O senso de compromisso e responsabilidade que emerge do íntimo do ser humano que busca se aperfeiçoar moral e espiritualmente, bem como respeitar e dignificar as relações humanas, não representa apenas uma qualidade comum, mas uma virtude de alta significação, que se exterioriza em gestos de lealdade e fidelidade. Expomos que, sinteticamente, a lealdade e a fidelidade representam, no campo das relações intersubjetivas, uma expressão autêntica da conjugação harmônica do respeito que o ser humano deve a si mesmo com a necessidade que tem de amar e respeitar seu semelhante.
As relações comerciais, os empreendimentos, o trato mercantil, a concorrência e as inúmeras iniciativas econômicas não podem ser vistas como atividades alheias à espiritualidade. Trata-se, na verdade, de expressões dignas do amor ao trabalho, da inteligência e da criatividade, que permitem o desenvolvimento das faculdades e talentos próprios do espírito, desde que a ética, a lealdade e a fidelidade estejam presentes como valores inegociáveis.
Certamente, a amizade é um dos sentimentos mais belos, sublimes e lídimos que o ser humano possui. A própria sonoridade do vocábulo produz uma emoção boa, que evoca alegria, aproximação, entrega, reciprocidade, confiança e sintonia de ideias e conceitos. Contudo, a autêntica amizade, fruto de uma comunhão espiritual que não comporta a motivação por interesses pessoais, só pode ser estabelecida quando a sinceridade e a alteridade, a estima e a consideração se fazem presentes e, sobretudo, quando a lealdade e fidelidade lhe servem de alicerce.
A vida a dois tem suas notas características. Por vezes, é tida como um impulso para a satisfação pessoal, ou um simples recurso para o cumprimento de determinados padrões estereotipados e egoístas presentes na personalidade humana. Esse pensamento, porém, é deveras limitado: a união de duas pessoas que se amam e se admiram representa expressão plena de amor.
Esclarecendo-se a dimensão superior do amor e tendo-se presente seu horizonte espiritual, é necessário admitir que sem o exercício constante e renovado da lealdade e da fidelidade, isto é, sem a aplicação prática dessas virtudes, esvai-se o sentido de complementariedade que marca a vida a dois. Quando, no convívio íntimo entre duas pessoas, passa a imperar a mentira, o egoísmo e a mesquinhez, pode-se dizer que o amor foi desconsiderado e degenerado em um sentimentalismo ligado às emoções superficiais e efêmeras.
A importância da lealdade e da fidelidade no casal pode e deve ser transportada para toda a família. Uma reunião artificial de pessoas que não são leais entre si, nem fiéis ao compromisso de honrar e dignificar os laços sanguíneos e afetivos, não pode ser considerada, do ponto de vista espiritual, propriamente uma família, pois esta pressupõe – além de muito amor e renúncia – lealdade e fidelidade.
A perseverança na conduta ética logra-se por meio da absorção dos valores da espiritualidade. Quando o ser humano contempla a vida em seu aspecto mais amplo, praticando o bem e cumprindo os compromissos assumidos com fidelidade, lealdade e diligência; quando, tendo se excedido em algo, logo afasta de si os impulsos contrários a seu desenvolvimento, retomando o domínio de si mesmo e aprendendo as lições implícitas nos eventuais reveses que experimenta, põe-se em condições de compreender a importância de conduzir-se sempre de forma ética e valorosa. É mister que o ser humano reconheça que deve canalizar suas energias e talentos para o desenvolvimento de suas faculdades morais, visto que é por meio delas que terá uma melhor compreensão da realidade que o cerca.
Procuramos demonstrar no transcurso desta reflexão que a essência da honorabilidade ou da atitude ética consiste na fidelidade, na lealdade e no dever que o ser humano tem de procurar o autoaperfeiçoamento de forma progressiva e dentro de um estilo de vida que respeite sobretudo a si mesmo, mas também a família, a amizade, enfim, as relações interpessoais em todos os níveis; que assegure igualmente o desenvolvimento de outros seres humanos, pois o exercício da honradez e da inteireza moral assume seu ápice no respeito entre os semelhantes, como nos ensina o Racionalismo Cristão.
Muito Obrigado!