Meta universal e atemporal

Ultrapassar as contingências desagradáveis de uma determinada época, vivenciar com dignidade e valor as circunstâncias adversas de um período histórico, agir com sobrançaria e altivez no transcurso da existência física é possível ao ser humano quando ele possui uma meta de vida universal e atemporal, como a de esclarecer-se e espiritualizar-se sempre e cada vez mais, sem prescindir do convívio fraterno e harmônico com os semelhantes. Procuraremos desdobrar tal realidade na presente reflexão.

O esclarecimento espiritual, expressão que frequentemente se repete em nossas reflexões – e não poderia ser diferente –, auxilia os seres humanos no processo de autoconhecimento e identificação do verdadeiro objetivo da vida, que é o aprimoramento ético, moral e espiritual. O esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão permite que cada pessoa se reconcilie consigo mesma e interaja positivamente com a dimensão cotidiana da vida, que aprenda a lidar com racionalidade e inteligência com as exigências do trabalho, as solicitações da família, os desafios tecnológicos etc.

A lucidez espiritual não se restringe ao ato de conhecer as situações e fenômenos de maneira mais ampla, visto que é uma virtude que se insere na vida de maneira integral, fazendo com que o ser humano esclarecido assimile os aprendizados decorrentes do dinamismo existencial e aja com nobreza, lealdade e altruísmo.

Parece-nos impossível falar em esclarecimento espiritual, conhecimento transcendente, verdades metafísicas ou coisa que o valha sem mencionar a relação direta desses temas com a realidade objetiva, uma vez que espiritualidade é realismo. Nesse sentido, a meta universal e atemporal de autoconhecimento e espiritualização referida em nossa introdução não pertence ao campo do abstrato; pelo contrário: é uma meta ou objetivo real, que produz efeitos diretos na realidade de cada um e da humanidade como um todo.

O ato de pensar, que, sem dúvida, é um ato espiritual, quando realizado de forma refletida por uma pessoa consciente, é, a nosso ver, um gesto mais concreto do que abstrato. Ora, quando pensamos, pensamos em algo que, na maior parte das vezes, existe objetivamente na realidade física ou pode vir a existir. Não nos esqueçamos de que muitos objetos e tecnologias que nos são de grande valia na atualidade foram, antes que de fato existissem, engendrados pelo pensamento, que é a antessala da realidade.

Fizemos essa digressão conceitual e filosófica para realçar a ideia de que não existe uma separação entre as dimensões física e espiritual: ambas se interpenetram de tal forma que, quando estabelecemos como meta de vida nosso esclarecimento e espiritualização, estamos estabelecendo uma meta elevada e sublime que deve se concretizar na experiência direta e real do dia a dia, e não ficar apenas no campo das especulações ou projeções mentais.

A meritória intenção de esclarecimento e espiritualização destacada na presente reflexão representa, além de uma meta universal e atemporal da mais alta importância, que permite a superação dos desafios circunstanciais, uma força que mobiliza a energia da vontade, gerando um senso de compromisso que faz com que o ser humano seja o arquiteto de seu próprio ser, que se conduza de maneira coordenada e domine tendências contraproducentes, transpondo barreiras e testemunhando com seus gestos o mais alto apreço pela vida e pelo convívio fraterno com seus semelhantes.