Crescimento espiritual dos filhos

A família é a primeira dimensão com que o ser humano tem contato neste planeta. É ela que, geralmente, lhe proporciona sustento, segurança e atenção. Contudo, para além da satisfação dessas necessidades mais imediatas, é imprescindível que pais e filhos reconheçam a natureza espiritual da relação existente entre eles e, sobretudo, que aqueles se conscientizem de sua responsabilidade no que se refere ao desenvolvimento ético, moral e espiritual destes.

No percurso de amadurecimento dos jovens, o apoio familiar é de máxima importância. Na presente reflexão procuraremos delinear de maneira sintética – porém integral – o papel da família no processo de crescimento espiritual dos filhos, como nos propõe o Racionalismo Cristão.

A intenção de tratar do valor da família no itinerário de crescimento espiritual dos jovens não foi aqui posta com o intuito de reproduzir clichês, mas de reafirmar que a relação entre pais e filhos não é comum, banal, simples, mas bastante complexa e por vezes dramática, ligando-se aos desafios da experiência humana e implicando, além de reciprocidade, amor sincero – aquela espécie de amor que não se mede com a escala dos interesses materiais.

O amor parental deve influir sobre o amor filial, e vice-versa: o amor dos filhos não pode deixar de impactar o amor dos pais. Saliente-se por oportuno que a relação familiar é marcada pela abnegação, e esta, por seu turno, exige renúncia – são essas virtudes, abnegação e renúncia, as colunas-mestras de toda relação de amor sincero.

Aos pais e responsáveis, não compete mandar arbitrariamente, mas influenciar positivamente, a fim de estimular o crescimento espiritual dos filhos por meio do diálogo e da cumplicidade. Dessa forma, não se deve confundir rigor com rigidez, nem se deve admitir a arbitrariedade, tendência que, infelizmente, ainda se mostra bastante acentuada na atualidade.

No processo de consolidação de laços afetivos e de confiança no seio familiar, é imprescindível que os mais maduros compreendam uma dupla realidade: primeiro, que muitas das atitudes do educando, que, em princípio, parecem exageradas, representam, na verdade, um clamor, uma necessidade de anunciar ao mundo que ele precisa encontrar seu espaço; segundo, que não se ensina eficazmente senão pelo exemplo.

Muitos pais e responsáveis, levados por compreensível preocupação em relação à formação dos filhos, fixam-se à ideia de que tudo o que está na internet ou na mídia é inadequado e ruim. É imprescindível desconstruir a ideia de que as múltiplas possibilidades de informação são essencialmente inapropriadas; com certeza, o que, além de inapropriado, é pernicioso é a indisciplina, o desamor, a ausência de diálogo, a falta de senso de prioridade e, sobretudo, a ausência, em casa, de exemplos que permitam às crianças e aos jovens absorver os conteúdos realmente interessantes, educativos, instrutivos e edificantes de que necessitam para formar o caráter e desenvolver os atributos e faculdades espirituais.

Os que, direta ou indiretamente, atacam a família caracterizam-se menos pelas ideias maléficas e mesquinhas que alimentam do que pela impossibilidade de conceber e aceitar que haja entre pais e filhos uma autêntica relação espiritual, que transcende a laços consanguíneos ou legais. É por essa razão que a família sofre ataques e influências negativas daqueles que, historicamente, por ignorância ou maldade, fecham-se à realidade espiritual que estrutura toda e qualquer relação familiar. Não haja dúvida: o maior inimigo das famílias é o desconhecimento sobre a transcendência, e seu melhor escudo, o esclarecimento espiritual.

É lícito que, a esta altura de nossa reflexão, muitos pais se perguntem e nos perguntem o que fazer para superar os inúmeros obstáculos que se interpõem em sua missão orientadora e fortalecedora dos filhos. Meus amigos, é o amor que vocês nutrem por seus filhos que veiculará respostas às questões que se lhes apresentem, permitindo-lhes superar muitas dificuldades. Alimentando-se diariamente desse amor e fortalecendo-se com ele, vocês serão capazes de alcançar o equilíbrio e a grandeza moral, tornando-se uma referência, um porto seguro para os que estão sob seus cuidados, quando estes se acharem eventualmente perdidos por conta dos delicados e complexos desafios que a vida continuamente nos apresenta.

De acordo com os princípios racionalistas cristãos que defendemos e divulgamos, nosso objetivo consistiu, ao longo desta reflexão, em tornar acessíveis a pais e filhos alguns importantes subsídios da visão integradora da espiritualidade, que constituirão para ambos um diferencial na edificação de uma vida feliz. Temos dito diversas vezes que defendemos uma educação de qualidade e o constante aprimoramento intelectual das crianças e jovens. Contudo, quando se negligencia o aspecto espiritual no processo de aquisição de conhecimentos e informações, a formação será sempre precária, e os educandos perderão em qualidade de vida e bem-estar. Portanto, não nos cansaremos de anunciar que a transmissão cotidiana dos valores da espiritualidade pelos pais permitirá aos filhos acelerar os passos na caminhada do aprimoramento espiritual, que conduz à felicidade e ao bem-estar.