Primeiramente, vamos conceituar em nosso vernáculo essas duas palavras que parecem identificar a mesma coisa, mas têm significados diferentes. A individualidade é um conjunto de atributos que constituem a originalidade, a unicidade de uma pessoa, e que a distinguem de outras tantas de seu convívio, ou seja, ela é o somatório dos atributos e faculdades inerentes ao espírito. Todo espírito que se individualizou tornou-se um ser único, pois não mais procura comparar-se com os outros, admite a sua singularidade.
Um bom sinônimo para individualidade é pessoalidade ou pessoa portadora de caráter único, característico, particular, próprio.
Define-se a personalidade como tudo aquilo que distingue um indivíduo de outros indivíduos, ou seja, o conjunto de características psicológicas que determinam a sua individualidade pessoal e social. Três exemplos de sinônimos: personagem, pessoa, protagonista.
Da individualidade. Como espíritos emanados da Inteligência Universal em evolução no mundo-escola Terra, todos nós somos iguais em essência. Por isso mesmo, a condição que deveria prevalecer numa sociedade genuinamente igualitária é que todos nós deveríamos ter os mesmos direitos e os mesmos deveres. Ao nascermos nos tornamos um indivíduo composto de espírito, corpo fluídico e corpo físico que passa a existir como uma entidade que possui uma identidade única – um ser humano dentre bilhões de outros. Pelo grau de espiritualidade já alcançado no processo evolutivo ao longo de múltiplas vidas, somos únicos. Como nossas memórias (as do espírito que vai apropriar-se de um corpo físico) se tornaram inacessíveis, nós precisamos desenvolver uma nova personalidade partindo do zero. Daí se conclui, de início, que a individualidade é inata e a personalidade é a adequação do acervo espiritual ao meio ambiente que o espírito escolheu para sua nova vida. É essa adequação que vai dar lugar à formação da personalidade do indivíduo. Individualidade é identidade natural, psíquica por excelência.
Da personalidade. Tão logo a pessoa se põe no mundo-escola Terra, começa o seu longo processo de aprendizagem para se adequar aos diferentes ambientes em que vai viver, iniciando-se pelo ambiente familiar. Aqui, durante a infância, primeira fase de seu desenvolvimento, lhe será ensinado um modelo de aprendizagem comportamental proposto pelo psiquiatra canadense Eric Berne, que criou, em 1956, a Teoria da Análise Transacional, teoria psicológica que distingue as figuras “do pai”, “do adulto” e “da criança” como realidades psicológicas. Essas envolvem pessoas reais, ocasiões reais, decisões reais e emoções reais. Esse seria o processo educativo ideal na infância, além, é claro, do aprendizado escolar.
Terminada essa interação familiar, em ambiente desejável, harmonioso e amoroso, o indivíduo é levado a cumprir progressivamente todas as demais fases do convívio social, enfrentando todas as vicissitudes próprias da vida neste mundo-escola.
Ele, o indivíduo, tendo atravessado a primeira fase – infância –, ingressa progressivamente nas três fases restantes – juventude, madureza e velhice, colhendo aprendizados e ensinamentos próprios de cada fase.
Aqui, entre tantas coisas, ele aprende, segundo a tradição popular, que “ele é ele e os outros são os outros”, ou seja, “eu sou eu e você é você”, independentemente de compartilharmos nossas vidas juntas, tomando consciência de si mesmo como indivíduo único. Se minha postura individual é egocêntrica, então costumo dizer que “eu sou eu e minhas circunstâncias”. Aos poucos, essa consciência o conduz para a compreensão do que seja responsabilidade, como senhor de seus pensamentos, sentimentos, emoções e atos perante si mesmo e seus semelhantes.
É essa compreensão que lhe vai guiar pela vida afora, usando seus atributos e faculdades no convívio social. Vai perceber que saber viver entre os diferentes, mas seus semelhantes, faz a diferença para o aprimoramento espiritual. Vai aprender como enfrentar e resolver conflitos de entendimento do que é certo do que é errado, advindos dessa diferenciação.
Apesar de todo o conhecimento humano atual nós nos identificamos mais facilmente com a personalidade do que com a individualidade. E isso porque os nossos pais, amigos e nossos semelhantes em geral nos ensinaram que somos assim. A consequência é que todos eles moldaram a nossa personalidade tal como ela é, fazendo de nós algo que não somos em essência.
Não nos ensinaram que aqui neste mundo-escola nossa identidade é temporariamente artificial, provisória. Dessa forma, somos infelizes por vivermos aprisionados nesta personalidade. Daí, também, a grande maioria das pessoas ter medo de sair dessa situação porque desconhecem a vida fora da matéria e não sabem o que vão encontrar além da morte.
Conclusão. Do que foi dito é fácil entender que todas as culturas e, portanto, todos os povos da Terra identificam-se pela personalidade e não pela individualidade, esta sim, a verdadeira portadora da espiritualidade representada pelos atributos e valores inatos do ser humano.
Isso é tão importante que, conforme o modo de pensar e entender, o ser humano se condiciona para levar uma vida essencialmente voltada para a espiritualidade ou exageradamente voltada para a materialidade, tamanha é a importância que dá à sua personalidade em detrimento da individualidade.
Percebam, também, que a personalidade se dissolve com a morte da pessoa. Mesmo assim, as sociedades, através do materialismo que professam, deixam iludir-se e persuadir-se a concentrar suas atenções na personalidade ao invés de na individualidade.
Diante desse quadro, o despertar para a espiritualidade se torna fugidio, pois a grande maioria das pessoas, de um modo geral, têm crenças religiosas arraigadas. O esforço mental para fazer mudanças de hábitos em suas vidas é tão grande que acabam se entregando às ilusões e prazeres da vida material.