Se levarmos em conta que o ser humano é, essencialmente, um ser espiritual, concluiremos que a vontade humana alcança os mais legítimos anseios quando a pessoa se abre à espiritualidade. Não há dúvida de que a ideia de vontade possui íntima ligação com o conceito de dinamismo, uma vez que ela é exteriorizada em atitudes. Contudo, a vontade voltada aos valores espirituais defendidos pelo Racionalismo Cristão gera um dinamismo que se distingue dos demais. É justamente este que procuraremos analisar na presente reflexão.
As aspirações de uma pessoa alcançam especial relevo quando ela vivencia cotidianamente os valores da transcendência. Tal dinamismo é deveras libertador e promove, por conseguinte, um bem-estar duradouro e estável, tão harmônico e salutar que somos levados a asseverar que o ser humano que intenciona afastar-se da realidade transcendente, negando a própria essência para aderir aos impulsos e reclames materiais, comete um ato de total insensatez.
É imprescindível que se ressalte, desde já, que a entrega consciente e voluntária aos valores do espírito, traduzida em gestos de amor ao próximo, desapego, altruísmo, empatia e solidariedade, de modo algum significa supressão do livre-arbítrio. Dá-se, na verdade, o contrário: tal entrega, sublime e virtuosa, procede de um ato de verdadeira liberdade.
A aplicação incondicional e irrestrita dos talentos e faculdades humanas para a ampliação das manifestações do espírito, para o aprimoramento do caráter e para a consolidação dos laços afetivos jamais simboliza cerceamento da vontade, senão a manifestação pura de uma vontade pujante e viva, correspondente às mais legítimas aspirações do ser humano.
À luz do que dissemos até aqui, entende-se bem o porquê do indivíduo materialista não conseguir alcançar a tão almejada paz de espírito, que é o fundamento e o alicerce da verdadeira felicidade. Contudo, toda vez que a pessoa procura nas ilusões da matéria pelos embriões da felicidade, frustra-se e tem seu tempo desperdiçado. De fato, ninguém personifica a incerteza e o desperdício de tempo melhor que o materialista, cuja existência se desenvolve no contexto de um dinamismo obscuro, diametralmente oposto ao que queremos realçar na presente reflexão.
O dinamismo que conduz à plenitude dos valores do espírito não admite a covardia. O indivíduo medroso, quando se depara com mensagens verdadeiras e elevadas, detém-se por um momento, pensa em mudar de comportamento, cogita a hipótese de abandonar os fracassos próprios de quem não persevera, ensaia o passo para caminhar pela estrada do crescimento espiritual; contudo, não raras vezes, retrai-se ante a primeira dificuldade, retornando ao pedregoso caminho do insucesso.
É preciso salientar que o esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão é pressuposto das atitudes elevadas, generosas, frutuosas e dignas. Sem elas, torna-se difícil – para não dizer impossível – reconhecer a verdadeira dinâmica da vida.
Manter o foco na realização das melhores iniciativas é assumir, de forma constante e tenaz, a humilde atitude de reconhecimento de que o que faz a vida valer a pena é o empenho sincero em conquistar e ampliar tesouros espirituais, sem os quais a pessoa tende a quedar-se frustrada, transferindo a responsabilidade de seus insucessos a um conjunto de circunstâncias tão complexo quanto fantasioso.