A sociedade como um todo se encontra em um processo de profunda revisão de conceitos. Temos abordado detalhadamente esse tema ao longo de nossas alocuções, artigos e encontros, com vistas a reforçar a importância da serenidade, do desenvolvimento das faculdades, da disciplina no viver e das relações familiares. Hoje, contudo, nosso pensamento e atenção se voltam de modo mais específico aos idosos. É imperioso que seja assim, porque eles têm muito a nos ensinar.
Procuramos fornecer subsídios coerentes que ensejem o entendimento e a recordação de quão importante é o cuidado dos mais velhos – nossos pais, avós e tantos mais a que pudermos prestar nosso auxílio. O desenvolvimento dessa consciência assume excepcional relevo no que concerne ao desenvolvimento das relações entre as gerações não somente no âmbito da família, mas em todo o tecido social.
No mundo globalizado em que estamos inseridos, é fácil perceber, a partir da observação da realidade que nos envolve, a inegável interdependência dos acontecimentos nas esferas ambiental, política, social, tecnológica e humana.
No campo da busca por um estímulo ao respeito e ao cuidado cada vez maiores em relação aos anciãos, surge a fundamental necessidade de mudança da atitude interior, que passa por uma expressão de sincero reconhecimento e por um senso de gratidão. Devemos olhar para nossos idosos com extremo respeito e reverência, pois é a eles que as famílias devem, muitas vezes, a própria existência. Aqueles que hoje felizmente gozam de educação e cultura, lembrem-se de que tal condição custou a seus pais e avós um trabalho árduo e, não raro, indizíveis privações e sofrimentos.
A expressão dinâmica da vida atualmente imprime na consciência humana a indelegável missão de aprendizado constante. Nesse particular, nossos idosos nos oferecem uma dupla possibilidade de crescimento: por um lado, podem nos ensinar eficazmente por meio da transmissão da sabedoria que acumularam no transcurso da vida; por outro lado, quando impossibilitados de se exprimir com lucidez e completamente dependentes, facultam-nos uma atitude reflexiva, que culmina no despojamento de nossas tolas pretensões e vaidades e nos ajuda a ser mais humanos e compreensivos. Tal possibilidade se verifica em várias ocasiões: seja quando lhes prestamos auxílio em tarefas mais simples, seja quando nos sujeitamos a cuidados mais complexos. Em todo caso, aprendemos sobre a transitoriedade da vida e a necessidade que temos uns dos outros.
Vejam amigos que, quando falamos em aprendizado em nossas palestras e alocuções, não pretendemos limitá-lo à esfera acadêmica – importantíssima, sem dúvida, mas insuficiente para o desenvolvimento integral do ser humano, que deve buscar em si próprio, na convivência com os semelhantes e na sabedoria dos mais experientes os subsídios para que possa despertar para a espiritualidade autêntica, pois é uma fonte de conhecimento.
Uma das mais relevantes constatações que os novos tempos nos trazem é a de que os seres humanos alcançaram na atualidade um nível de longevidade incomparavelmente maior que o dos últimos séculos. Tal fato impele a reavaliação da representatividade do ancião no contexto social. Os idosos assumem um protagonismo especial na atualidade, e a consolidação desse conceito principia pelo respeito, afeto e valorização do idoso em nossas famílias, de modo que é moralmente necessário repelir com vigor e energia todo impulso ao desprezo de quem tanto contribuiu e ainda tem a contribuir para o desenvolvimento do gênero humano.
Sendo um imperativo da ética espiritualista o respeito à vida humana em todas as suas etapas, com muito mais razão deve tal respeito ser dirigido com notável intensidade aos que se encontram na fase da velhice.
Em um de seus principais escritos, Platão nos mostra passagens em que Sócrates faz referências ao envelhecimento, inculcando o conceito de que, para os seres humanos previdentes e bem preparados, a velhice não constitui um fardo. Platão, por seu turno, sustenta que a velhice faz surgir nos seres humanos um profundo senso de paz e libertação. Cícero também foi um otimista em relação à velhice: para este filósofo, a arte de envelhecer consiste em descobrir a satisfação que todas as idades proporcionam, pois todas têm suas virtudes. O pensamento de Confúcio, que não é religioso, assevera que o amor e o cuidado dos pais idosos por parte dos filhos constitui uma excelsa manifestação de apreço à humanidade.
Ficou demonstrado que, para incontáveis pensadores, a velhice tem um valor singular. Para o racionalista cristão, esse valor é majorado, porque este tem a consciência de que amparando afetuosamente o idoso, além de se exprimir uma atitude de alto valor ético, avança-se consideravelmente na senda do próprio aperfeiçoamento espiritual.
Muito Obrigado!