Gratidão

Incentivar o precioso e nobilitante sentimento de gratidão, que bloqueia os impulsos egoísticos, que impedem a construção da própria felicidade, e exaltar o valor da prestatividade, que é um autêntico princípio espiritualista capaz de refletir um profundo sentimento de respeito à humanidade, são os objetivos da presente reflexão. 

A gratidão é, sem dúvida, fonte de longevidade e sublimação espiritual, contribuindo para o bem-estar e a qualidade de vida dos seres humanos. Não é alcançada somente pela identificação com a ideia; é preciso ação. Não basta concordar com o fato de que a gratidão é uma virtude digna e bela; há que aprender a ser grato. Assim, um importante passo se dá quando o ser humano se torna prestativo e atencioso, jamais reclama da vida, procura estar sempre bem disposto, enfim, quando tem atitudes elevadas que se traduzem efetivamente na conduta. 

A partir do momento em que o ser humano compreende que sua essência é imaterial e eterna, como nos enfatiza o Racionalismo Cristão, dando-se conta de que jamais está sozinho, experimenta uma profunda sensação de paz, afastando de si, naturalmente, a tensão e a ansiedade. Há, portanto, a necessidade premente de autoconhecimento e abertura para o transcendente, exteriorizados no respeito e amor ao próximo e, sobretudo, na gratidão pela vida, na disposição de trabalhar e ajudar a quem precisa e na força de vontade dirigida para a prática do bem.  

Quando o ser humano desperta a consciência sobre seus traços espirituais e suas múltiplas possibilidades de superação, passa a vivenciar um humanismo saudável marcado pela gratidão, convertendo a vida em uma elevada e digna oportunidade de crescimento ético e moral, sem jamais lhe retirar a beleza de que resulta sua significação e legitimidade. 

Na verdade, a gratidão que brota espontânea da observação humilde do esforço de tantos profissionais que, em meio à pandemia do coronavírus, trabalharam arduamente para que pudéssemos desfrutar de melhores condições de vida faz com que as relações que estabelecemos com o próximo sejam menos inflexíveis, soberbas, impacientes e exageradas na afirmação do próprio eu. Por certo, sempre que a gratidão tiver lugar, o egoísmo desaparecerá. 

Se a manifestação do sentimento de gratidão está interpenetrada de interesses que refletem segundas e obscuras intenções, esgota-se o alto valor de seu significado, de modo que ela é descaracterizada e desvirtuada. Se, por outro lado, a gratidão surge a partir da reflexão e análise dos abundantes mecanismos, internos e externos, que auxiliam o ser humano em sua caminhada por este planeta, é possível contemplá-la no que ela tem de mais significativo e sublime, absorvendo sua positividade e energia. 

Uma das mais expressivas notas de uma experiência de vida bem-sucedida do ponto de vista espiritual é que a pessoa, quanto mais se entrega aos interesses da família, quanto mais se empenha em desenvolver com esmero e correção as tarefas, quanto mais se dedica às disciplinas construtivas da vida com ânimo e boa vontade e sem jamais maldizer as eventuais adversidades por que passe, mais se fortalece, mais se revigora, mais se completa e mais se plenifica. Não existe gratidão dissociada do cultivo das virtudes.  

Somente consegue entender plenamente o valor da gratidão a pessoa que abandona os caprichos da fantasia indolente e penetra no realismo da vida, o ser humano que, pela força de vontade, transforma uma existência ensombrecida pelo vício em luminosa, virtuosa e ascendente trajetória.  

Esta reflexão foi elaborada como uma manifestação de gratidão e respeito aos amigos que nos acompanham semanalmente através de nossos artigos no Portal A Razão. Muito obrigado a todos.