Dúplice exigência

Diante das profundas transformações comportamentais e sociais ocorridas nos últimos anos, fruto da evolução contínua das ideias, é necessário ampliar conhecimentos, atualizar conceitos e vivenciar mais atentamente princípios que asseguram fortaleza e autonomia ao espírito. Nesse sentido, analisaremos, na presente reflexão, a dúplice exigência que se impõe a todos os que buscam esclarecer-se espiritualmente ou consolidar a lucidez espiritual conquistada: o desenvolvimento de uma visão ampliada do mundo e a vontade dirigida ao autoconhecimento.

O desenvolvimento ético-espiritual exige não apenas uma visão ampliada da realidade que nos circunda, mas acima de tudo a sincera disposição para a interiorização e para o autoconhecimento. A vida se apresenta de múltiplas formas e pródiga de desafios e fatos surpreendentes, e é em meio a tal profusão de possibilidades que o ser humano deve buscar o sentido da própria existência. Cabe a cada um olhar para dentro de si e reconhecer o tesouro interno que possui na forma de atributos e faculdades espirituais, a fim de superar adversidades e reveses e construir permanentemente a própria felicidade sem se deixar enfraquecer, apesar dos incontáveis embates a que está sujeito neste planeta de aprendizado, como nos enfatiza o Racionalismo Cristão

Há que considerar que as diferenças de formações, interesses e prioridades entre as pessoas sobressaem também na ocasião de analisar os fundamentos e as causas dos desafios e das adversidades. Contudo, não é razoável que essa análise se restrinja aos aspectos materiais da vida. Com certeza, o estudo criterioso e sincero da espiritualidade conclama o ser humano para reformular conceitos e paradigmas e, sobretudo, extrair de si mesmo as ideias para seus projetos e as soluções para eventuais contratempos.

Não raro, projeta-se para fora da realidade, eximindo-se de responsabilidades inerentes, quem permanece no plano puramente teórico dos conceitos abstratos ou quem acredita existir apenas aquilo que é perceptível pelos sentidos físicos. Trata-se de concepções antagônicas, mas que no fundo representam uma mesma coisa: a fuga da realidade. Nesse sentido, é imperioso reafirmarmos que o ser humano reúne duas dimensões distintas e complementares – o espírito e a matéria – e que ele se desenvolve quando, em meio às circunstâncias materiais e físicas que o envolvem, encontra tempo para conhecer melhor sua essência espiritual, o que contribui para o bom uso de suas potencialidades e a harmonia de seus ideais.

É evidente que o estudioso da transcendência, embora não seja de todo indiferente à satisfação ligada ao sucesso nos empreendimentos e à projeção social, deseja, acima de tudo, crescer espiritualmente por meio do autoconhecimento e estabelecer vínculos cada vez mais fortes com os valores imperecíveis da transcendência, que são, a um só tempo, fontes permanentes de satisfação e fortalecimento, faróis que fomentam a ampliação do horizonte existencial, tão bem evidenciados pelo Racionalismo Cristão, nossa filosofia de vida.

O materialista contumaz, detentor de doentia vaidade, à semelhança de uma criança mimada e egoísta que não suporta ser contrariada, desenvolve desinteligente mau humor e singular arrogância sempre que as coisas não correm à medida de seus desejos, incorporando, não poucas vezes, costumes indignos e práticas inadequadas, que o afastam cada vez mais, embora ele não o perceba, de seus reais objetivos. Contrariamente, o ser humano esclarecido espiritualmente, inclinado ao autoconhecimento e à ampliação de perspectivas, frente às eventuais decepções que vivencia, reage com paciência e lucidez, buscando extrair as lições relacionadas ao fato, pela excelente razão de que todas as circunstâncias traumáticas trazem em si valiosas lições.

Na presente reflexão procuramos sintetizar a essência dos principais objetivos da pessoa espiritualizada, que aprendeu que a realidade não se limita ao que é perceptível pelos sentidos físicos e que a vida, em última análise, representa uma magna oportunidade de crescimento espiritual. Debruçado sobre os problemas e desafios humanos, relacionados às manifestações individuais e ao dinamismo próprio da vida, o estudioso da transcendência busca incessantemente por subsídios que promovam e potencializem seus conhecimentos, encontrando-os em abundância no contexto dos estudos proporcionados pelo Racionalismo Cristão.

O desenvolvimento de uma visão ampliada do mundo e a vontade dirigida ao autoconhecimento são as balizas que permitem que o ser humano assista aos movimentos da vida com consciência de si mesmo, e não como uma pessoa alienada que observa passivamente o desenrolar dos fatos que se lhe põem diante dos olhos. Nesse sentido, esperamos sinceramente que esta reflexão estimule o querido amigo ou a querida amiga à absorção e à prática dos princípios racionalistas cristãos que são libertadores e encorajadores, que a fundamentaram.