A dramaticidade que envolve o cenário contemporâneo e que ultrapassa os graves problemas causados pela crise sanitária provocada pela pandemia do coronavírus deve ser interpretada de forma abrangente. A presente reflexão, como se verá, pretende alertar as pessoas que nos acompanham e, ao mesmo tempo, apresentar soluções possíveis e práticas para importantes questões de nossa época.
A dramaticidade a que fizemos referência na introdução deve ser analisada de dois ângulos distintos. Por um lado, ela testemunha a falta de compromisso do ser humano com sua própria dimensão interior, ou seja, com a dimensão espiritual. Por outro lado, interpenetrando os costumes, tal dramaticidade cria uma circunstância desfavorável para que as pessoas inclinadas à realidade espiritual – ou até mesmo conscientes dela – sejam influenciadas pela obscuridade do momento e se deixem enfraquecer.
Nos dias que correm, tendo em vista o materialismo absorvente com que incontáveis pessoas se alinham, pelos pensamentos que nutrem e pelas ações que praticam, torna-se imperioso a criação e a manutenção de hábitos virtuosos que promovam o fortalecimento do ser humano e o tornem refratário às insidiosas manifestações de desânimo, angústia e perturbação mental que interpenetram todas as camadas da sociedade, causando impactos tão negativos quanto imprevisíveis.
A irrefletida familiaridade que se estabelece com pensamentos de pessimismo, seja na conversa com pessoas desatentas quanto à espiritualidade, seja na audiência a programas midiáticos nem sempre adequados, embora não o pareça em um primeiro momento, é a raiz de uma árvore cujo fruto envenena a mente e enfraquece o espírito. Reagir energicamente e com valor contra tudo quanto nos deprime e atordoa é condição que se impõe ao longo da vida, e com muito mais razão nos dias que transcorrem.
A vida de grande parte da população mundial se encontra tão saturada de materialismo que muitos seres humanos se puseram, por força do apego às coisas e às sensações, distantes de si mesmos, afastando-se de sua essência. As consequências todos conhecemos; a solução também. Na verdade, esta última não é difícil de ser alcançada: começa com um gesto de humildade e culmina em uma experiência de vida receptiva aos valores transcendentes, à disciplina na vida, à força de vontade voltada para o bem e à disposição em ser diligente e produtivo e a não perder tempo com futilidades.
Quando propomos mudanças positivas de hábitos e reavaliações sinceras de condutas como imperativos da saúde psíquica, quando valorizamos a essência espiritual do ser humano, não estamos querendo dizer que os aspectos materiais devam ser negligenciados ou preteridos, mas que eles devem ocupar uma esfera que lhes é própria, e não ser tidos como valores magnos e principais.
Amigos, a espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão está ligada ao mundo físico em uma indissolúvel integração com a vida cotidiana. Há um intercâmbio contínuo entre o espírito e a matéria. É no mundo atual, com toda a sua aridez e dramaticidade, que o ser humano deve desenvolver seus atributos e potencialidades espirituais. Ele alcança tal objetivo quando não se deixa absorver por situações que não pode alterar, quando nutre bons e sadios hábitos, quando não se descuida de seu interior, enfim, quando transcende a toda dramaticidade que pretende perturbá-lo e, com firmeza, mantém os pés no chão e o pensamento no alto.