Essa reflexão não tem a pretensão de ser um tratado científico a narrar casos relativos ao tema de forma detalhada e em linguagem técnica. Ela objetiva levar aos leitores a descobrir seu verdadeiro papel no conjunto humano e os integrar ao conhecimento de si mesmos, para plenificar e construir o próprio equilíbrio em todas as dimensões.
A filosofia racionalista cristã, utilizando uma linguagem simples, de fácil entendimento, invoca a solidariedade universal ao mostrar às pessoas os grandes benefícios que a vivência da espiritualidade produz na vida delas, proveitos que não se restringem apenas à recuperação de sua integridade física, pois também as auxilia na conquista do equilíbrio emocional e psíquico.
Considerando que o ser humano está inserido em contexto global com direito à liberdade e à felicidade e, por isso, portador do valor inalienável que advém de sua essência espiritual, não devemos desconsiderar os efeitos da irresponsável devastação ambiental, da ganância desenfreada, do imediatismo de ter vantagem em tudo, do modelo de desenvolvimento injusto e da cultura do descarte sobre a vida dos habitantes no planeta-escola Terra.
Todos esses aspectos ensejam o esquecimento da realidade espiritual existente no que cerca o ser humano, e o leva erroneamente a pensar que os semelhantes e as demais circunstâncias encontram sua razão e finalidade em si mesmos, desprezando o elemento causal ao não perceber a exigência do cuidado e do respeito que deve ter pela vida de forma geral.
Atualmente, grande parte das cidades aponta um crescimento descontrolado e desproporcional, tornando pouco saudável a vida de seus habitantes. A contaminação advinda das emissões de gases tóxicos, o descontrole urbano, a poluição visual e sonora, entre outros fatores, contribuem para o quadro de desequilíbrio que marca a sociedade contemporânea, demonstrando a ineficácia estrutural dos grandes centros urbanos.
Congestionamentos constantes de veículos e altos índice de violência tornaram-se comuns na vida das populações, ao contrário das áreas verdes, que deixaram de ser uma realidade na maioria dos aglomerados humanos. Destituídas de contato físico com meio ambiente ecologicamente equilibrado, as pessoas vivem cada vez mais rodeadas de altos prédios de concreto armado, asfalto por vezes escaldante, metais em suspensão na atmosfera e materiais sintéticos de difícil degradação.
As mudanças sociais assumem caráter global e os componentes dessas sociedades convivem, entre outros fatores, com o desemprego produzido pelas inovações tecnológicas, com instabilidades econômicas, com exclusões sociais, com desigualdades distributivas de serviços essenciais e com o consequente surgimento de novas formas de agressividade física e psíquica. Esses são alguns elementos que demonstram a influência do meio ambiente nos desequilíbrios biopsíquicos-espirituais dos seres humanos.
Ao que foi exposto, acrescente-se as novas dinâmicas do mundo digital, que se tornaram presença constante na vida das pessoas, ocasionando, muitas vezes, um ruído dispersivo e angustiante, que bloqueia a capacidade de vivenciar o diálogo, sobretudo o familiar, tão necessário para o desenvolvimento fecundo da generosidade, da reflexão e da alegria.
A filosofia racionalista cristã orienta os estudiosos da espiritualidade no sentido de que é possível estender o olhar para a realidade que transcende o cientificismo estritamente acadêmico e nela perceber o gênero humano de forma plena, conscientizando-os de que, embora a técnica deva estar a serviço do progresso, como demonstram os resultados dignos de nota dos avanços científicos constatados, todo desenvolvimento, inclusive o das futuras gerações, deve ser sustentável, a contemplar a humanidade de forma integral.
O caminho proposto pelo Racionalismo Cristão visa enfatizar o sentido da espiritualidade, ou, ainda, a finalidade evolutiva da experiência humana, a fim de que a humanidade não descambe para uma visão reducionista e utilitarista, desprezando a realidade espiritual que subjaz e dá significado aos mais diversos fenômenos da vida.
O Racionalismo Cristão quer despertar a consciência das pessoas para uma forma alternativa de entender a qualidade de vida, estimulando o desenvolvimento de um estilo baseado na compreensão das leis evolutivas e na certeza da força do pensamento, capaz de gerar alegria e felicidade quando não houver preocupação demasiada com as aparências e o consumismo sem freios.
Simplicidade, comedimento e prudência, qualidades espirituais a serem adotadas de forma livre e disciplinada pelos seres humanos, promovem a liberdade em seu aspecto amplo. As virtudes mencionadas não propõem um viver limitado ou de pouca intensidade, mas precisamente o contrário. Com efeito, as pessoas que valorizam os aspectos espirituais vivem mais e melhor, porque aproveitam as lições que a vida oferece a todo momento.
Entendem que os desafios representam oportunidades de aprimoramento espiritual e que devem abandonar os impulsos inadequados do passado e se concentrar no presente, valorizando as realidades e possibilidades individuais, quaisquer que sejam. Desse modo, conseguem reduzir o número de necessidades e, por consequência, também diminuir o estresse e a ansiedade.
A espiritualidade é desenvolvida através do autoconhecimento, pois a introspecção possibilita que a pessoa se realize por meio da prática constante e desinteressada do bem, do trabalho metódico e construtivo, da higiene psíquica, da apreciação estética nas criações artísticas em suas diversas representações, como a música e a pintura, de tudo que é elevado e digno, enfim.
Saúde deve contemplar o bem-estar físico, psicológico e social, não podendo ser considerada apenas ausência de doenças, segundo a organização mundial da saúde.
A visão de ser humano integral foi conceitualmente proposta no início do século passado pela filosofia racionalista cristã, enfatizando as três dimensões que constituem o ser humano em evolução na terra, e que são: espírito, corpo fluídico e corpo físico.
O Racionalismo Cristão afirma que espírito, corpo fluídico e corpo físico são uma unidade indissociável na realidade terrena e, como tal, os fatores emocionais, psíquicos e físicos se correlacionam. Para que a saúde integral seja alcançada deve englobar as dimensões constituintes do ser humano, conforme propõe essa Filosofia de vida.
Reconhecida a composição tríplice do ser humano, a ideia de saúde integral, necessariamente, deve focalizar o estudo da espiritualidade. Sendo o corpo humano o invólucro denso utilizado pelo espírito no seu processo de aprimoramento evolutivo, conclui-se que qualquer ocorrência patológica reflete o efeito de uma causa primária.
Se as pessoas tiverem presente a complexidade das oscilações de saúde que vivenciam, deverão reconhecer que as soluções não passam por uma única maneira de interpretá-las, pois Ciência e Espiritualidade, são dois caminhos que não se opõem, ao contrário, se completam.
Ultrapassado o modelo biomédico que predominou na área da saúde entre os séculos dezessete e vinte, período marcado pela visão dogmática, positivista e cartesiana, a ciência passou a reformular e ampliar seus conceitos, não mais considerando a saúde física e a saúde psíquica como dimensões isoladas. Alguns segmentos mais avançados dessa nova visão consideram que o bem-estar físico e psíquico deve estar vinculado ao cultivo da espiritualidade.
Algumas perguntas a serem feitas para avaliação da própria saúde: Qual o propósito da minha vida? Como meus pensamentos interferem na rotina da minha vida? Como são minhas emoções na maior parte do tempo? Como estão meus relacionamentos? Como me relaciono com as pessoas?
Contempladas as peculiaridades pessoais, os fatores culturais e os estilos de vida, a saúde integral, embora em primeiro momento pareça muito abrangente e complexa, pode ser conquistada de maneira simples e natural por meio da aplicação dos princípios racionalistas cristãos. Experimentem adotá-los! Para tanto, são sugeridos vinte princípios, para que tenham e mantenham equilíbrio biopsíquico-espiritual:
- Fortalecer a vontade para a prática do bem;
- Identificar, para poder repelir, os maus pensamentos e fazer bom uso do livre-arbítrio;
- Cultivar pensamentos elevados em favor do semelhante;
- Não desejar para os outros o que não quer para si;
- Estender seu auxílio a quem dele necessitar, quando os meios e a oportunidade o permitirem, mas não contribuir para sustentar a ociosidade e os vícios de quem quer que seja;
- Ter consideração pelo ponto de vista alheio, principalmente quando manifestado com sinceridade;
- Não se ligar pelo pensamento a pessoas maldosas, inconvenientes e psiquicamente desequilibradas;
- Combater a maledicência;
- Eliminar do hábito comum a discussão acalorada;
- Conservar em plena forma a higiene mental e física;
- Exercer o poder da vontade contra a irritação;
- Manter o equilíbrio das emoções na análise dos fatos, para não afetar a serenidade necessária;
- Adotar, como norma disciplinar, o hábito sadio de somente tomar decisões que se inspirem no firme propósito de fazer o bem, agindo, para isso, com ponderação, moderação, justiça, serenidade e valor;
- Conduzir-se respeitosamente na linguagem e nas atitudes;
- Não descuidar da polidez e da pontualidade, por serem reflexos da boa educação;
- Promover, por todos os meios, a longevidade, em atenção ao princípio de que a saúde do corpo depende do bom estado da alma;
- Cultivar permanentemente o bom humor, por meio do qual as células orgânicas recebem influências salutares;
- Usar de comedimento no falar, vestir, trabalhar, dormir, alimentar e recrear;
- Dedicar-se integralmente à segurança e à estabilidade do lar; e
- Apurar ao máximo o sentimento fraternal da amizade para com as pessoas de bem, com a finalidade de intensificar a corrente harmônica afim do planeta, em benefício comum.
Ao propor o diálogo entre a influência do meio ambiente e o equilíbrio biopsíquico-espiritual, o Racionalismo Cristão pretende estabelecer transparência nos processos decisórios das necessidades humanas, eliminando o conflito interno gerado pela desarmonia entre o que é intencionado e o que efetivamente é produzido. Assim, algumas linhas de orientação e de ação de caráter interdisciplinar uma vez aplicadas no cotidiano como normas de conduta, promoverão não só o fortalecimento dos ideais de tolerância e não violência como o bem-estar físico e psíquico, tanto pessoal quanto coletivo.
À medida que constatamos em grande número de pessoas estados emocionais alterados, pensamentos confusos e disfunções morais como fatores que geram desequilíbrios psíquicos e doenças físicas, podemos afirmar, com segurança, que o estudo e a prática já secular dos preceitos espiritualistas defendidos e divulgados pelo Racionalismo Cristão dão resposta elevada e eficaz a esse flagelo humano.
Por fim, é importante explicitar que os tópicos abordados nesta reflexão se baseiam em estudos e pesquisas no campo da espiritualidade e, principalmente, na literatura racionalista cristã, que tem forma e metodologia próprias, robustecidas pela análise de outras escolas filosóficas.
Muito Obrigado!