É próprio do ser humano o querer viver em sociedade. Sua natureza gregária o impele historicamente a conviver com seus pares. Tal circunstância é bastante favorável no que concerne ao desenvolvimento de suas faculdades e potencialidades. Importa-nos, todavia, abordar na presente reflexão, ainda que sinteticamente, o valor do discernimento na análise dos múltiplos cenários que a experiência social nos apresenta ao longo da vida e na absorção dos conteúdos que concorrem para a conquista da verdadeira liberdade.
O itinerário de desenvolvimento humano, pelo que anteriormente expomos, não pode ser trilhado pelo ser humano de maneira solitária: seu aperfeiçoamento está condicionado à convivência coletiva. Por essa razão, não se deve desprezar o contexto histórico e o intercâmbio interpessoal como fatores determinantes para o enriquecimento cultural e para o amadurecimento espiritual da pessoa. O fluxo da vida segue seu curso pleno de um dinamismo que conecta os seres humanos de maneira admirável, permitindo o aprendizado e o crescimento mútuo.
O ser humano consciente da necessidade e do valor da coletividade para o desenvolvimento individual depara-se, não raras vezes, com um paradoxo que o leva a indagar: “Devo seguir os paradigmas morais que a sociedade constrói e de certa forma impõe ou fundamentar minhas decisões nos valores que estão em minha interioridade?”
Se apreciarmos a questão suscitada à luz dos conceitos universais e vivificadores da espiritualidade que o Racionalismo Cristão divulga, teremos de reconhecer que ela não apresenta um impasse, embora esteja envolta por uma dupla perspectiva. Diante da dúvida, há que buscar inteligentemente o equilíbrio, o que só é possível por meio do estabelecimento de uma hierarquia de valores. Dessa forma, devemos absorver dos conteúdos que nos são apresentados aquilo que eles têm de positivo, rejeitando com firmeza tudo que se oponha aos valores que nossa consciência aponta como legítimos.
Nessa perspectiva, o esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão é um meio indispensável para guiar o ser humano rumo à decisão acertada e integradora, na medida em que convoca, por assim dizer, todas as pessoas a concentrar seus pensamentos e atitudes na conquista do próprio aperfeiçoamento ético-moral, filtrando os conteúdos e conceitos apresentados sem preconceitos, mas com lucidez e racionalidade.
Sabemos que a vontade pode se inclinar tanto no sentido da maior autonomia e fortalecimento espiritual como na direção do enfraquecimento moral. A vontade é neutra; o espírito a direciona no sentido que lhe aprouver. Quando a utiliza para a concretização de projetos que promovem a dignidade humana, recebe o influxo favorável de energias salutares, que se traduzem em alegria, força moral e motivação para a prática do bem.
Para dar coesão e aplicação prática a tudo que aqui abordamos, importa entender que não nos devemos fechar aos estímulos exteriores, muito menos à voz da própria consciência. É preciso, portanto, estabelecer uma síntese que nos conduza a uma maior liberdade de ação. Na verdade, quando absorvemos o que de bom a sociedade nos apresenta e renunciamos aos conteúdos inadequados que ela tenta nos infundir, valorizando os imperativos da consciência, conservamos a liberdade de escolher o que é bom, autêntico e favorável ao nosso crescimento espiritual.