Desenvolvimento consciente dos atributos espirituais

Na visão dos estudos dos conceitos e princípios defendidos pelo Racionalismo Cristão, é possível sustentar uma série de razões para que se dê particular atenção ao desenvolvimento consciente dos atributos espirituais, ou seja, dos recursos internos inatos de que todos, indistintamente, são portadores. Essas razões, de maneira ampla, decorrem da percepção da necessidade humana de superar os desafios que a vida não cessa de oferecer, bem como da legítima aspiração de autoaperfeiçoar-se, residente no íntimo de cada um de nós. Refletiremos sobre essas questões neste artigo.

É evidente que o ser humano, desde que toma consciência de si, vislumbra, ao longo de sua trajetória, problemas os mais intrincados, de modo que seria absurdo pensar, considerando-se a organização e a ordenação do Universo, que ele não dispõe dos instrumentos internos necessários para enfrentar as mais desafiadoras circunstâncias. A consciência da existência e do valor dos atributos espirituais surge, portanto, de uma dedução lógica e intuitiva, que não requer esforços interpretativos de textos filosóficos ou uma inteligência altamente desenvolvida.

A conclusão estabelecida nos parágrafos anteriores conduz a questionamentos acerca das razões para o consciente desenvolvimento dos atributos espirituais, do modo como esse desenvolvimento encontra viabilidade na sociedade contemporânea e de quais são os contornos que ele pode assumir na vida de cada um. A premissa que responde a tais questionamentos se consubstancia no ato de reconhecer o imensurável valor desse conjunto harmônico e poderoso de possibilidades, denominado em nosso contexto filosófico-espiritualista de atributos espirituais. O desafio que surge em ato contínuo é alcançar o equilíbrio e o desenvolvimento tanto quanto possível simultaneamente desses atributos, na dinâmica da vida cotidiana e na constância das atividades mais comuns.

A questão dos atributos espirituais – enfatiza o Racionalismo Cristão – se relaciona, de certa forma, com a sobrevivência digna do ser humano neste planeta de escolaridade. É sobretudo uma questão de ordem prática, e não teórica ou especulativa.

Em uma época em que as pessoas buscam refúgio em redes sociais, no uso de psicotrópicos, em relacionamentos nem sempre saudáveis ou em entretenimentos nocivos ao equilíbrio emocional, tratar do tema dos atributos espirituais – autêntico tesouro interno de ser humano – é uma atitude de excepcional relevância. Valorizemo-la, portanto.

Em âmbito particular, para bem compreender a importância do assunto, cabe ao ser humano se perguntar qual é o nível de protagonismo que ele pretende assumir em relação à condução de sua própria vida. Interessa apontar o que ele espera de si mesmo e qual é seu papel no mundo.

É a determinação do que a pessoa concebe como uma existência digna e produtiva que ensejará a maior ou menor compreensão da magnitude dos atributos espirituais. Sem uma referência criteriosa e transcendente sobre a função e o sentido da vida, todos os conceitos relacionados às potencialidades espirituais ficam destituídos de substância. À parte a indiferença dos materialistas em relação ao tema que ora tratamos, justificada, de certa forma, pela cultura do consumo, que absorve a sociedade atual, fato é que o desenvolvimento consciente dos talentos intrínsecos oferece soluções para os problemas humanos, independentemente do contexto histórico.

Os altos índices de desequilíbrio psíquico, constatados nos mais diversos contextos sociais e em diferentes países, evidenciam a pouca atenção dada pelas pessoas e pela coletividade às questões espirituais, sobretudo aos recursos internos que – reiteramos – todos possuímos. O peso do materialismo reinante dá, hoje mais do que nunca, mostras de sua negatividade e lesividade, do qual depreendemos que urge evidenciarmos os valores do espírito como um potente farol a iluminar as necessidades e as consciências humanas.

Se o que se espera do ser humano nos tempos atuais é responsabilidade social e ecológica, bom senso, ética, solidariedade, empatia e respeito à diversidade, não há como não apontar os instrumentos que proporcionam a conquista de tão altos objetivos. Esperamos estar cumprido tal desiderato na presente reflexão.

É oportuno indagarmos: como poderá a pessoa obter o aperfeiçoamento ético-espiritual sem o desenvolvimento da inteligência, do raciocínio, da criatividade, da consciência de si mesmo, da espontaneidade e do respeito? Não poderá.

O conjunto dos atributos anteriormente mencionados, diga-se já, é apenas para exemplificar, visto que o número de atributos espirituais é imenso. Contudo, o conjunto de capacidades intrínsecas ali referenciadas representa a expressão do que se pode reconhecer como valores humanos fundamentais para a superação das mais dramáticas circunstâncias. É dentro desse contexto que vimos explicando, com crescente ênfase e frequência no Racionalismo Cristão, que os mais legítimos objetivos de cada um podem e devem ser alcançados – não com o concurso de elementos externos à pessoa, mas a partir de sua essência, que está em seu interior, ou seja, em sua alma.