Lazer à luz da espiritualidade

Em nossas reflexões, vimos analisando as relações e circunstâncias que permeiam a vida social a partir de uma perspectiva transcendente. Nesse contexto, houvemos por bem estudar o tema do lazer pelo mesmo viés que caracteriza nossas pesquisas. Com certeza, o lazer estabelecido e conduzido em bases racionais e sensatas pode vir a ser, além de agradável mecanismo de refazimento das energias vitais, um elemento facilitador na obtenção de melhores resultados, não apenas na vida profissional, mas também nas relações pessoais e no equilíbrio psíquico. 

É preciso reconhecer liminarmente que o conceito de lazer encontra-se envolto em uma atmosfera de grande amplitude. Alguns o consideram apenas do ponto de vista cultural, relacionando-o com atividades artísticas ou práticas esportivas. Há também quem o limite, taxando-o como uma imposição social. Distanciando-se de visões parciais e limitadas, a análise racionalista cristã atribui ao lazer um grande valor, admitindo-o não como a antítese do trabalho, mas como uma saudável consequência deste, uma vez que toda atividade laboral reclama momentos de descontração. 

Para aqueles cuja realidade se limita ao que é perceptível pelos sentidos físicos e cuja satisfação pessoal se liga integralmente à aquisição de bens materiais – oriunda, naturalmente, da exploração alheia –, o lazer é visto como uma perda de tempo ou como uma atividade desqualificada. Infelizmente, quando uma pessoa circunscreve o mundo a sua volta ao campo de seus interesses mesquinhos, tem sua visão espiritual empalidecida e sua sensibilidade bloqueada. 

Nos períodos de lazer, a pessoa não deve nutrir nenhum interesse específico ou utilitarista, mas procurar abstrair-se dos compromissos de trabalho, que, sem ser menos importantes, têm outro espaço para sua realização. A situação que marca a leveza dos momentos de lazer se justifica por si mesma. Trata-se de uma atividade que não constitui um tempo desocupado e ocioso, mas um momento frutífero e prazeroso. 

Apesar de existirem, no tocante ao tema, inúmeras abordagens, que vão desde o romantismo até o utilitarismo, desde o conservadorismo até o liberalismo, pode-se afirmar que, da visão racionalista cristã, o lazer equilibrado e socialmente aceito é um legítimo fator de manutenção da ordem, da saúde psíquica e do bem-estar, tanto individual quanto coletivo, além de ser capaz de fomentar a criatividade e a espontaneidade. 

Enquanto se diverte sozinho ou em grupo, ouvindo música ou lendo um bom livro, caminhando ou praticando um esporte, dançando ou cantando, envolvido em trabalhos manuais ou redigindo descontraidamente um texto sobre um tema com que se identifica, o ser humano dissipa tensões e dilui estados agressivos. Ao elevar seus pensamentos para além do campo do pessimismo e da angústia, experimenta uma agradável sensação de relaxamento. 

Nessa sintética reflexão, faz-se necessário lembrar que os momentos de interioridade podem e devem ser considerados instantes de verdadeiro proveito, pois há no íntimo de cada ser humano inúmeros subsídios para seu fortalecimento emocional, subsídios tais que ele jamais encontrará procurando externamente.  

Podemos afirmar, afirmamos, para que não haja dúvida: os momentos de descontração serão sempre vazios e entediantes se o ser humano, por meio de seus pensamentos e sentimentos, não os criar primeiro dentro de si. Eis uma análise autenticamente abrangente do conceito de lazer. Medite sobre ela, estimado leitor, e verá como é intenso e prazeroso o encontro com nós mesmos e o reconhecimento de nossas próprias potencialidades. 

Muito Obrigado!