Este artigo é uma continuação de O acaso não existe – 1, publicado na edição de fevereiro de 2019. Nele, vamos discorrer sobre sincronicidade, coincidências, simultaneidade e campos mórficos ou morfogenéticos. Esses assuntos estão tão interligados que representam um esforço da ciência oficial para explicar o que o espiritualismo explica como processos intuitivos harmônicos ou simplesmente intuição.
O termo sincronicidade foi criado por Carl Jung, famoso psiquiatra suíço contemporâneo de Freud, mas dele divergindo na última fase de sua vida, pois Jung enveredou-se por uma linha psicológica mais consentânea com os conhecimentos espirituais da atualidade. Com esse conhecimento, Jung pretendeu explicar as coincidências significativas. Quem ainda não percebeu quantas coincidências significativas e espantosas acontecem em nossas vidas, inclusive na Física e na Biologia? Será que elas são causais ou são não causais, nesse caso, quando elas se referem a eventos indicados por fenômenos aleatórios inexplicáveis pela ciência oficial?
Em sua obra Sincronicidade, Carl Gustav Jung (1875-1961) define o termo como um princípio de conexões acausais ou “relação de significado”, e propõe uma avaliação diferenciada das coincidências, definindo sincronicidade como sendo “a experiência de eventos que coincidem de maneira significativa e escondem um padrão subjacente de sincronia e simultaneidade”. Dessa forma, com a expresssão “padrão subjacente” ele considerou que os eventos sincronísticos não são relacionados com o princípio da causalidade, mas são coincidentes por apresentarem um significado igual ou semelhante. A sincronicidade é, também, referida por Jung de “coincidência significativa”. Ora, se “escondem um padrão subjacente de sincronia e simultaneidade” teria sido mais convincente se ele dissesse que existem causas invisíveis que criam significados e precisavam ser investigadas. Estaria assim assegurado o princípio da causalidade indicado pela lei universal de causa e efeito. Em outras palavras, estaria assim confirmando que “nada acontece por acaso” ou “o acaso não existe”, título desse artigo. A esse tipo de compreensão instantânea Jung deu o nome de insight.
Curioso é que Jung lançou o conceito de sincronicidade em 1929 e levou 23 anos para concluir sua obra acima referida, publicada em 1952, propondo uma “elaboração mais detalhada devido à complexidade do tema e da impossibilidade de reprodução dos eventos em ambiente controlado”, como requer o paradigma científico materialista. Foi nesse período que Jung criou os conceitos de arquétipo, incoconsciente coletivo e insights. Para nós, espiritualistas, insights são intuições, vislumbres da realidade invisível. Foi, também, nessa mesma época que Jung estabeleceu contatos com o famoso físico quântico suíço Wolfgang Ernest Pauli (1900-1958) dando início às pesquisas multidisciplinares em Psicologia e Física Quântica. Segundo J. B. da Rocha Filho (2007), “o insight pode ser um fenômeno sincronístico, algo como muitas descobertas científicas que, de acordo com dados históricos, ocorreram quase simultaneamente em diferentes lugares do mundo”, sem que os cientistas tivessem qualquer contato. Sabemos que a sincronicidade é reveladora e necessita de uma compreensão mais ampla, que ocorre espontaneamente, sem nenhum raciocínio lógico.
Outro aspecto que desejamos acentuar é que Jung considerou a sincronicidade como um caso especial de organização acausal ou não causal geral no Universo e, consequentemente, na Terra, sem qualquer referência especial à psique humana. Ou seja, ele postulava que a sincronicidade é representada por uma espécie de padrões contínuos que se repetem na eternidade, fundamentada na “eterna presença de um ato criativo que não pode ser deduzido a partir de antecedentes conhecidos”.
Vamos apenas citar aqui as ideias de dois grandes psicanalistas seguidores de Jung, que foram Aniela Jaffé e Joseph Cambray. Segundo Jaffé (1988), os fenômenos sincronísticos surgem com mais frequência em torno de acontecimentos arquetípicos, como morte, ocorrência de alienação mental (obsessão), casamentos, crises etc. O fator mais importante que deflagra o surgimento dos fenômenos sincronísticos é a emoção, geralmente com esta diminuindo o nível mental da pessoa. Todo estado emocional opera uma mudança na consciência causando nela diminuição no nível mental seguida de fortalecimento simultâneo do inconsciente. Com essa elevação do nível inconsciente sobre o consciente, ocorre um fluir de ideias e pensamentos para a consciência. Jaffé faz, também, referência a um significado transcendental independente da consciência: um conhecimento que não é obtido pelos órgãos dos sentidos e de um significado que subsiste por si mesmo. Nós interpretamos essa referência como sendo uma consciência universal ou Grande Foco – Força Criadora de tudo e de todos.
É por isso que, nessa linha de raciocínio, Jung definiu que os eventos sincronísticos são tidos ou olhados como atos de criação. Ele acreditava que devia haver no mundo lugares onde, de tempos em tempos, coisas são criadas. Mesmo para as pessoas não iniciadas na espiritualidade, mas despidas de todas as ilusões e de tudo o que constitui o mundo de seus egos, quando faz uma introspeção com verdadeira e humilde sinceridade, chegam à conclusão de que há algo mais além de sua imaginação.
Outro pesquisador na esteira das ideias e dos pensamentos de Jung foi Joseph Cambray, que, estudando os exemplos de Jung em 2013 chegou à conclusão de que nem sempre ocorre simultaneidade com a sincronicidade, principalmente nos casos de sonhos e fenômenos pré-cognitivos. Ou seja, a simultaneidade pode não ser cronológica, mas pode levar a uma situação de causa e efeito ao longo de um tempo futuro. Procurando com cuidado dois ou mais fenômenos podem estar associados por conexões no tempo.
Concluindo, com os ensinamentos do Racionalismo Cristão sobre os fenômenos que ocorrem fora da matéria, de natureza psíquica, o conhecimento da intuição que daí decorre não deixa qualquer dúvida quanto à real natureza da sincronicidade que ocorre com muita frequência entre os humanos.