Muitas formas de comunicação e diálogo tradicionalmente utilizadas para estabelecer relações sociais e manter contatos pessoais encontram-se hoje enfraquecidas pelo ritmo acelerado imposto a todos pela atualidade e pelas tecnologias a ela relacionadas. Esse assunto reveste-se de tamanha relevância e complexidade que houvemos por bem analisá-lo na presente reflexão à luz dos ensinamentos do Racionalismo Cristão.
Uma sociedade em que muitos falam, mas poucos se fazem ouvir, em que todos querem expor seus pontos de vista, mas nem todos têm a disposição necessária para se pôr no lugar do semelhante, tende a ser uma sociedade desorganizada e turbulenta, que enfraquece as capacidades humanas, restringe as possibilidades de entendimento, desune, divide e, por fim, alimenta o desequilíbrio emocional e a cultura do individualismo em seu meio.
Ao contrário do que acreditam os pessimistas, o silêncio, a capacidade de ouvir e a empatia não são, de modo algum, concepções ilusórias, impossíveis de realizar na vida prática; antes, representam a exteriorização objetiva da ética e de valores da espiritualidade como os defendidos pelo Racionalismo Cristão, tais como a comunicação sincera, o respeito mútuo, a autêntica disposição em auxiliar, o amor ao próximo e a consciência de que o diálogo respeitoso e fraterno estabelecido com calma é capaz de assegurar a todos os envolvidos conforto emocional, harmonia e paz.
Em uma época como a atual, em que as possibilidades de comunicação e intercâmbio entre as pessoas se ampliaram consideravelmente, vivenciamos de maneira contraditória inúmeros desencontros e incertezas. As conversas, não raras vezes, se desenvolvem em um clima turbulento e confuso. Muitos seres humanos não se entendem, ainda que falem a mesma língua e vivenciem situações semelhantes. E por que isso se dá? Porque embora a humanidade tenha avançado no campo tecnológico de forma admirável, não avançou na mesma proporção na capacidade de escutar e de considerar o ser humano como portador de valor e dignidade insuperáveis.
Quem valoriza o diálogo sincero e afetuoso, tradicionalmente concebido ou adaptado às circunstâncias modernas, demonstra apreço à espiritualidade e ao processo de autoaperfeiçoamento em que estamos inseridos. O diálogo ajuda a viver, ensina e corrige; registra anseios, vocações, certezas e incertezas, fornecendo, ao mesmo tempo, os subsídios éticos e morais que sustentam e fundamentam as relações humanas. Deve ser, portanto, valorizado, e sua relevância aumenta à medida que nos empenhamos em nos espiritualizar e vencer os desafios interiores.
Por tudo o que dissemos, não é de se estranhar, pois, que o materialismo, com sua exagerada valorização do consumo e do egoísmo e seu presunçoso desapreço pelos valores do espírito, se insurja contra todas as iniciativas de estabelecer comunicações virtuosas e diálogos elevados, maduros e interessados tão somente em estreitar laços de consideração e em estabelecer e consolidar vínculos afetivos.
Em verdade, a presente reflexão, em que abordamos a relevância da comunicação e do diálogo, traz em seu âmago um conjunto de outras reflexões não menos importantes, que decerto prenunciam aprofundamentos e aprendizados proveitosos. Há nessa multiplicidade de reflexões uma flagrante convergência de propósitos: aproximar pessoas, incentivar pensamentos e sentimentos elevados, combater o egoísmo, fortalecer ânimos, estimular boas práticas de convivência, enfim, promover a espiritualização do gênero humano por meio de interações respeitosas e afetuosas – nossa missão maior, que queremos eloquentemente reafirmar.