Para analisarmos dessa nossa reflexão pela perspectiva da espiritualidade, torna-se necessário dizer que interpretamos a impaciência, tão comum em nossa sociedade imediatista, como uma atitude capaz de anular as melhores intenções e ideias, criando um quadro de emoções indefiníveis e contraditórias. Esse mal se associa, não raras vezes, à vaidade e à insolência, afastando a pessoa de seus reais e legítimos objetivos de vida. Na presente reflexão procuraremos desvendar suas raízes e estabelecer referenciais seguros para sua superação.
A inversão sistemática e artificial dos valores por que a humanidade tem passado nos últimos tempos produz e estimula um desarmonioso imediatismo no seio da sociedade, resultando em uma multidão de pessoas impacientes, geralmente não afeitas à produtividade sadia e à diligência racional, que buscam impregnar suas ações com o ímpeto imprudente e o capricho pessoal.
A impaciência reduz as possibilidades que se devem preservar para se alcançar um fim legítimo e positivo, o que constitui um ato contraditório, visto que a natureza evidencia harmonia e ordem em seus processos, e o ser humano, por estar inserido nessa realidade, deve se integrar a ela de maneira consciente, como sempre enfatiza o Racionalismo Cristão.
A impaciência é uma das variantes do excesso de vaidade, que conduz a pessoa à infecundidade típica de quem desperdiça energias e não logra edificar nada de efetivamente positivo na vida. Assim como a busca por uma liberdade irrefletida ou anárquica, sentimentalista ou demagógica se converte em libertinagem e esta, em escravidão, também a impaciência desmedida gera estados de insatisfação tão agudos que desembocam, inevitavelmente, no desequilíbrio psíquico.
Uma pessoa que queira obter êxito em seus projetos deve, racionalmente, respeitar os ciclos da vida, sem se mostrar indiferente às múltiplas etapas que configuram o processo de conquista de seus ideais. Despir-se de vaidades e preconceitos ancorados no imediatismo e na fugacidade dos apelos frenéticos e ruidosos da sociedade consumista em que estamos inseridos é condição que se impõe para a solução das mais complicadas situações e para a superação dos mais intrincados desafios.
Uma das facetas da impaciência, a mesquinhez abominável da busca incessante pela satisfação dos sentidos e pela aquisição de poder isola o ser humano da elevação espiritual que dá sentido à vida, que ordena e organiza as ideias, que sustenta os passos da pessoa feliz. É preciso fortalecer o espírito não apenas para o enfrentamento das situações e desafios próprios da vida ou para a busca de soluções parciais; deve-se, antes, prepará-lo e retemperá-lo para que ele possa alcançar verdades elevadas e de intensa luminosidade, o que demanda uma paciência ativa e altiva, que em nada se confunde com imobilismo e resignação.
Em consonância com o que dissemos anteriormente e com a certeza inquebrantável de que a paciência é a mais valiosa das virtudes dos que sabem aonde querem chegar, lembremo-nos das palavras de Luiz de Mattos, que, dirigidas aos acadêmicos de seu tempo, ainda ressoam altissonantes em nossos dias: “E saber esperar é raciocinar com acerto, reprimir os ímpetos animalizados e preparar a alma para agir com inteligência esclarecida em todos os momentos”.
O autoexame da consciência, sem preconceitos e fantasias, dissolve as perplexidades angustiantes de nossa época e elimina a tirania da impaciência sobre a razão, cujo papel, em última instância, é o de preservar as qualidades íntimas fundamentais para a edificação de uma existência frutuosa e produtiva. Ganha o ser humano e ganha o mundo quando aquele se mantém fiel à razoabilidade e ao bom senso. O materialismo entorpecedor que fomenta a impaciência e a frivolidade não responde aos anseios mais legítimos do ser humano nem lhe fornece os subsídios para dirimir suas questões existenciais. Reduzindo-o a sua dimensão física, não considera sua essência perene e indestrutível.
Muito Obrigado!