Uma das grandes utilidades do estudo da espiritualidade no que se refere ao ser humano é a de iluminar sua capacidade crítica, para que este melhor interprete os fatos e fenômenos que vivencia cotidianamente. Nesse contexto, diante dos mais diversos conceitos, abordagens, ideias e propostas, o estudioso do Racionalismo Cristão, como cultor da verdade, tudo analisa com rigor, discernimento e profundo senso crítico.
A crítica escoimada de interesses mesquinhos, fundamentada na racionalidade e em princípios transcendentes possui considerável valor, pois representa uma das mais importantes dimensões do discernimento. Sem ela, todas as formas de conhecimento se equivaleriam, as reflexões levianas e descontextualizadas se nivelariam com as conclusões profundas e integradoras e os seres humanos muito dificilmente saberiam, por assim dizer, separar o joio do trigo.
A relação sustentável dos seres humanos com a sociedade que eles integram e com o momento histórico que vivenciam não pode prescindir de uma análise transcendente, que aponte o respeito para com o próximo como algo fundamental e irrenunciável, que anuncie a transitoriedade da vida como uma verdade indiscutível e que desperte no ser humano uma capacidade crítica que o torne imune a preconceitos e reducionismos.
A vivência cotidiana dos valores racionalistas cristãos mostra-se um caminho consistente, permitindo à pessoa, independentemente de sua idade ou condição socioeconômica, uma absorção integral da realidade, no sentido de buscar a razão dos fatos, ir à raiz dos acontecimentos e desvendar a causa dos fenômenos. Importa nesse processo de autoconhecimento não a crítica vazia de sentido, mas uma crítica racional que vise promover mudanças e transformações positivas.
Ao dedicar-se de antemão a uma vivência despojada de qualquer reflexão crítica, a pessoa assume uma atitude de alienação e ceticismo, tão preocupante como a daqueles que se cobram excessivamente. Não nos esqueçamos: a virtude está no meio termo. Não há dúvida de que, mantendo-se equilibrado, o ser humano estará em melhores condições de efetuar uma autoanálise, sem exageros e sem afetações, sabendo, assim, interpretar as circunstâncias que o envolvem com lucidez e disposição para o aprendizado contínuo.
A denominada crítica destrutiva – que nós preferimos chamar de crítica estéril, pois não produz nada de positivo – não estimula boas reflexões nem revisões conceituais. Quase sempre, é produzida pelo indivíduo materialista e preconceituoso, que projeta nas outras pessoas as frustrações de que é portador.
Ao nos depararmos com a avalanche de informações contraditórias que o mundo apresenta, como poderemos filtrar o verdadeiro do falso, o absoluto do relativo? Com quais argumentos nos defenderemos das meias-verdades revestidas com roupagens partidárias, subordinadas a interesses inadequados ou permeadas por uma linguagem obscura? A resposta é simples: adotando uma postura crítica em conformidade com as concepções filosófico-espiritualistas divulgadas pelo Racionalismo Cristão. Concluímos reforçando a ideia de que a crítica pode ser uma dimensão privilegiada do discernimento e expressão viva da racionalidade, desde que iluminada e guiada pela espiritualidade.