A pessoa que se conduz na vida de acordo com as leis evolutivas em sua consciência favorece o próprio processo de aprimoramento pessoal, agindo com ordem, método, disciplina e, sobretudo, lucidez. Procuraremos abordar nesta reflexão o tema da lucidez pelo prisma ampliador da espiritualidade divulgada pelo Racionalismo Cristão, a fim de realçar o valor que ela possui para o desenvolvimento ético-espiritual do ser humano.

Numa tentativa de formulação conceitual, acreditamos que a lucidez é a capacidade conquistada pela pessoa que compreendeu que, sem sinceridade, honestidade, empatia e atenção – os valores da espiritualidade –, a vida se torna uma experiência vazia e sem sentido, perturbada e obscurecida pela materialidade.

A lucidez sempre é exercida quando nos debruçamos sobre as realidades interiores e nos abrimos ao influxo da espiritualidade presente em nossa essência, que nos estimula ao desenvolvimento dos atributos e talentos espirituais por meio da emissão de bons pensamentos e da prática do bem. A lucidez compreendida à luz da espiritualidade proporciona uma visão sem mácula da realidade que nos envolve, gerando uma energia tão positiva quanto restauradora.

Uma das principais características da pessoa lúcida é a valorização da palavra empenhada e o cuidado em não contrair compromissos acima de suas possibilidades. Percebam que há um fator de suma importância que influencia a honestidade e a pontualidade: a clareza das ideias, ou seja, a lucidez. A pessoa que não a possui não discerne suas prioridades; é incapaz de efetuar uma lista de tarefas ou de estabelecer referenciais que a orientem. Com isso, desgasta-se com facilidade, desperdiçando suas energias.

Quanto mais o ser humano se dedicar à ampliação de suas qualidades e faculdades, tanto melhor saberá agir diante dos casos concretos que a vida proporciona a todo instante, pois suas atitudes espelharão os conteúdos retos ditados por sua consciência. Para tanto, é preciso lucidez, pois a consciência atinge sua máxima capacidade apenas quando iluminada pelas luzes do esclarecimento espiritual.

A reflexão atenta, comedida e ativa alimentada pela energia intuitiva da lucidez proporciona uma célere e acertada tomada de decisões, sendo o veículo privilegiado do discernimento e da prudência. A lucidez proporciona o reconhecimento das inúmeras potencialidades interiores que possuímos e que muitas vezes estão ocultas por densas camadas de ilusão e fantasia.

Nos termos em que a analisamos na presente reflexão, a lucidez não pode ser concebida como uma ideia, nem como uma abstração. Ora, a lucidez espiritualmente considerada à luz dos ensinamentos do Racionalismo Cristão é uma capacidade efetiva que se manifesta na ação prática. Não há nada mais eminentemente digno do que o agir de forma lúcida; não há nada mais racional do que o reconhecimento por parte do ser humano de seus limites e capacidades para agir em consonância com eles. Aqueles que não estão dispostos a renunciar a sua independência espiritual devem buscar esclarecer-se cada vez mais, a fim de que a lucidez se incorpore à própria vida de tal maneira que sua presença seja um farol e uma referência a seus semelhantes.