Uma das expressões mais marcantes da contemporaneidade é a forte tendência ao individualismo. Dela resulta, em grande parte, a crise moral, econômica e civilizatória que vivenciamos atualmente. Essa crise se fundamenta no desprezo aos valores do espírito e na consequente dificuldade de vislumbrar no ser humano seu valor e dignidade. Há que reagir contra essa tendência.
A evolução da sociedade demonstra que os seres humanos buscam organizar-se em grupos. Fora dessas condições, costumavam viver em conflitos, perdendo tempo e despendendo energias vitais. A cooperação entre as pessoas e grupos torna-se necessária para que as forças se somem e para que as condições de desenvolvimento beneficiem todo o grupo. Se a análise superficial do conceito de cooperação já lhe indica um grande valor, ao estudá-la, no transcurso desta reflexão, pelo prisma da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão, sentir-nos-emos ainda mais atraídos por sua beleza e força de expansão.
Ao deixar de reconhecer o semelhante como uma extensão de si mesmo, a pessoa egoísta não percebe a necessidade do auxílio mútuo e da solidariedade no campo das relações intersubjetivas. Ao afastar-se do outro, negando-lhe auxílio, orientação e amparo, a pessoa, além de rechaçar a plenitude da própria personalidade, compromete o metabolismo da alma, experimentando um duplo prejuízo: em primeiro lugar, priva-se de desenvolver a enriquecedora virtude da abnegação, que, em grande parte das vezes, é de incalculável fecundidade; em segundo lugar, vivencia uma perda angustiante de sentido da vida, pois age em posição contrária à razão, à moral e à ética, valores que o impelem constantemente a relacionar-se e socializar-se, criando vínculos de cooperação e amizade. Sem dúvida, há uma reserva de afeto em todo ser humano, e este se sente frustrado e infeliz ao bloqueá-la.
Desenvolver o hábito de dar verdadeira importância à cooperação constitui um mecanismo fundamental para o crescimento ético-moral do ser humano e para a consolidação de laços de amizade e consideração.
A conduta ético-moral não diz respeito somente ao cumprimento dos compromissos materiais, a seguir irrefletidamente um feixe de regras ditadas pelas leis e normas ou pelos formalismos prescritos pelas circunstâncias. Sendo um instrumento eficaz de cooperação e intercâmbio entre comunidades, sua exteriorização deve ser espontânea e desinteressada, harmônica e integradora. Todo impulso de cooperação com o próximo deve ser espontâneo e sincero; seu valor consiste na simplicidade e, muitas vezes, no silêncio.
Para concluir, temos de admitir que, na atualidade, todos são afetados, direta ou indiretamente, pela vida em um mundo cujas fronteiras do que é certo ou errado se modificam em ritmo acelerado, desencadeando relações cada vez mais complexas. É nessa perspectiva que destacamos o valor insubstituível da família como unidade de intercâmbio e cooperação mútua, fundamentada em laços afetivos que, não raro, transcendem os vínculos da consanguinidade.
O amor pelo trabalho e pela liberdade, as noções de tolerância e de solidariedade e a consciência do próprio valor devem ser exteriorizados por meio da cooperação, da palavra amiga e, sobretudo, da irradiação afetuosa, cuja influência benéfica proporciona a consolidação de uma personalidade psíquica apta a enfrentar os desafios da vida com dignidade e altivez, mediante o amadurecimento e o crescimento moral, como nos recomenda o Racionalismo Cristão.
Muito Obrigado!