanas.
Não seria difícil elaborar de forma segura e livre da influência de possíveis críticas ou censuras uma ampla lista de recomendações espiritualistas de condutas que devem ser adotadas para o despertar ou para o aperfeiçoar habilidades. Mas, é importante ir além, identificar a motivação por trás do impulso ao aperfeiçoamento, pensando o autoconhecimento como uma possibilidade de entender o porquê das reações e comportamentos, a fim de meditá-los e direcioná-los para a própria realização.
Naturalmente, a busca do desenvolvimento é, para o ser humano, uma vocação e uma necessidade. Ele não se pode subtrair a esse fato. À medida que amadurece, passa a compreender que o autêntico desenvolvimento pessoal exprime uma consciência leve, realizada e plena, advinda sobretudo do cumprimento dos compromissos e deveres. Nessa trajetória, o uso que fará de seus talentos e atributos assume excepcional importância, conforme procuraremos demonstrar aos nossos leitores.
O processo necessário à descoberta das soluções para as mais intrincadas questões existenciais consiste necessariamente na elaboração do que poderíamos chamar de uma ética espiritualista, que permite ao ser humano identificar-se com sua essência, sua origem e sua vocação para a transcendência.
Assim, há que desenvolver uma importante habilidade: a capacidade de identificar e evitar comportamentos estritamente materializados que desumanizam as relações em todos os níveis, contrapondo-se energicamente aos pensamentos e sentimentos negativos e inadequados. Há que investir com particular veemência contra a preguiça, a inveja e a procrastinação, que impedem o ser humano de despertar e aperfeiçoar suas habilidades, como sempre nos recomenda o Racionalismo Cristão.
Quanto mais nos esforçarmos no sentido de vivenciar na experiência cotidiana, sem hesitações, os elevados valores espiritualistas que se encontram em nossa consciência, menos dificuldades teremos em reagir positivamente diante dos desafios que se nos apresentam, sejam eles na esfera individual ou coletiva.
A identificação de que a imperfeição alcança todo o conjunto humano, ou de que os erros são fáceis de cometer e difíceis de reparar, não legitima a atitude de cruzar os braços diante das dificuldades, como se elas fossem insuperáveis. À medida que as falhas são encaradas com calma e compreensão, tolerância e solidariedade, o ser humano realiza parcial e progressivamente sua vocação de aperfeiçoamento e abertura para o transcendente, potencializando enormemente seus talentos e aptidões.
Oportuna é a observação que aponta para o comedimento como um valioso recurso para a construção de uma personalidade inclinada ao bom desenvolvimento de suas capacidades. O comedimento implica a noção de que o equilíbrio deve sobressair em todos os setores da vida como um referencial seguro e desejável.
Sem dúvida, é preciso fazer o possível para renovar a cada dia o propósito de agirmos com valor, desapego, parcimônia, constância, estabilidade, firmeza e aprumo, condições imprescindíveis para o progresso nas virtudes e nas competências. Para seguir esse itinerário de realização e crescimento, não é necessário entrar em contato com uma realidade distante e idealizada, mas simplesmente com nós mesmos, com nosso interior, com nossas potencialidades.
Cada um tem sua maneira, seu método, sua feição, seu estilo, sua estratégia para estabelecer contato consigo mesmo, com sua interioridade. O que importa é não perder tempo buscando fora aquilo que está dentro de si, ainda que muito profundamente: a força espiritual para enfrentar com determinação e coragem todas as circunstâncias da vida.
A pessoa que não tem consciência de seu valor, de suas singularidades e talentos, de suas faculdades e vocações, enfim, de sua essência espiritual não decide com naturalidade, sendo facilmente manipulável.
Na questão do estímulo das aptidões, não se pode alimentar o pensamento ingênuo de que este se dará sem contínuo esforço e dedicação. A convicção de que todo desenvolvimento pessoal principia na disposição de cada um em pensar e sentir com elevação e benquerer imprime uma grande disposição ao compromisso de manutenção da paz interior, sendo certa sua implicação no cumprimento dos deveres, na vida disciplinada e no autoconhecimento, como defende o Racionalismo Cristão.
Uma visão acerca dos talentos e habilidades do ser humano desligada de uma referência à espiritualidade conduz à negação de seu sentido e limita a experiência humana aos aspectos circunstanciais, empobrecendo-a radicalmente. Eis por que insistimos na ampliação de perspectivas e na análise dos fatos sempre através do prisma da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão.
Muito Obrigado!