O início de mais um ano simboliza, acima de tudo, o recomeço, o limiar de um novo ciclo, uma fase de rearranjo. A simples observação desse fato, se outro mérito não tiver, terá um que a muitas objeções ofusca: o de provocar uma importante reflexão sobre as múltiplas etapas da vida. Esse repensar da própria existência indica muitas vezes, em seus mais amplos contornos, a recusa de repetir determinadas ações, bem como de pôr em prática projetos acalentados.

Afirmamos que os conteúdos filosófico-espiritualistas defendidos e divulgados pelo Racionalismo Cristão não configuram somente um instrumento eficiente na análise de fatos e situações, tendo, portanto, uma face teórica, neutra, abstrata. Pelo contrário, defendemos o posicionamento de que a espiritualidade possui relação direta com a vida prática e, nessa perspectiva, pode auxiliar verdadeira e eficazmente o ser humano na condução de sua própria existência, na administração de seus relacionamentos, no cumprimento de seus objetivos e na realização de suas intenções e metas.

Cabe acrescentar que tão nobres e elevados, estáveis e íntegros são os princípios espiritualistas do amor ao próximo, do respeito às diferenças, do compromisso com a palavra empenhada, da dedicação ao trabalho, do pensamento valoroso e da disciplina no viver que apreendê-los e incorporá-los significa desenvolver competências e habilidades que serão certamente úteis para o cumprimento dos mais variados objetivos ao longo de todo o ano presente e também dos anos vindouros.

Devemos ter sempre em mente que o fato de estarmos vivos já representa, por si só, um sério compromisso; um compromisso de aperfeiçoamento íntimo, de progresso espiritual, de aprimoramento ético-moral.

A consciência da necessidade constante de ampliação dos atributos e das faculdades espirituais, que constitui a marca da pessoa espiritualizada, deve inspirar e dignificar o agir humano, tecer relações múltiplas de respeito e confiança, de lisura e fraternidade. Nesse diapasão, os diversos projetos a serem conquistados pelos seres humanos, para que realmente produzam um efeito positivo, isto é, de plenitude e bem-estar, devem necessariamente estar interpenetrados de pensamentos e sentimentos de valor.

A preocupação com o êxito nos empreendimentos, a vontade de progredir material e socialmente, o interesse no apuro intelectual e no fomento da carreira profissional constituem projetos relevantes que não estão de forma alguma dissociados do crescimento espiritual. Os autênticos conteúdos espiritualistas são atualizados e divulgados em meio à vida cotidiana, nos lares, nas escolas, nas empresas etc.

Nesse sentido, a par das virtudes que a todos cumpre o dever de buscar, onde quer que a pessoa tenha de desempenhar suas funções, eis o local e o momento ideal para que este dilate seus atributos espirituais e melhore seu caráter.

A base que dá sustentação à constante busca por mudanças e transformações por parte do ser humano decorre sobretudo de sua essência espiritual. Apesar da existência de uma gama extremamente variada de situações e possibilidades com que historicamente se depara, busca incessantemente preservar sua integridade físico-psíquica e melhorar as condições a sua volta.

A fim de predispor-se para a realização de seus propósitos e o cumprimento de suas metas, requer-se do ser humano foco, responsabilidade, energia e disciplina, o que se torna dificílimo quando o pessimismo e a maledicência ganham espaço, ressaltando os insucessos e defeitos alheios. No mais das vezes, isso se faz com a finalidade de encobrir ou mesmo compensar as próprias frustrações e complexos.

A abertura para o transcendente permite que o ser humano concentre suas energias no desenvolvimento de suas tarefas, sem perder tempo com especulações vazias e pretensiosas ou tratando da vida dos outros.

A rejeição das distorções acerca do sentido da vida e a consciência dos objetivos que realmente merecem dedicação, esforço e abnegação levam a pessoa à constatação de que é inseparável a ligação entre a força de vontade e a realização de projetos. De fato, a força de vontade é um poderoso antídoto contra a inércia, a pusilanimidade, a preguiça e o fracasso. É ela que permitirá a superação de quaisquer meios impeditivos; possibilitando o estabelecimento e a manutenção do equilíbrio e da harmonia.

A transformação interior, em sua paulatina adequação aos valores morais e éticos, é condição essencial para a estruturação de uma personalidade robusta e resiliente que enalteça a constância e a perseverança – pressupostos reais – para o cumprimento de metas e a conquista de objetivos.

Mantemo-nos comprometidos com as metas ao longo do ano à medida que nos esclarecemos espiritualmente e testemunhamos com atitudes concretas nossa vocação à expansão de nossos atributos espirituais. Esse impulso interno transcende ao horizonte das fórmulas prontas, dos manuais de sucesso, das listas sugestivas de atitudes e dos famosos passo a passo que, direta ou indiretamente, acabam por tolher a criatividade e a autonomia das pessoas.

De fato, inúmeros são os argumentos favoráveis à mudança positiva de perspectivas e ao aperfeiçoamento em sentido espiritual. É certo, porém, que toda a análise do tema não se deve distanciar de uma interpretação do autêntico sentido de liberdade. Não há conflito entre liberdade e responsabilidade, e sim uma relação de profunda reciprocidade. Quanto maior a liberdade, tanto maior a responsabilidade. Aliás, sem essa consciência, abre-se caminho para a indecisão.

Se tão irrecusável é a importância da liberdade, não são menos relevantes os elementos que lhe dão suporte, quais sejam: a disciplina, a honra, o trabalho, a sinceridade e sobretudo o conhecimento da espiritualidade. Na verdade, a firme determinação de empenhar-se na obtenção dessas virtudes representa sublime manifestação de racionalidade e inteligência, surgindo da mais profunda aspiração que o ser humano nutre em relação ao transcendente: a espiritualidade.

Muito Obrigado!