Os desafios se apresentam de forma constante na vida de todos os seres humanos. A existência neste planeta é inexoravelmente marcada por inúmeros começos e recomeços; é, portanto, inevitável que nessas ocasiões as dificuldades e os reveses façam parte da trajetória humana.
Não raro, ouve-se dizer que a vida consiste em uma luta constante. Tal enunciado surge periodicamente e com diferentes formulações, mesmo entre aqueles que consideram, em suas análises, o lado transcendente da vida. Com efeito, o progredir na vivência espiritualista exige não somente uma visão panorâmica do mundo exterior, mas sobretudo um impulso à interiorização.
Assim, ao olhar para dentro de si, mantendo-se calmo e equilibrado, o ser humano encontrará os recursos iniciais para enfrentar condignamente problemas e obstáculos, afastando-se de crenças irrefletidas e preconceitos descabidos. Na verdade, a autêntica interioridade não é essencialmente uma prática meditativa, mas se funda no raciocínio lúcido e na força de vontade direcionada para o bem, pilares seguros para a manutenção da segurança e da harmonia em qualquer situação.
É profundamente significativa a capacidade que o ser humano possui de reinventar-se. Nesse processo, é imperioso que haja a compreensão do correto sentido das adversidades, que jamais devem ser tomadas como punições ou castigos impostos. Com tal reflexão, o indivíduo terá sua consciência iluminada e poderá concentrar suas energias no presente, do qual depende seu futuro, reconciliando-se consigo mesmo e preservando-se humilde e fortalecido.
Sabemos que atualmente, em termos globais, paira no ar uma epidemia de ideias trágicas, que a muitos amedronta, adoece, aflige e inquieta. Os olhares são temerosos e os passos inseguros, como quando se anda às cegas por um caminho desconhecido. “Qual a causa de tal situação”? Entendemos que o ser humano, tão afastado da espiritualidade e tão arraigado na materialidade, vê a convicção em seu valor e a capacidade de abranger o transcendente esmorecidas. É precisamente por essa razão que se deve voltar para si mesmo, pois ao perscrutar a natureza de sua essência contemplará, por via de consequência, o Todo Universal e receberá o influxo de sua energia.
A pessoa que, mesmo em ocasiões de grande decepção, infortúnio e desespero, se mantém confiante e certa da transitoriedade dos fatos e fenômenos relativos à realidade física demostra que é capaz de assimilar as lições que residem por trás dos reveses. Com efeito, quando o ser humano se encontra em situação difícil, quando é pungido pela dor, percebe o quanto a vivência materializada é vazia de sentidos e de afetividade; em tais ocasiões, passa a compreender que, fora de uma experiência de vida pautada no amor ao próximo, no respeito, na tolerância e na solidariedade, não poderá fazer virem à tona suas qualidades e atributos.
Ao agir com sinceridade e honestidade, ao entregar-se de corpo e alma às disciplinas construtivas da vida sem jamais se achar superior a seus semelhantes, ao repelir, com todo empenho, aquilo que impede seu progresso moral, o ser humano estará dando mostras de maturidade e de disposição em edificar uma nova fase de vida, que certamente há de ser próspera e frutuosa. Por outro lado, o indivíduo preguiçoso, indolente e indisciplinado, que despreza seus inestimáveis recursos interiores, tem seu pensamento mais afeiçoado aos desejos e vícios a que se inclina que à vontade de tornar-se equilibrado, paciente e honrado, e de gozar de uma paz imperturbável advinda da consciência de ter cumprido bem seus compromissos.
Sem conceber a vida como uma oportunidade de crescimento, o indivíduo não conseguirá compreender a humanidade no que ela tem de mais valioso: a diversidade e a fraternidade, que enlaçam as pessoas e as aproximam de sua essência.
Importa, portanto, dizer sim à vida, compreendendo seus desafios e adversidades, buscando aprender com eles e alegrando-se com a relativa felicidade alcançada quando se age com generosidade, quando se evitam as atitudes interesseiras, limitadas e empecidas, quando se tem disposição férrea de elevar ao domínio da espiritualidade a razão e o entendimento, uma vez que somente a par dos valores da transcendência e em conexão com eles pode a vida florescer e prosperar.
A abertura para a espiritualidade autêntica divulgada e defendida pelo Racionalismo Cristão permite à inteligência humana a imediata percepção da importância de uma conduta lapidar, da virtude de empregar a palavra de forma amena e oportuna, de um estilo de vida reflexivo e ao mesmo tempo dinâmico, que seja otimista e digno. Essas atitudes minimizam, quando não apagam, a presença e o relevo do sofrimento, do drama e da dor.
A espiritualidade a que aludimos não significa evasão da realidade, mas interiorização. É penetrando cada vez mais fundo dentro de nós mesmos que entramos em contato com a autêntica espiritualidade. Quando temos a coragem de reconhecer que a maioria dos insucessos que vivenciamos se dá por conta de nossos erros e escolhas inadequadas, elevamo-nos espiritualmente. Aquele que almeja reerguer-se e recomeçar na vida deve, em primeiro lugar, abandonar todo impulso à vitimização.
Vale a pena ressaltar que a perseverança, sustentada pela humildade e pela abertura ao aprendizado contínuo, é uma bela e eloquente demonstração da inabalável convicção de que os desafios e dramas, adversidades e contrariedades representam, no mais das vezes, a mola propulsora do desenvolvimento humano. A pessoa que persevera alimentada por essa convicção desenvolve, a cada embaraço que experimenta e na medida do possível, seus atributos e faculdades, compreendendo que da ininterrupta ampliação e atualização de suas potencialidades dependem, em grande parte, sua felicidade e sucesso.
Boa Leitura!