Existem vários tipos de monismo, a saber: monismo idealista, monismo neutro, monismo anômalo, monismo de Espinosa e monismo materialista. Neste tema estamos interessados no monismo materialista, que defende que todos os objetos do Universo são compostos por uma única substância e que existe apenas uma única realidade no mundo, a realidade material. Os filósofos e a grande maioria dos cientistas consideram que tudo na Terra, de diversas formas, é visto e praticado sob a ótica do monismo materialista, também conhecido como fisicalismo, doutrina filosófica que considera que todas as coisas e fenômenos provêm dos átomos e suas partículas.
De outro lado, temos o dualismo, que é uma corrente filosófica que considera a realidade humana dividida em duas partes, cada uma independente e oposta da outra. Para exemplificar, citamos o bem e o mal, luz e sombra, direita e esquerda, cara e coroa de uma moeda e assim por diante. Em qualquer linguagem desenvolvida pelos seres humanos, temos os sinônimos e antônimos ou seus opostos, o que as enriquece sobremaneira. Todavia, a mais importante concepção dualística está no conceito espiritualista de Força e Matéria, espírito e corpo que permeiam todo o Universo. A psicologia adota mente e corpo, duas substâncias distintas.
A concepção dualística já era considerada na antiguidade grega entre os pré-socráticos e, posteriormente, difundida com os ensinamentos de Platão, estendendo-se pela idade média e chegou até nós pela filosofia moderna que adota o dualismo com suas partes antagônicas, espírito e corpo, como tendo existência real e distinta. O filósofo, matemático e físico René Descartes (1596-1650), criador do racionalismo e pai da ciência moderna, colocou em evidência o dualismo afirmando que a mente existe fora do corpo, já que o corpo se transforma com a morte de todos os seres vivos, ou seja, o corpo não pensa por si mesmo.
Filosofia da mente. O dualismo contempla dois tipos de fenômenos ou categorias no mundo, o mental e o físico, enquanto o materialismo insiste apenas em um tipo de fenômeno, o material. Há no dualismo um problema que é a dificuldade em conciliar a coexistência do que é material com o que é mental por serem duas categorias distintas. Assim, o materialismo nega peremptoriamente o nosso estado mental de sensibilidade, conhecido como consciência de nós mesmos, por não ter explicação material, tornando, assim, insolúvel para os cientistas esse dilema.
No dualismo enveredamos na filosofia da mente, caminho oposto do percorrido pela neurociência, que tem por fundamento o monismo, segundo o qual tudo provém da matéria.
Um grande estudioso moderno da filosofia da mente é John Rogers Searle (Denver, 31 de julho de 1932), um brilhante filósofo analítico e escritor norte-americano que foi professor emérito da Universidade de Berkeley, com uma dezena de obras publicadas sobre o assunto.
Esse filósofo, que iniciou estudando a filosofia da linguagem, procurando saber como funciona a linguagem através das palavras, percebendo que elas não são simplesmente ruídos de ondas sonoras, mas também esses sons são um fenômeno físico natural que têm significados próprios. Com esse pensamento, Searle entrou no campo da filosofia da mente tentando descobrir como é que a partir da Física (os sons das palavras) encontramos o significado das palavras e das ideias que elas carregam.
É constrangedor constatar que nenhum filósofo, ao longo dos séculos, não teve a percepção de avançar na questão do dualismo. Nem mesmo Descartes conseguiu extrair do dualismo o conhecimento da ação da Força sobre a Matéria, que existem disseminadas por todo o Universo. Nenhum filósofo da mente disse o que precisava ser dito e, por isso, não conseguiram ultrapassar a barreira da materialidade que permeia todas as três principais ciências – a Física, a Química e a Biologia. Todas elas continuam ancoradas no monismo ou fisicalismo redutível ou não. Searle afirma em suas obras que nesse sentido Descartes foi um desastre. Por isso os cientistas têm dificuldade em adotar a visão transcendental do Universo e suas leis evolutivas.
O problema do corpo e mente. Embora Descartes acreditasse que o corpo e a mente fossem entidades radicalmente diferentes, com propriedades ou atributos distintos e incompatíveis, cada um existe no espaço e tempo universal. O corpo é integrado de átomos e partículas – as substâncias palpáveis e observáveis. Já a mente é imaterial, bem como a consciência se estende ao espaço e é divisível. Cada uma delas existe sem a outra. Isso levou Descartes ao conceito de subjetividade e a concluir que cada pessoa possui consciência própria, que deve ser algo distinto, além e acima das propriedades neurais subjacentes do cérebro. Apesar disso, os filósofos e a grande maioria dos cientistas rejeitam radicalmente o dualismo em favor do materialismo.
Conclusão. No mundo em que a ciência e a tecnologia caminham de vento em popa, predomina a corrente filosófica do monismo materialista ou fisicalismo em que todos os fenômenos e tudo que existe deriva exclusivamente dos átomos e suas partículas físicas. De outro lado, é inegável que o mentalismo existe realmente e leva a três vertentes: ao mentalismo consciente, que têm subjetividade e intencionalidade, ao mentalismo inconsciente e ao mentalismo causal, que determina os eventos físicos de nosso mundo segundo a lei de causa e efeito. Todas essas correntes de pensamento têm certa consistência entre si. Mas não basta essa consistência para criar a realidade da vida. Então, perguntamos aos cientistas de todo o mundo: onde está a consciência? onde está a mente? de onde vem a vida? Da consciência ou do cérebro? São perguntas ainda sem respostas pelos neurocientistas, os cientistas do cérebro.
Essa frase, citada por Searle em suas obras mais recentes “Há um sentido em que o materialismo é a religião de nosso tempo” diz tudo. Os biólogos e neurocientistas em face à dicotomia cartesiana entre matéria (corpo) e consciência com sua visão materialista reducionista não podem oferecer qualquer solução plausível para explicar o que é a mente.