O estudo dos ensinamentos espiritualistas divulgados pelo Racionalismo Cristão apresenta-se sob múltiplas formas, em razão das inúmeras possibilidades de compreensão que motiva. Não poderia ser de outro modo, uma vez que cada pessoa possui características próprias e interpreta o mundo a sua volta de acordo com as experiências acumuladas e com os paradigmas e referências que possui. É inegável, todavia, que conceitos como a disciplina, a ordem e o método, em que pesem as mudanças espaço temporais próprias da vida, sempre serão valores importantes e fundamentais para a realização dos seres humanos, sobretudo daqueles que se empenham em crescer do ponto de vista ético e espiritual.
A vida da pessoa indisciplinada é por ela mesma limitada, não vai além do campo das projeções, da criação de metas, do estabelecimento interno de planos. Tal pessoa dificilmente concretiza algo significativo e importante. A pusilanimidade de que é portador retira-lhe o fôlego para perseverar em seus projetos.
A objetivação dos ideais requer renúncia, dirão alguns; requer foco, dirão outros. Contudo, afirmamos: a concretização dos propósitos só é possível quando a ideia sai da esfera da narrativa e da especulação e toma corpo como uma realidade efetiva. A ponte que torna possível um projeto passar do campo do pensamento para o campo da realidade palpável é a disciplina. A disciplina consiste em uma exigência indeclinável para o sucesso em qualquer empreendimento.
Muitas ideias afloram à mente do ser humano ao longo de sua vida, pois somos racionais e inteligentes. As mais distintas inspirações, espontaneamente, chegam-nos, pois, a sensibilidade está presente em todos nós. Mas por que nem todos conseguem efetivar seus objetivos? Porque a disciplina, que permite tal efetivação, diferentemente do raciocínio e da inteligência, não é um atributo, mas uma habilidade. Habilidade que temos que desenvolver por esforço próprio e sem a qual nossa vida ressentir-se-á de plenitude e realização.
Ao longo da trajetória humana, sinuosa e pedregosa para os que desvalorizam a ordem, o método e a disciplina, temos de reconhecer que a vida não cessa de oferecer valiosas lições, que são como lembretes sinalizando para a importância de sermos disciplinados e, sobretudo, atentos a uma realidade indiscutível: a de que o tempo é algo precioso que deve ser valorizado. Valorizamo-lo ao dividirmos racionalmente as inúmeras tarefas que desempenhamos ao longo dos dias, dos meses, dos anos.
Embora a disciplina não seja um atributo do espírito, como tivemos ocasião de esclarecer, é inegável que praticamente todos os seres humanos possuam um pendor para ela. Se assim não fosse, as grandes realizações no campo da música, da literatura, da engenharia, da agricultura, da economia, dos esportes etc., não causariam tamanha admiração por parte dos seres humanos em todas as épocas e em todos os lugares. Tais realizações jamais seriam possíveis sem o concurso da disciplina, portanto, ainda que indiretamente todos a ela se inclinam.
Nesta conclusão queremos suscitar ainda uma reflexão: há quem sustente que aquele que não se identifica com a disciplina, com a ordem e com o método, está sempre seguindo os impulsos da natureza e seria uma pessoa descolada e espontânea. Será isso verdade? Cremos que não. Pois, ao observarmos a natureza, verificamos por toda parte harmonia e ordem. Nessa perspectiva, parafraseamos o grande pensador francês Jean-Jacques Rousseau, afirmando que a pessoa indisciplinada, acreditando seguir os impulsos da natureza, não faz senão resistir à organização da própria natureza. Atendendo aos anseios dos sentidos físicos, esquece-se de sua voz interior. Sejamos disciplinados!