O estoicismo do período romano teve início no primeiro século de nossa era. A essa altura, tinha o Império Romano conquistado já toda a Europa Ocidental, incluindo, do outro lado do Canal da Mancha, a Britânia (hoje Grã-Bretanha), o norte do continente africano e grande parte do Oriente Médio.
Segundo o filósofo britânico e emérito divulgador da filosofia, Bryan Magee (1930–2019), as mais vívidas e admiráveis exposições da doutrina estoica encontram-se nos escritos dos últimos pensadores estoicos, os do período romano.
Principais figuras. Para Magee, são três as mais importantes figuras do estoicismo romano: Sêneca de Córdoba (4 a.C.- 65 d.C.), autor de Cartas e Discursos; o escravo Epícteto de Hierápolis (55-135 d.C.), autor de Discursos e Manual de Epicteto; e o imperador romano Marco Aurélio (121-180 d.C.), autor de Meditações.
Os estoicos romanos, porém, diz Magee, não foram pensadores originais – não contribuíram, segundo o filósofo inglês, para um aprofundamento significativo dos conceitos da filosofia estoica.
Afinando pelo mesmo diapasão, afirma nosso jurista e historiador da filosofia José Cretella Júnior (1920-2015): “Eclética e importada, didática e finalista, direta e clara, de inspiração helênica – eis os traços característicos da filosofia romana. Nenhuma originalidade ou contribuição no setor filosófico”.
Sêneca era, além de filósofo, político. Enquanto foi preceptor de um principezinho chamado Nero (37–68 d.C.), acumulou as funções de governante do Império Romano. E, quando o adolescente, sem traquejo político, se tornou, aos 17 anos, imperador, continuou sendo o principal conselheiro dele.
Dedicação estoica. Durante oito anos, de 54 a 62, o dedicado Sêneca empenhou-se, estoicamente, na tarefa de frear, corrigir, aplacar, abrandar a índole do problemático jovem, para fazer dele um governante justo e humanitário.
De fato, observa um historiador, enquanto Nero conseguiu aparentar certa docilidade, os primeiros anos do monarca adolescente no comando do Império Romano chegaram a lembrar o governo de Augusto.
O mérito, claro, diz o historiador, seria, então, creditado exclusivamente a Sêneca e a seu auxiliar Afranius Burrus, prefeito do Pretório, pois foram esses dois homens que, na realidade, governaram o império nesse período.
Avesso malvado. No entanto, um pouco mais tarde – quando deixaria de lado a postiça docilidade, por trás da qual havia um avesso malvado e criminoso –, Nero tomaria, de fato, as rédeas do poder, e a partir daí sua índole perversa predominaria.
No ano 65 d.C., Sêneca, já um sexagenário combalido, minado por desgostos e amarguras, seria condenado à morte por pesar sobre ele acusação (não se sabe se historicamente veraz) de ter participado de conspiração contra o imperador.
A ocasião daria a Nero motivo para acrescentar a seu rol de hediondos crimes mais um – obrigou Sêneca a cometer suicídio. No dia e hora de consumar a macabra sentença – prescrita contra ele por um tresloucado e criminoso, de quem fora, em tempos idos, amigo e dedicado preceptor –, Sêneca cortou os pulsos na presença de amigos e da querida esposa, Pompeia Paulina, que, em seguida, também cortou os seus.