De novo as fantasias, lá vem o tum-tum-perequeté

Os surdos, de marcação e resposta, sustentam o ritmo. Entra o de terceira, que auxilia a marcação e valoriza a cadência. O naipe de tamborins explora o sincopado e estimula os requebros dos sambistas e, principalmente, das sambistas. Com esses vêm os repiques, as caixas de guerra, os reco-recos, pandeiros e cuícas. Como cantou o Império Serrano em 1982, no desfile vencedor na Marquês de Sapucaí, “com lindas baianas, o samba ficou assim”. Não foram só as baianas, mas também as passistas e as rainhas de bateria. Que presenças! Não dá para lembrar como eram os desfiles das escolas de samba quando ainda não havia sido adotada a participação imprescindível da rainha de bateria, mas é verdadeiro o dito “quem não conhece não sente falta”. Agora, que conhecemos, vemos a falta que fazia. Pronto, se não chegamos ao período carnavalesco oficial, ao menos com esse batuque e essas moças abençoadas pela natureza entramos no clima.

Só o necessário. No título deste blablablá está aconselhada a preparação da fantasia. Para quê? Calção de banho para eles e biquíni para elas resolvem o problema. O traje pode ser complementado com boné para elas e bandana para eles. As mais recatadas acrescentam óculos para não se sentirem peladas. As moderninhas ou ousadas dispensam o acessório. As jurássicas preferem o shortinho discreto e o bustiê top. Os safadinhos exibem tanquinho coberto de tatuagens e nos braços e pernas o efeito dos aparelhos da academia.

Os enfeites de vidrilhos e missangas caíram em desuso já há muito. Os piratas implodiram, vê-se uma ou outra havaiana. Quem vai desfilar numa escola de samba não tem que se preocupar com fantasia, porque nos barracões o trabalho segue ininterrupto o ano inteiro para aprontar e entregar a tempo todos os figurinos. O folião o recebe pertinho do carnaval sem precisar desembolsar um centavo, porque já o terá pago ao longo de alguns meses. A prática é adotada pelas diretorias de todas as agremiações carnavalescas. Alguns blocos vendem abadás pela internet.

O carnaval de 2025, no Rio de Janeiro, será nos dias 2, 3 e 4 de março. No dia 5, a Quarta-feira de Cinzas, data que no calendário religioso símboliza momento para reflexão, recordando a passageira, transitória e efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte física. Será feriado estadual no dia 4 de março e ponto facultativo nos dias 3 e 5.

Mais ingressos, mais faturamento. Pela primeira vez as agremiações da elite do carnaval do Rio se apresentarão em três noites. Até 1983, o Grupo Especial desfilava apenas no domingo e, de 1984 a 2024, os desfiles aconteceram no domingo e segunda-feira.

As escolas de samba do Grupo de Acesso vão desfilar nos dias 28 de fevereiro e 1º de março, e as do Grupo Especial nos dias 2, 3 e 4 de março, domingo, segunda e terça-feira Gorda, na seguinte ordem:

l Domingo – Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Unidos do Viradouro e Estação Primeira de Mangueira.

l Segunda-feira – Unidos da Tijuca, Beija-Flor de Nilópolis, Acadêmicos do Salgueiro e Unidos de Vila Isabel.

l Terça-feira – Mocidade Independente de Padre Miguel, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Grande Rio e Portela.

O desfile das campeãs será no dia 8 de março.

Velhos e novos blocos. O Cacique de Ramos já não arrebata multidões como nos anos 70; o Bafo da Onça praticamente renasce das cinzas em busca de seus dias de glória, quando mantinha saudável rivalidade com o Cacique de Ramos; e o Boêmios de Irajá, terceira força entre os blocos de embalo, vem tentando manter seu espaço físico que a paranoia do governador do Estado do Rio de Janeiro quer tomar.

Os blocos inspirados na Banda de Ipanema, fenômeno carnavalesco que despontou em 1965, cresceram, alguns com repertório musical próprio, com seus nomes simpáticos e debochados, como requer o carnaval. Por exemplo: Sovaco do Cristo, Imprensa que eu gamo, As Carmelitas. As autoridades encarregadas de organizar os desfiles tentam, mas não conseguem, disciplinar os blocos, a cada ano com maior número de participantes, mais “volumosos” e mais extensos. No máximo fazem cumprirem o itinerário estabelecido.

Blocos menores de carnaval de rua, chamados de sujos, que alegravam as crianças, foram esfacelados pela presença incontida da violência. Resta o carnaval de salão, em clubes privados ou de venda de ingresso a quem quiser e puder pagar. Esses lançam até à rua o som da orquestra, executando o clássico Cidade Maravilhosa e dobrando sambas e marchinhas de carnavais passados. Eventualmente um samba-enredo. Entram aí as marchas-rancho. Quem não se lembra de Máscara Negra, criação de Zé Keti e memorável interpretação de Dalva de Oliveira, e de Primeiro Clarim, de Klécius Caldas, defendido por Dircinha Batista? E das criações de Braguinha e João Roberto Kelly? E dos sucessos nas vozes de Ângela Maria, Emilinha Borba, Jorge Goulart? Eram músicas que os foliões cantavam nas ruas, estimulados pelos alto-falantes instalados nos coretos. Coretos? Já não existem mais, isso é passado remoto.

As orquestras que animam os bailes de carnaval nos clubes introduziram o funk, com razoável aceitação, mas a preferência é pela memória carnavalesca. Nessa área a modernidade ainda não emplacou totalmente. Pode passar como passou a ameaça da discoteca.

Álcool engana a alegria. Alguns conselhos: aproveite ao máximo a festa profana, mas não esqueça: esteja o tempo todo prevenido com preservativos, para evitar surpresas resultantes dos namoros rápidos e fortuitos com parceiros ou parceiras que poderão jamais ser reencontrados. O transmissor se perde na multidão e a AIDS fica. É de máxima importância, também, manter-se bem alimentado e, principalmente, bem hidratado: muito água, abacaxi, melancia e água de coco. Quando o corpo pede uma pausa, é hora da loura gelada. Xi! Fuja disso. A agradável sensação do líquido refrescante é quase um veneno, porque bebidas alcoólicas intensificam a perda de líquidos. Associado ao aumento da transpiração, o consumo de bebida alcoólica é receita para a desidratação: quanto maior o teor alcoólico da bebida, pior o quadro. Confira na internet. Afora os transtornos individuais e a terceiros que o alcoolismo provoca.

Pega ladrão. Lembre-se que a ocasião faz o ladrão, daí muito cuidado com a carteira de dinheiro e o celular. Nada de joias. Correntinhas de ouro e relógio de pulso devem ficar em casa. Não reaja a provocações, evite confusão. Não vale a pena ficar no hospital consertando estragos na pele ou mais profundos, enquanto lá fora rola um tum-tum-perequeté de respeito.

Se você não gosta de carnaval, existem como opções os retiros espirituais ou a permanência dentro de casa, com o aparelho de TV desligado. Para passar o tempo, coma uns salgadinhos com refrigerante. Passado o período festivo, você não se terá contaminado com a festa da carne, seu olhar se terá mantido imaculado, longe de cenas que ele poderia reprovar, e a senhora, madame, terá engordado alguns quilinhos que exigirão meses para ser compensados. Então, vale o sacrifício de resistir à alegria que dominará o Brasil? (JBA)