O silêncio e a moderação são elementos fundamentais e insubstituíveis para a construção da paz, tanto em âmbito pessoal quanto em âmbito coletivo. Tal afirmativa assume excepcional relevo na atualidade, tendo em vista as pretensões temerárias de algumas pessoas, grupos e correntes de pensamento que, sem critérios racionais, buscam prejudicar a tranquilidade dos semelhantes e desorganizar a sociedade como um todo. Sob essa perspectiva, não podemos deixar de valorizar o esclarecimento espiritual que nos proporciona o Racionalismo Cristão e as virtudes a ele relacionadas – em particular, o silêncio e a moderação, aos quais dedicamos o presente artigo.
Escolhas inadequadas. Muitas pessoas, buscando integrar-se a determinados costumes contemporâneos, seja por receio de ser desprezadas pelo grupo social a que pertencem ou pretendem pertencer, seja por imaturidade ou falta de personalidade, descuidam da necessidade de silêncio e moderação em sua vida, ignorando a dignidade de tais virtudes e dos positivos resultados de seu cultivo. Consequentemente, mais hoje, mais amanhã, vivenciarão o desespero da falta de sentido, a solidão, a intranquilidade emocional e, por fim, o desequilíbrio psíquico.
O estudioso do Racionalismo Cristão, consciente de suas potencialidades e responsabilidades, ao se debruçar sobre o tumultuado e confuso cenário da vida moderna, que está interpenetrado pela opressão do materialismo, deve valorizar cada vez mais os momentos de silêncio e as condutas fundamentadas na moderação. Não deve, contudo, isolar-se da realidade, escondendo-se em “trincheiras” que o afastem do mundo; na verdade, é em meio à agitação da vida que ele tem de demonstrar coragem e disciplina e ser compenetrado, moderado, enfim, virtuoso.
Há que compreender – ressaltamos – que a ampliação e o desenvolvimento dos atributos espirituais não dispensam, de forma alguma, a introspecção, o recolhimento, a silenciosa e criteriosa avaliação dos pensamentos emitidos e dos sentimentos alimentados, e o uso cuidadoso e moderado das próprias energias.
A perseverança em cultivar as virtudes do silêncio e da moderação com vista à ampliação do caráter possibilita ao ser humano a edificação de uma vida plena de afetividade fraternal, disciplina racional e vigor espiritual. Com certeza, é agindo de maneira moderada e refletida que a pessoa abre espaço em sua existência para o encontro consigo mesma, e é graças a esse encontro que ela consegue alcançar a consciência de suas potencialidades e manejá-las em favor próprio e de seu semelhante, que enxerga como uma extensão de si mesmo.
Partindo da consciência de que o esclarecimento espiritual é absolutamente imprescindível na vida do ser humano, a experiência do silêncio e da moderação passa a gerar frutos que refletem e se irradiam a toda a coletividade, consolidando o compromisso de fraternidade, que distingue a pessoa espiritualizada e qualifica de modo especial seu estilo de vida, suas ideais e suas metas.
Realismo. O realismo característico do estudo da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão sugere àqueles que padecem de excessiva cobrança interior que acrescentem duas palavras ao dicionário de sua vida: moderação e silêncio. Tais virtudes nos impedem o ataque da autocobrança e o esgotamento das energias psíquicas. A moderação nos restaura as forças, impelindo-nos a seguir confiantes em nosso caminho de desenvolvimento e encontro com o próximo; o silêncio, por seu turno, nos facilita a meditação e a higiene mental, cujo valor dispensa maiores desdobramentos. O presente artigo, amigos, não é um mero convite ao silêncio e à moderação, mas um estudo sobre a necessidade imperiosa e universal de esclarecimento espiritual, que se alcança, amplia e consolida por meio de tais virtudes.
Nessa perspectiva de renovado e ampliado entendimento acerca do silêncio e da moderação, concluímos a presente análise, com a certeza de que aqueles que pautam seu viver nos ensinamentos do Racionalismo Cristão e buscam ser os protagonistas da própria existência cultivam com progressivo empenho e intensidade não somente as virtudes aqui mencionadas, mas todas aquelas que, tantas vezes citadas e desdobradas em nossos estudos filosófico-espiritualistas, enriquecem a vida de maneira concreta, fortalecem os relacionamentos e se alinham plenamente à missão de autodesenvolvimento comum a todos os seres humanos.