O mundo está em guerra – um contra todos, todos defendendo-se como podem. Os que dispõem de armas, usam-nas; os que não as têm tendem a sucumbir, aniquilando seu povo, perdendo suas poucas empresas e beirando a miséria e a fome. Pelo andar da carruagem é fácil deduzir que adiante, na louca escalada do gênio do mal, pouco ou nada restará para os países mais pobres. Este quadro trágico poderá ser o final da sequência de sandices que vêm sendo praticadas pelo presidente dos Estados Unidos que, nada tendo que fazer em benefício de seu país sem afetar o dos outros, por certo passa dias e noites bolando qual a próxima agressão a praticar, econômica e moral.
Moderno, atualizado, acompanhando o desenvolvimento da tecnologia, agride sem aparato bélico, mas com a caneta, nem a própria, mas a dos homens de confiança que o seguem cegamente. Assina aqui, assina ali, e vai lançando ao mundo suas mensagens apavorantes. Onde vai parar essa escalada alucinante? Ao mesmo tempo que espeta assopra, num momento eleva à estratosfera a tarifa para as importações de determinados países, noutro faz divulgar pelos seus meios de comunicação que está confiante num acordo com seu principal “inimigo”. E chega a elogiar o mandatário do país que escolheu como vítima de seus treinamentos de boxe econômico.
O homem do topete louro tirou a China para dançar, mas os passos não estão combinando, vão no mesmo ritmo, mas em sentidos opostos, sem tropeços, porém. Quer com a carranca usual, quer com momentos escassos de sorriso franco, vai o maldoso castigando e aterrorizando a China, os chineses e os demais países e nações.
A Europa se une e estuda estratégia para enfrentar o avanço tarifário dos Estados Unidos sobre suas exportações para aquele país. O bloco não é precipitado e aparentemente aguarda o momento exato para aplicar o remédio certo na dose precisa. Canadá e México parecem estar imobilizados, acomodados com a violência dos EUA sobre suas exportações. Na Ásia, salve-se quem puder. E restam os pés-rapados, entre os quais se inclui o Brasil, com a taxação de 10 por cento, mas que está mal com a alta taxação sobre exportações de alumínio e aço (25%) e o vaivém das discussões sobre a tarifa para o etanol.
As bravatas começaram com as deportações de imigrantes em situação irregular e demonstração de desrespeito à dignidade humana por tratá-los como irracionais ou como bandidos sanguinários, devolvendo-os acorrentados aos países de origem. Depois surgiram as ameaças de anexar a Groenlândia – acrescentar uma estrela à Bandeira – e retomar o Canal do Panamá. Haja fôlego para acompanhar tanta lorota sem revoltar-se. Espera-se que ele não anuncie que o Pão de Açúcar é ponto turístico dos Estados Unidos e que o gramado do Maracanã será remarcado para disputas de American football.
Como se disse nas primeiras linhas deste artigo, os que dispõem de armas usam-nas para defender-se com eficácia dos ataques. E a China tem armas poderosas. À medida que os EUA elevavam as tarifas de importação para produtos made in China, a China acompanhava o toque da banda e elevava os percentuais das importações de produtos norte-americanos. O empurra-empurra chegou a 145% X 125%. A essa altura, o líder chinês veio a público dizer que no confronto tarifário não há vencedor. Pode-se, então, acrescentar que todos perdem. Um dos caminhos da perda coletiva é o empanturramento de produtos chineses nos mercados que praticam tarifas de importação razoáveis, daí o enfraquecimento da indústria local face aos custos de produção serem mais elevados – insumos, salários, impostos – que os dos produtos importados da China. O comércio mundial assiste a essa disputa insana, mas não se atreve a acompanhá-la. Como cantou o poeta, é muita matraca pra pouco berro.
A China tem as armas, enfrentou o malvado, mas o surto do republicano já resultou em fechamento de fábricas na China, causando o desemprego de milhares de trabalhadores e vai ter a mesma repercussão, pelo mesmo motivo, em países que serão inundados por produtos de fabricação chinesa. Daí, não é terrorismo verbal dizer que países de economia parca, mais dia menos dia, terão que administrar a miséria sem poder saciar a fome de seus cidadãos. Não é terrorismo, também, observar o sobe-e-desce das bolsas de valores pelo mundo, empresas fortes que se desvalorizam, e cotações do dólar, moeda já fragilizada. Poderão os Estados Unidos sair da crise interna que seu presidente criou?
A Razão registrou na edição de março, 25, aproveitando este espaço, a velha sentença: “Neste confronto entre o mar e as pedras, por certo, as maiores vítimas serão os mariscos.” Entre os mariscos está o Brasil, penalizado com 10% nas tarifas de todos os produtos, excluídos alumínio e aço. Na relação Brasil – EUA, o Brasil registra déficit comercial de US$ 48,2 bilhões, predominância da economia norte-americana, segundo números da série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Em 2024, os números revelam equilíbrio na relação comercial com os Estados Unidos. Foram exportados US$ 40,33 bilhões em produtos, e importados US$ 40,58 bilhões, resultando em um déficit comercial de US$ 253 milhões para o Brasil.
Segue comprando mais dos EUA e lhes vendendo menos este Brasil de rimas mil.