Há duas maneiras de vivenciar a espiritualidade, ou seja, de participar da assim denominada experiência espiritualista: a primeira é a espontânea e irrefletida; a segunda, a consciente e racional. Aquela se fundamenta no fato de que todo ser humano tem uma essência espiritual e, ainda que inconsciente ou irrefletidamente, exprime na vida cotidiana aspectos que se manifestam de sua natureza espiritual, sem que os reconheça em um primeiro momento. A segunda maneira decorre do esclarecimento espiritual e de uma conduta de vida alinhada com os princípios propostos pelo Racionalismo Cristão e com o cultivo das virtudes, de modo a conduzir a pessoa ao crescente conhecimento de si mesma, bem como de seus atributos e faculdades espirituais.
Visto que o assunto é extremamente importante no contexto de nossos estudos filosófico-espiritualistas, procuraremos de abordá-lo na presente reflexão.
Todo ser humano, por congregar em si duas dimensões – a espiritual e a material –, por ser um composto de Força e Matéria, como afirma o Racionalismo Cristão, inevitavelmente vivencia no transcurso de sua existência uma experiência espiritualista. Os indícios de sua natureza espiritual se encontram em sua própria estrutura, no poder dos pensamentos que emite, nas percepções que tem para além do que lhe permitem os sentidos físicos e, sobretudo, em sua vocação inerente ao autoaprimoramento.
O influxo da espiritualidade é patente, desde o campo dos pensamentos e sentimentos até a vida intelectual dos seres humanos. A existência física de uma pessoa, via de regra, percorre várias etapas, e em todas elas os valores espirituais emergem como que a lembrá-la de sua origem imaterial e da necessidade de voltar-se para os aspectos transcendentes da vida.
Aqueles que lamentavelmente vivenciam a espiritualidade de forma irrefletida e inconsciente, sem dar a devida atenção às próprias demandas evolutivas, não raro se deixam enganar pelo falso brilho do fogo passageiro das ilusões da matéria, enveredando por um tormentoso caminho de desenganos que pode acabar por desembocar no pântano do desequilíbrio psíquico.
Viver a experiência espiritualista de forma consciente ou irresponsável relaciona-se, inegavelmente, ao uso que cada um faz de seu livre-arbítrio. Sim: não pretendemos ser polêmicos ou contundentes, mas a realidade é que imprimir à existência um estilo de vida reflexivo e afeito aos valores espirituais – e o mesmo vale para uma conduta materializada, preconceituosa e inclinada às paixões – é uma questão de escolha individual. Por que afirmamos isso? Porque, para além do fato de que cada ser humano tem livre-arbítrio, todos indistintamente trazem consigo atributos e faculdades espirituais que os habilitam ao cultivo das virtudes, estas que auxiliam enormemente o ser humano a atingir sua meta de espiritualização.
A grandeza moral e espiritual de uma pessoa ergue-se também por meio do uso adequado das palavras, que devem ser sempre profundas, refletidas e produtivas, jamais interpenetradas por imediatismos ou por conveniências político-sociais. Sua expressão, oral ou escrita, não deve entrar em conflito com os valores do espírito.
Há um substantivo que define e retrata bem a pessoa espiritualizada: caráter. É precisamente o caráter que permite ao desenvolvimento intelectual e ético tornar-se uma única coisa, uma mesma realidade. Lembramos que toda vez que mencionamos o vocábulo “caráter”, fazemo-lo pela perspectiva espiritualista, não no contexto da imprecisa definição materialista, pois sabemos através do Racionalismo Cristão que o caráter de uma pessoa reflete a soma do desenvolvimento de seus atributos espirituais.
Esperamos sinceramente que os subsídios reunidos nesta reflexão possam despertar as consciências no sentido de que um número cada vez maior de pessoas vivencie a espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão de forma consciente e racional, a fim de conservar a mente em equilíbrio, acalentar sentimentos puros e conquistar, pela força dos pensamentos e pela coragem da conduta, seus mais legítimos ideais.