Nesta reflexão procuraremos estudar a formação do ser humano integral como síntese de duas dimensões: a espiritual e a material, esta com diversas divisões segundo a densidade. Essas dimensões jamais existem isoladamente; Com certeza, combinam-se a todo momento e das mais variadas formas, desde as manifestações mais simples e comuns às mais elaboradas e extraordinárias. A magnitude dessa assunto nos convida a um maior aprofundamento.
Muitos estudiosos da espiritualidade, levados por uma abordagem insistentemente utilizada no passado, acreditam que o ser humano possui duas naturezas e, por conseguinte, vive duas vidas paralelas: uma espiritual e outra material. Tal entendimento, contudo, está em desacordo com a realidade de integração que deve ocupar a primazia de nossos estudos à luz dos ensinamentos do Racionalismo Cristão.
Para compreender em que sentido se deve tomar o vocábulo “integração” e por que ele é tão significativo, convém principiar dizendo que o verdadeiro estudo da espiritualidade consiste no estudo da unidade entre todas as coisas. Com efeito, quando estudamos a espiritualidade, esta proposta pelo Racionalismo Cristão, analisamos um sistema de manifestações e fenômenos ligados por um denominador comum: a ação constante do espírito na matéria.
É preciso compreender que a espiritualidade e a materialidade não são compartimentos estanques, tampouco conceitos que se anulam. Todas as suas dimensões se interpenetram, e em todas elas há possibilidades de desenvolvimento. Aí reside a estética do processo em que a humanidade se encontra inserida.
Ao estudarmos a espiritualidade como nos é apresentada pelo Racionalismo Cristão, isolamo-nos de todo impulso à ilusão decorrente da ideia de separatividade. A separatividade inexiste em nós – pois somos uma unidade formada de espírito e matéria – e, com muito mais razão, inexiste entre nós e os nossos semelhantes – posto que estamos interconectados e somos interdependentes. A vida humana é uma unidade que integra corpo e alma, e só podemos viver de forma plena quando nos tornamos conscientes desse fato.
A natureza integral do ser humano o coloca em contato com duas realidades distintas, mas indissociáveis: o espírito e a matéria. Esse é o fundamento que conduz o ser humano a não perder tempo vivenciando papéis distintos ao longo de sua existência. Quão desgastante e até caricato é o comportamento da pessoa que artificialmente busca dividir suas ações. Em determinados momentos, tal pessoa acredita estar vivendo a vida material e relaxa quanto ao palavreado e o teor das atitudes; em outros, crê estar vivendo a vida espiritual e, com mais atenção, desempenha gestos teatrais de concentração e boas maneiras. Verdadeiro absurdo! O campo da espiritualidade é o campo da realidade. Mediante o entendimento dessa verdade inquestionável, pode o ser humano ultrapassar as visões reducionistas e separatistas que pretendem fazer dele um intérprete parcial de uma realidade fantasiosamente fragmentada. Aquele que pretende viver duas vidas corre o risco de não viver nenhuma. Na verdade, unidade e integração são as colunas mestras de um viver equilibrado, espiritualizado e produtivo.