Identidade de gênero sob a ótica espiritualista

Muito se tem falado nas mídias sociais sobre identidade de gênero, mostrando ser esse um tema controverso entre os vários segmentos da sociedade. Não temos aqui a intenção de discutir os mais de 50 gêneros tipificados hoje no Brasil, nem os efeitos sociais das escolhas pertinentes a cada pessoa. Procuramos, sim, fazer uma abordagem sob a ótica espiritualista.

Como todos sabemos, somos espíritos em essência, uma parcela da Inteligência Universal, que encarna e desencarna múltiplas vezes, obedecendo às leis evolutivas. Uma vez que é imortal, o espírito encarna neste planeta-escola para evoluir até atingir o estado de perfeição, a partir do qual não necessita mais encarnar. Esse estado de perfeição é atingido, portanto, com muito esforço, ao longo de inúmeras encarnações. Daqui se depreende duas situações enquanto não atinge o estado de perfeição: o espírito está encarnado ou está desencarnado.

A situação de encarnado é obtida com a posse de um corpo físico, que ocorre no nascimento, e dura perto de um século, em condições normais. Nesse período é que se dá o aprimoramento dos atributos espirituais, através do convívio com outros espíritos encarnados de diferentes graus evolutivos. Há, portanto, uma interação ou, até mesmo, uma interferência no processo de aprendizado individual. Essa interferência tanto pode ser para o bem, quanto para o mal. É assim que se dá a formação do caráter. Através das escolhas, cada indivíduo acerta e erra, montando o seu cabedal de conhecimentos em busca da perfeição.

Quando está desencarnado, existem duas situações: ou está quedado na atmosfera fluídica da Terra, ou seja, no astral inferior, ou está em seu mundo de estágio, que é a condição necessária para dar prosseguimento ao seu processo evolutivo. Integra o astral inferior o espírito desconhecedor da sua condição de espírito e para onde deve ir quando desencarna. Fica, então, numa condição estacionária, não evolui, e pode até prejudicar seres encarnados pela interação de pensamentos através das várias formas de mediunidade.

É no seu mundo de estágio que o espírito desencarnado avalia suas encarnações perante as leis evolutivas. É aí que avalia seus erros e acertos, tem a clara consciência das consequências boas ou más dos seus atos e das suas necessidades para galgar o processo evolutivo rumo à perfeição. Em seu mundo, ele interage com outros espíritos de mesmo grau evolutivo e recebe auxílio de espíritos mais evoluídos acerca de suas necessidades para planejar uma nova reencarnação. Aqui se chega ao ponto mais importante desta abordagem: é no mundo de estágio, frente às suas necessidades evolutivas, que o espírito decide seu sexo biológico, escolhe seus pais, país, cidade, meio social etc., enfim, condições necessárias para dar continuidade ao seu processo evolutivo.

O espírito é Força, é luz, é vida, não tem sexo. É ele que dá vida ao corpo físico. Este, sim, nasce e morre, se forma e se desintegra, tem sexo. É um veículo. É o meio pelo qual o espírito consegue galgar degraus no seu processo evolutivo. Para o espírito encarnado, negar o gênero de acordo com o sexo é uma decisão fruto do seu livre-arbítrio, cujas consequências somente a ele dizem respeito. Um espírito, quando reencarna muitas vezes com um mesmo sexo, fica habituado ao comportamento inerente a esse sexo. Quando decide encarnar no outro sexo, frente às suas necessidades evolutivas, sente a consequente dificuldade em assumir o gênero correspondente, o que pode levá-lo à dúvida de gênero. Portanto, negar o gênero masculino ou feminino para o qual foi concebido, perante suas necessidades evolutivas, é negar sua própria decisão tomada em seu mundo de estágio.

Nesse sentido, interferir na escolha de gênero de outra pessoa, se necessário, deve ser pelo incentivo, principalmente pelos pais, a seguir os comportamentos e atitudes inerentes ao sexo escolhido, em concordância com a escolha feita pelo espírito em seu mundo de estágio. Menino é menino, menina é menina! E não forçar, induzir, erotizar crianças, castigar, impor sansões a quem tem dúvidas ou escolhe gênero diverso. Isso não pode acontecer porque confronta as necessidades evolutivas da outra pessoa.

Todo espírito encarnado tem por atributo o livre-arbítrio e tem responsabilidade sobre seus atos, intensões e pensamentos perante seu processo evolutivo e sua consciência. Deve fazer suas escolhas no momento certo. A escolha de gênero deve dar-se com maturidade e conhecimento de princípios espiritualistas no momento certo e não quando criança, nem por decisão de terceiros, seja pai, mãe, amigo ou educador. A escolha errada pode retardar o seu processo evolutivo.