Era uma vez um filósofo e sua ‘obra monumental’

Ao se espalhar pela Europa, a partir da França, o  Iluminismo chegaria também à Alemanha. Nesse país, recebeu o nome de “Aufklärung“ (tradução de Iluminismo) e teve como principal representante o filósofo Emanuel Kant, um dos maiores pensadores de todos os tempos, com seguidores do porte de Fichte, Hegel, Schelling e Schopenhauer.

       Filho de Johann Georg Kant, fabricante de arreios para cavalgaduras, e de Anna Regina Kant, Emanuel Kant nasceu em 22 de abril de 1724, na cidade de Köenigsberg, onde sempre morou e de onde nunca se ausentou.          

       Köenigsberg era uma cidade da Prússia Oriental, território que na época fazia parte do Império Alemão e que hoje está dividido entre a Polônia, a Lituânia e a Rússia.       

       Kant era um homem metódico, de vida modesta e de saúde frágil. Na adolescência estudou num colégio protestante e em 1740 ingressou na Universidade de Königsberg.

       Porém com a morte do pai, em 1746, deixou o estabelecimento de ensino, ao qual, finalmente, retornaria  em 1755, para concluir seus estudos, conseguir obter a licença para ensinar e vincular-se à Universidade, na qual também assumiria, em 1770, a Cátedra de Lógica e Metafísica.

       Quase 80. Ao morrer em 12 de fevereiro de 1804, faltavam a Kant apenas dois meses e dez dias para ele comemorar seu octogésimo aniversário. Na Europa de então, ainda não era comum alguém chegar aos 80 anos ou aos quase 80 vividos pelo grande filósofo. A expectativa de vida na Europa, no tempo de Kant, era bem mais baixa do que a atual.

       A obra filosófica de Kant, denominada criticismo, veio a público no final do século XVIII. Nessa síntese monumental convergiram as tendências filosóficas do empirismo e do racionalismo, duas correntes que haviam dominado os séculos XVII e XVIII. O criticismo, a seu turno, dominaria todo o século XIX, estendendo sua influência até o século XX.  

      Dois importantes objetivos. Kant tinha dois importantes objetivos na vida: defender a ciência e restabelecer o primado do espírito sobre a matéria. Opunha-se desse modo ao materialismo a que o empirismo e o racionalismo haviam submetido a filosofia. 

       A obra de Kant representa, sem dúvida, o mais poderoso esforço da filosofia para libertar o espirito da matéria, formulando assim sua complexa e revolucionária teoria do conhecimento, que ele chamou de revolução  copernicana da filosofia, comparando-a com a teoria de Copérnico, que revolucionara a ciência da astronomia.

       Com efeito, antes de Kant, o centro de interesse, em redor do qual gravitava a filosofia, consistia no conhecimento das coisas ou dos seres.

       Com ele, ao contrário, a preocupação passou a ser o estudo da própria faculdade de conhecer a razão em si, considerada independentemente dos sentidos; ou seja, o estudo das possibilidades do espírito, independente do corpo físico e de sua ação sobre seu campo de experiência: o mundo material, a natureza.        No relacionamento com a matéria, com o mundo que lhe serve de experiência, afirma Kant, a razão (o espírito) é o agente ativo, inteligente, criador e coordenador. E a natureza é obra do pensamento.