Nas famílias e agrupamentos sociais, nas mais variadas épocas e nos mais distintos contextos, é comum o estabelecimento de conflitos e atritos entre gerações. Os mais jovens, movidos por uma sensibilidade característica da idade, abrem-se a novas perspectivas e formulam ideais nem sempre acolhidos pelos mais velhos, que, em alguns casos, estratificados pelo conjunto de suas experiências, têm dificuldade de reconhecer a legitimidade de uma geração que busca novos caminhos e soluções. Trataremos dessa temática no presente artigo.
Não obstante o conflito entre gerações se apresentar na sociedade de maneira reiterada, ao analisar a questão de forma lúcida e integradora, somos levados a concluir que não se trata de uma realidade absoluta, ou seja, não é verdade que todas as famílias terão necessariamente de passar por essa situação. Nos lares e grupos sociais em que o diálogo e o respeito às diferenças forem princípios inegociáveis, o conflito jamais se instalará. Nesses casos, a troca de experiências fará do convívio entre diferentes gerações uma fonte de enriquecimento intelectual e ético que beneficiará a todos.
Em sua maioria, os jovens revelam, no convívio social – e com variável grau intensidade –, comportamentos exagerados e excêntricos, além das mais diversas inquietações. Tais manifestações guardam estreita relação com a necessidade de reconhecimento e de autoafirmação. Quando os mais experientes possuem sensibilidade para compreender essa situação e maturidade psíquica para não se sentirem ameaçados por novas ideias e conceitos, os conflitos tendem a se dissolver.
Por meio do esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão, entendemos com maior nitidez que o dinamismo da vida é marcado por uma constante necessidade de renovação, mas não uma renovação que desconstrói totalmente o legado dos mais experientes. A observação da História reforça essa certeza. Com certeza, a conservação inteligente dos aspectos positivos transmitidos pelas gerações anteriores e a necessária atualização que deve ser promovida pelas novas gerações constituem princípios que, inegavelmente, marcam o fluxo da vida e estabelecem sua perenidade.
Para que uma sociedade avance, há imperiosa necessidade de respeito entre as gerações, ou seja, entre os seres jovens e maduros que a integram. As famílias que valorizam o acervo de experiência de seus anciãos são as que melhor aproveitam as oportunidades que a vida apresenta. Em sentido contrário, quando os seres mais jovens se tornam impermeáveis à sabedoria dos que passaram por inúmeras situações e aprenderam com elas, esmaecem sua inteligência na obscuridade do preconceito.
Ao observarmos o mundo, verificaremos que nele convivem indivíduos de diferentes idades, e que as linhas que separam os tempos históricos nem sempre são nítidas. Tal constatação reforça o conceito de continuidade aduzido anteriormente. Nessa perspectiva, as conquistas sociais e científicas que marcam nossa época têm fundamento no acúmulo de experiências e no empenho de gerações anteriores. Já disseram, e com muita razão, que só conseguimos olhar mais longe quando nos apoiamos nos ombros de gigantes.
Concluiremos esta reflexão com uma mensagem que se dirige tanto aos jovens quanto aos mais experientes. Aos primeiros, queremos dizer que depositamos neles nossas melhores expectativas, que admiramos muitíssimo sua capacidade de síntese e, por isso mesmo, os aconselhamos a interagir intensa e respeitosamente com as pessoas mais velhas, a fim de que ampliem referências e conhecimentos. Aos mais maduros, queremos dizer que jamais hostilizem os jovens, mas que se empenhem em compreendê-los, afinal, há muito que aprender com eles – suas ideias, muitas vezes, suscitam importantíssimas revisões de conceitos. Por fim, o que todas as gerações devem buscar para fortalecer-se mutuamente é um ponto de equilíbrio, que seja fundamentado no respeito e no amor, como nos enfatiza o Racionalismo Cristão.