Evidências da existência de Deus segundo filósofos
Entre os filósofos da antiguidade, foram Platão e Aristóteles os primeiros que iniciaram os debates sobre a existência de Deus, formulando argumentos que hoje são conhecidos como ontológicos e cosmológicos, respectivamente. A base da argumentação usada por Platão foi o atributo da perfeição e por Aristóteles o raciocínio e os princípios fundamentais da vida humana. Nós nos limitaremos a citar apenas as ideias dos cinco principais filósofos que trataram desse importante e desafiador assunto ao longo da história da humanidade.
Segundo Platão. Platão (427–347 a.C.) teve como mestre Sócrates (469– 369 a.C. ) e como discípulo Aristóteles (384–322 a.C.), tendo fundado a famosa Academia de Atenas. Ele viveu numa época em que os gregos cultuavam muitas divindades, ou seja, eram politeístas. Para não ofender o povo grego e suas leis e para não ter o mesmo destino que Sócrates, que foi condenado à morte, teve que usar de muita cautela ao escrever o seu livro as leis e outras obras, em que os personagens (seus alunos) dialogavam com ele sobre muitos assuntos filosóficos da natureza das coisas e das divindades do Monte Olimpo. Ele se deparou com o seguinte dilema: como provar a evidência de um Deus único sem destruir a crença politeísta do povo grego nas divindades instituídas pelos seus governantes nas leis gregas? Com muita habilidade ele conseguiu essa façanha através do diálogo literário, estratégia central desse e outros livros de sua autoria.
Vamos direto ao assunto. Platão baseou-se no conceito de que a “alma é idêntica à fonte e ao movimento primário do que é, foi e será” – o auto-movimento. Esse conceito é, também, a definição daquela mesma substância cuja essência é a Alma Universal ou Deus, que identificou como sendo a causa primeira. Esse seu argumento ficou, mais tarde, conhecido como argumento ontológico. Daí adveio a concepção dualista de mundo que considera as pessoas como constituídas de corpo e alma, e o cosmos como mundo ideal e mundo real.
Os principais seguidores de Platão foram o neoplatônico Plotino (205-270), no século III, e Santo Agostinho, no século IV (354-430).
Segundo Aristóteles. Quando Aristóteles (384–322 a. C.) nasceu Platão já tinha 43 anos, mas a despeito dessa grande diferença de idade, eles trocaram ideias durante a convivência na Academia de Platão. Com relação ao tema que estamos examinando eles tiveram ideias divergentes.
Aristóteles baseou-se em raciocínios e princípios fundamentais da vida humana para discorrer sobre as evidências da existência de Deus. Ele usou o princípio da não contradição (uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, quando examinada sob o mesmo aspecto) e o princípio da causalidade. Ambos esses princípios apoiam-se no raciocínio, sem interferência da fé religiosa e na orientação natural da razão humana. Ele observou que era impossível negar o fundamento necessário, pois seria o mesmo que negar a causalidade, que, por sua vez, é contingente e ontologicamente dependente da evidência dos efeitos gerados. Desse raciocínio decorre o fundamento de Aristóteles na inteligência e na ordem sistemática que existe no Universo. Por isso, mais tarde, esse raciocínio foi considerado como cosmológico, muito mais tarde aperfeiçoado com as cinco vias de Santo Tomás de Aquino. Aristóteles reconheceu que existe uma razão ordenadora (harmonia universal) e uma finalidade intrínseca natural. Sua conclusão: Deus é o princípio e o fim de todo ser existente e a mente é o sentido e a plenitude de toda ordem inteligente.
Segundo Plotino. Plotino (205–270) foi um filósofo neoplatônico, seguidor das ideias de Platão. Foi autor do livro Enéadas, no qual se perguntava por que Deus existe e por que ele é da forma que é. Seu ponto de partida foi a ideia do Bem nele, e respondeu que Deus se autoproduziu, e como supre-mo Bem criou a si mesmo. Ele é dessa forma porque essa é a forma Superior e a melhor forma de Ser. Ele existe nele, para Ele e para os demais seres e coisas, e tem a suprema liberdade da criação de tudo que existe.
Para Plotino, o Uno ou Inteligência Universal transcende o ser, a substância e a morte, compreende todas as coisas, é infinito e imaterial. É, também, o Uno que gera e conserva todas as coisas ilimitadamente. Não conseguimos entender, manifestar ou representar Deus. Ele cria as coisas como se fossem emanações que dele saem como a luz que sai de um astro luminoso e se espalha para tudo à sua volta. Dotado de pensamento superior ele pensa e cria o intelecto, sua representação. Por sua vez, o intelecto quando pensa, cria a alma, que é a representação do intelecto. Esse processo de criações sucessivas vai perdendo a identidade como acontece com cópias de cópias. Daí porque as coisas que têm origem em Deus vão tornando-se imperfeitas à medida que se afastam dele.
Segundo Descartes. Descartes(1596 – 1650), filósofo e físico francês, observou que todas as coisas têm origem em Deus. Ele idealizou três evidências para a existência de Deus, mas vamos restringir-nos à terceira prova, já que as outras já foram apresentadas por Platão e Aristóteles respectivamente. A terceira argumentação, por ser bem genuína e peculiar, é baseada no conceito da contingência do espírito. Eis seu raciocínio:
Descartes escreveu em seu livro Ouevres, páginas 166-169, em tradução livre, o seguinte: “Se tivesse poder para me conservar a mim mesmo, tanto mais poder teria para me dar as perfeições que me faltam; pois, elas são apenas atributos da substância e eu sou substância. Mas, não tenho poder para dar a mim mesmo essas perfeições; se o tivesse, já as possuiria”. Conservar aqui tem o sentido de “ter vida eterna”.
Assim, com esse simples enuncia-do, Descartes demonstra a existência de Deus a partir do fato de que não nos podemos conservar a nós próprios. Se não podemos garantir a nossa exis-tência ininterruptamente, mas apesar disso existimos, é porque alguém nos pode garantir essa existência. Esse al-guém é Deus.
Segundo Leibniz. Gottfried Wilheim Leibniz (1646-1716), filósofo e matemático alemão, criador do cálculo integral, concebeu as mônadas e acreditou que o Universo fosse formado por uma rede de conexões dessas substâncias, sendo Deus a Mônada Superior ou substância absoluta, da qual surgiram todas as demais. Para ele, Deus é perfeito e benevolente e isso é razão sufi-ciente para acreditar que ele existe de fato. E o mundo que ele criou é o melhor dos mundos. Seus fundamentos foram a contradição e a razão suficiente. Essa é uma demonstração a priori.
Sobre Immanuel Kant. De acordo com Kant (1724-1804), há uma impossibilidade em provar racionalmente a existência de Deus porque o conhecimento humano está limitado ao mundo fenomênico compreendido pela realidade física do espaço-tempo, da qual o planeta Terra faz parte. Isso porque não é possível conhecer racionalmente qualquer substância metafísica, porque essa forma de conhecimento transcende os domínios da ciência, da filosofia e até da intuição, que é limitada. Kant, em suas obras, especialmente na obra Crítica da razão pura, mais critica e refuta as argumentações dos filósofos que o precederam do que se esforça para apresentar sua argumentação. Em suas críticas ele aborda a existência de Deus sob três categorias, a saber, provas ontológicas, provas cosmológicas e provas físico-teológicas. Na obra citada ele afirma o seguinte: “A metafísica tem como objeto próprio da sua investigação apenas três ideias: Deus, Liberdade e Imortalidade, Tudo o mais de que trata esta ciência serve-lhe apenas de meio para alcançar essas ideias e a sua realidade”. Essa é a grande dificuldade da chamada Teologia Filosófica.
Conclusão. Percorremos um longo caminho para mostrar as evidências sobre a existência de Deus, para nós racionalistas cristãos, Inteligência Universal, e vimos as limitações que eminentes filósofos e teólogos de todos os tempos encontraram neste sentido. Nós podemos sentir a Inteligência Universal em nós mesmos e nos domínios da natureza como força inteligente e no homem como espírito, todas em evolução como parcelas ou emanações da Inteligência Universal, estando presentes e animando tudo que nos cerca. Basta estarmos bem atentos e vigilantes sobre as coisas sérias da vida e assimilar os ensinamentos que a filosofia Racionalismo Cristão nos passa através de suas obras, reuniões e palestras. Esta Filosofia nos oferece, gratuitamente, um grande manancial de informações disponíveis, também, na internet.