Epicuro, Zenão de Cítium e Pirro, fundadores, respectivamente, do epicurismo, do estoicismo e do ceticismo, formam o trio de pensadores que marcaram o pensamento filosófico do Período Helenístico.
Zenão (335-263 a.C.) nasceu, como diz seu nome, na cidade de Cítium, localizada na ilha de Chipre. (Não deve ser confundido com Zenão de Eleia, filósofo pré-socrático). A ilha de Chipre, outrora posse grega, tem na atualidade status de país independente, com o nome de República de Chipre. E a antiga Cítium de Zenão é hoje a moderna cidade de Lárnaca.
História do estoicismo. A doutrina dos estoicos (filósofos do pórtico) divide-se em três períodos: antigo, médio e romano. No antigo, destacam-se seu fundador, Zenão de Cítium, Cleanto de Assos (331-232 a.C.) e Crisipo de Solis (280-207 a.C.); no médio, Panécio de Rodes (185-109 a.C.) e Posidônio de Apameia (135-51 a.C.); e no período romano, já em nossa era, Sêneca de Córdoba (4-65), o escravo Epíteto de Hierápolis (55-135) e o imperador Marco Aurélio (121-180), que esteve à testa do Império Romano de 161 a 180.
Segundo o historiador da filosofia Bryan Magee, essa lista de famosos estoicos tem representantes de todos os níveis da hierarquia social, sendo um deles até escravo, e outro, imperador.
Aliás, diz Magee, a filosofia estoica parecia ter um apelo especial que atraía os monarcas do Período Helenístico –quase todos os sucessores de Alexandre Magno, ou seja, “os principais reis que existiram depois de Zenão, professaram o estoicismo”. Iniciado como um movimento de reação aos epicuristas, o estoicismo permaneceu organizado ao longo de seis séculos, do IV a.C. ao II d.C.
Com os estoicos, e por meio deles, diz Magee, a filosofia do Ocidente deixa de ser especificamente grega para tornar-se internacional.
Com efeito, a maioria dos estoicos do primeiro período dessa corrente filosófica era, segundo o estudioso, de nacionalidade síria, e quase todos do terceiro período tinham cidadania romana. Isso, observa ele, foi consequência direta das conquistas de Alexandre, por meio das quais pôde ser difundida a cultura grega através do mundo civilizado de então.
A lógica estoica. Tal como a lógica desenvolvida pelo filósofo Aristóteles, a dos pensadores estoicos também constitui importante contributo para o desenvolvimento da lógica contemporânea.
O estoicismo propõe uma lógica definida como “proposicional”, isto é, “baseada não em nomes, mas no modo de dizê-los na proposição” (sentença, oração, frase ou enunciado), a qual pode ser verdadeira ou falsa. Na proposição, o significado ou aquilo que se diz é imaterial, “algo entre a realidade das coisas e a realidade das palavras”.
A ética. No que tange à moral, Zenão estabelece como princípio fundamental da ética estoica a “eudaimonia”, termo grego que significa felicidade. Viver em concordância com a natureza, diz ele, é, na verdade, a expressão maior da virtude e a causa maior da felicidade. “Essa concordância é racional, coincide com a Razão, ou Logos, da vida e da natureza, entendida esta como o Todo Universal, com sua harmonia e plenitude.”
Nesse ponto observa-se marcante diferença entre o estoicismo e o epicurismo. Entre outras normas de filosofia de vida, o epicurismo estabelece que se deve aceitar tão somente as condições do “aqui e agora”. Segundo a filosofia de Zenão, no entanto, há uma identificação do homem com o Logos, “que reside além da natureza humana, e a concordância é feita envolvendo o indivíduo numa harmonia universal”.
Desse modo, a felicidade, como a entende Zenão, é tratada “em níveis mais teóricos do que a concreta projeção nos limites do próprio corpo, como pretendiam os epicuristas”. Portanto, diz o filósofo, ser feliz é ser virtuoso e entender o momento supremo do homem na adequação com o Logos, ou Razão Universal. Isso torna o homem independente e lhe proporciona compreender “o além das coisas”.
A Física. A unidade do real é considerada por Zenão uma das ideias centrais de sua doutrina. De acordo com ele, a Razão e a natureza são uma só coisa, e o desenvolvimento da vida e da natureza é um processo pleno de racionalidade e coerência.
Zenão, porém, chama de ”real” apenas o que seja passível de ser captado pelos sentidos, ou seja, tudo que tem corpo ou concretude material. Mas admite a existência de um Logos, ou Pneuma (espírito, sopro animador ou força criadora), que tudo penetra ou preenche e que ele chama também de “Razão Universal”.