No mundo contemporâneo, caracterizado não somente pela diversidade de modos de ser, ideologias e pontos de vista, mas sobretudo pela multiplicidade de categorias de comunicação, o uso adequado da linguagem e a eficiência das formas de expressão são requisitos cada vez mais necessários e importantes no campo das relações sociais – não discordamos. Todavia, a linguagem, como procuraremos demonstrar na presente reflexão, não deve apenas se cercar de protocolos, métodos e convenções, mas também se abrir ao fluxo da espiritualidade, a fim de elevar o processo comunicativo.
É inegável que ter um bom domínio da língua, sabendo exprimir-se de forma adequada e conforme o ambiente, identificar as eventuais convenções que regem as situações sociais e fazer abordagens claras, ordenadas e respeitosas, significa, de certo modo, estar bem preparado para interagir com pessoas, grupos e instituições. Contudo, ao refletirmos, através do prisma ampliador e integrador da espiritualidade divulgada pelo Racionalismo Cristão, sobre os conteúdos até aqui apresentados, somos solicitados a reafirmar que não basta que as pessoas se preparem para interagir formalmente com os semelhantes ou demonstrem inteligência e sagacidade nas respostas; tampouco é suficiente que saibam argumentar com lógica e convicção. É preciso um passo a mais: que ajam com bom senso, prudência, humildade e sabedoria para evitar discussões infrutíferas, afastando-se das polêmicas e dos conflitos.
Para que a sociedade evolua de forma sustentável do ponto de vista ético-moral e sobretudo para que os seres humanos aprimorem seu caráter, é imperativo que o maior número possível de pessoas deixe de procurar estabelecer meras relações protocolares e artificiais e passe a se empenhar em transformar positivamente a vida do próximo.
A linguagem, a partir da perspectiva da espiritualidade, deve ser um instrumento que possibilite a recíproca influência benéfica entre os membros de uma comunidade. Tal uso implica o esclarecimento espiritual, que possibilita, por seu turno, mais do que bons relacionamentos: enseja o zelo pela amizade, o crescimento conjunto, o desenvolvimento partilhado e a evolução coletiva.
Ora, se a linguagem, verbal ou não verbal, expressa pela palavra, música, teatro, fotografia, gestos, artes plásticas etc., representa a expressão individual e social dos seres humanos, ensejando ao mesmo tempo a comunicação entre os membros da sociedade, interpenetrá-la com as fulgurantes luzes da transcendência é condição indispensável ao êxito do processo comunicativo. Assim sendo, defendemos que os valores transcendentes e espirituais representam – atente-se bem – os elementos fundamentais da linguagem.
Ao descobrir o alto valor da comunicação e da linguagem, o ser humano compreende a própria dignidade dos relacionamentos, aprendendo a se abrir ao influxo positivo da boa convivência.
Há que notar – e não é difícil fazê-lo – que a expressão pomposa, a discussão contaminada de vaidade e a vã celebridade, típicas de certos polemistas, que, apesar de lançar intermináveis indagações, nada respondem satisfatoriamente, jamais podem ser consideradas como autêntica linguagem. Esta, sem dúvida, deve ser estabelecida, reiteramos, sobre bases espiritualistas, pois apenas e tão somente os princípios e valores da espiritualidade, como são aqueles defendidos pelo Racionalismo Cristão, são capazes de pulverizar e dissolver argumentos tolos e pugnar pela sabedoria.
Na esteira do que dissemos, vale mencionar que aqueles cujas ideias e expressões não são, em um primeiro momento, bem acolhidas, mas passam a ser aceitas e aplaudidas repentinamente apenas porque receberam o beneplácito de alguma autoridade, que as fez migrar da indiferença ao elogio, devem ficar cautelosos, pois o que dá autenticidade a uma ideia ou expressão são os valores da espiritualidade, jamais a autoridade, o cargo ou a função de quem quer que seja.
Amigos e amigas, esperamos sinceramente que, ao término da presente reflexão, não restem dúvidas acerca dos elos de interdependência existentes entre a linguagem e a espiritualidade. É precisamente por conta dessa notável interconexão que ao ser humano de bem, ou seja, à pessoa espiritualizada, cabe, com imensa razão, o uso de uma linguagem que seja elevada e, na medida do possível, bela. Sim, elevada e bela. Elevada porque se fundamenta na autenticidade, que tudo sublima; bela porque se transpassa pelo benquerer, que tudo enobrece e vivifica.