Liberdade de escolhas

Mário Marinho, militante da sede mundial do Racionalismo Cristão.

Todas as sociedades constituídas procuram normatizar a atuação das pessoas perante a coletividade através de leis que visam ao equilíbrio, à harmonia na convivência em grupo, e a punir aqueles que as transgridam, afastando-os da convivência social. Esta é uma forma necessária de fazer com que as leis humanas sejam cumpridas e os cidadãos de bem possam exercer suas atividades tranquilamente.

Poderíamos dizer que estes são cerceados no uso do seu livre-arbítrio por praticarem o mal, mas a justiça humana é falha e muitas pessoas conseguem escapar às suas normas e se acham intocáveis por não saberem que estão subordinadas a uma lei maior de caráter transcendente: a lei de causa e efeito, que as fará colher em tempo adequado aquilo que plantaram. É a verdadeira justiça.

Porém, não a considere uma lei punitiva, mas regenerativa em que o espírito terá uma gama de oportunidades de aperfeiçoamento através do bom uso que fizer do livre-arbítrio em vidas sucessivas de posse de um corpo humano; mas sempre com maiores dificuldades, consoante as faltas cometidas, que se constituirão em desafios impostos pelo próprio espírito para o cumprimento dessa lei evolutiva.

A Inteligência Universal, através dessa lei, dota o espírito, quando assume um corpo humano, da capacidade de exercer suas escolhas e por elas se responsabilizar durante todas as suas múltiplas existências.

Escolhas estão constantemente presentes em nosso dia a dia, desde as mais simples, como a roupa que iremos vestir, a comida que iremos comer, se iremos a pé ou de carro etc.; ou as mais complexas, como o político que iremos escolher para nos representar, a atitude a tomar perante as inúmeras diferenças existentes em um planeta de escolaridade, a escolha do tipo de educação que iremos dar aos nossos filhos perante a infinidade de apelos existentes gerados pelo avanço da tecnologia.

Mas fazer avaliações e exercer escolhas não significa arvorar-se no direito de julgar e execrar o nosso semelhante que pensa diferente de nós.

Um conceito que vem sendo bastante destacado atualmente na mídia é baseado na palavra respeito. E ele vem ao encontro do que a filosofia espiritualista preconiza: o respeito ao próximo, a aceitação das diferenças, o acatamento ao direito de escolha individual, a consideração ao livre-arbítrio do nosso semelhante.

O livre-arbítrio é a faculdade mais importante do espírito de posse de um corpo humano, quando adquire o direito de utilizá-lo tanto para o bem quanto para o mal, dependendo tão somente do seu raciocínio e da sua vontade, e por isso precisa ser respeitado pelos semelhantes, desde que não firam as normas constituídas pela sociedade.

E esta atitude é acatada até mesmo pelos espíritos do Astral Superior que apenas coíbem a sua manifestação por parte dos espíritos desprendidos de corpo físico e estacionados no Astral Inferior, auxiliando-os com seu arrebatamento, a prosseguirem em sua evolução espiritual cumprindo outra significativa lei evolutiva: a de sucessão de vidas corpóreas.

Não existe, portanto nada que o ser humano faça – desde que não viole as leis constituídas pela sociedade – que possa ser motivo de revolta exacerbada ou antagonismo por parte da pessoa que estude a espiritualidade, principalmente na questão tocante à costumes, crenças, religiões e outras formas de pensamento, que precisam ser aceitos e abordados sob um aspecto moderado, respeitoso, condizente com os tempos atuais para que não se constituam em preconceitos.

 Saber conviver com as diferenças também é uma forma de nos melhorar intimamente.

O Racionalismo Cristão preza acima de tudo esta aceitação senão regrediria a outros tempos de “caça às bruxas” que foi praticada em outras eras, em flagrante desapreço às diferenças e à individualidade, o que se constituiu em puro preconceito e desrespeito.

Imbuídos desse entendimento, aprendemos a olhar para dentro de nós; saber como estamos agindo e não nos ocupar nem preocupar com aquilo que outros possam estar fazendo, e, consequentemente não julgar, pois cada um é responsável pelas suas próprias ações; e como espíritos ansioso por evoluir, futuramente, serão seus próprios juízes.

Se sabemos que tivemos inúmeras outras existências em corpo humano e delas nos esquecemos, certamente aquilo que hoje abominamos, podemos ter sido capazes de praticar. Então por que julgar o semelhante?

Não que percamos a capacidade de avaliar, de fazer escolhas, pois precisamos tomar decisões diariamente, principalmente aquelas importantes relacionadas à nossa participação na sociedade.

Para exercer opções precisamos raciocinar, analisar, tirar conclusões.

A humanidade vem evoluindo e aquilo que em outras épocas pareceriam aberrações onde as pessoas eram discriminadas e viviam em constante flagelo, hoje vem sendo aceitas pela sociedade, pois estão passando a entender que cada ser humano é uma individualidade, capaz de tomar suas próprias decisões.

Mas a ideia é que procuremos entender o transcendental, como por exemplo: as motivações do espírito ao assumir um corpo físico e recusar o seu sexo de origem, o que vem acontecendo com muitas crianças em tenra idade deixando perplexos os pais e a sociedade sem que encontrem uma explicação, mas aceitando e as tratando com carinho.

Seriam elas consequência de vidas e mais vidas de experiências em um mesmo sexo e que agora necessitam de uma adaptação?

A transcendência sobre tal assunto não nos permite, na condição humana, ter o domínio total sobre tal acontecimento mas continuamos estudando e querendo saber.

Entendemos que um dia esses pais chegarão a uma conclusão através do estudo da espiritualidade, mas sem nos predispor a julgar; por isso é aconselhável mais uma vez respeitar, aceitar e raciocinar sobre as possíveis causas.

Combater em nós as ideias preconcebidas e a maledicência é nos colocar abertos a novas concepções que se apresentam com a evolução do próprio planeta de escolaridade.

A filosofia racionalista cristã não é estática ela vem avaliando as várias mudanças ocorridas na sociedade, estudando e se adequando a uma melhor forma de divulgação de seus princípios, abolindo dogmas, misticismos e preconceitos, em uma sociedade cada vez mais à procura da espiritualidade e por isso, acreditamos que precisamos estar abertos a estas transformações para maior divulgação dos seus ensinamentos.