A direção que damos à vida tem relação direta com a forma como abordamos as pessoas e exprimimos nossas ideias e conceitos. É por meio de narrativas que nos posicionamos na sociedade e justificamos as posições que assumimos; daí a importância de estudar e avaliar o modo como configuramos e exteriorizamos nossos entendimentos e pensamentos.
Quando falamos sobre a importância das narrativas que elaboramos, não pretendemos dar um relevo excepcional à palavra propriamente dita, mas à forma como estruturamos nossa fala, manifestamos nossa intuição e respondemos às indagações que nos são dirigidas. A sociedade contemporânea está marcada por uma evidente incapacidade de estabelecer diálogos profícuos, de propor soluções efetivas, de estruturar acordos equilibrados. Por essa razão, verificamos, a todo momento e nos mais diversos contextos, conflitos e divisões que se fundamentam na falta de habilidade em manifestar ideias com clareza e honestidade de propósitos.
Nunca o ser humano teve tanta voz como nos tempos atuais. Proliferam por toda parte novas tecnologias que permitem a exposição de opiniões, e é bom que seja assim. Felizmente, os ordenamentos jurídicos da imensa maioria dos países tutelam a liberdade de expressão. Ainda assim, vivemos uma época de desentendimentos e perda de diretrizes – muitos falam, mas nem todos são ouvidos; há muito ruído e pouca substância. De que adianta a amplitude da capacidade de manifestação se as palavras e os discursos não estão interpenetrados de valores espirituais?
Por que os seres humanos, quer em âmbito individual, quer coletivo, estão atualmente invalidando conquistas e bloqueando o próprio progresso? Porque têm dificuldade de exprimir-se de forma elevada e respeitosa; porque têm dificuldade de colocar-se no lugar do outro; porque lhes falta, enfim, espiritualidade.
A capacidade de expressar pensamentos com autenticidade e estabelecer relações fundamentadas no respeito e na tolerância só tem espaço na vida de quem se abriu à espiritualidade e assumiu corajosamente as responsabilidades intrínsecas a esse ato. Espiritualizar-se é despojar-se de preconceitos e tolas vaidades; é, mais do que compreender o valor dos laços afetivos, sentir-se integrado a uma mesma e única família, formada por todos os seres humanos, como nos ensina o Racionalismo Cristão.
Quem reconhece a transitoriedade da existência terrena, quem sabe que a realidade é muito mais ampla do que os sentidos físicos informam, enfim, quem não tem dúvida de que todas as atitudes geram consequências jamais estabelece narrativas medíocres e mesquinhas, jamais aborda ou trata alguém de maneira diferente do que gostaria de ser tratado. Com certeza, o ser humano espiritualizado é, por assim dizer, um diplomata, pois sabe que ouvir é, muitas vezes, mais importante que falar.
O principal objetivo deste trabalho é suscitar uma séria e ponderada reflexão sobre a responsabilidade que todos devem ter na estruturação de narrativas e na forma de exteriorizá-las. Analisando tal temática pelo ângulo da espiritualidade difundida pelo Racionalismo Cristão, concluímos que a expressão das ideias, pensamentos e conceitos deve transcender a um direito assegurado pela lei, pois representa, antes de mais nada, o compromisso para com o aperfeiçoamento da cidadania e o empenho na melhoria das relações humanas, que redundam, se dúvida, na paz social.