Não nos moveu, no processo de elaboração desta reflexão, a intenção de conceituar a agressividade a partir de uma perspectiva estritamente psicológica, tampouco a de discorrer sobre suas raízes biológicas. Interessa-nos, antes, compreendê-la em seu aspecto espiritual, para assim responder de forma mais ampla à pergunta feita por um de nossos leitores.
No campo de nossos estudos, compreendemos a agressividade como a expressão de um comportamento, uma reação que deve ser analisada em sua origem, visto que, na maioria das vezes, as ações exteriores reproduzem impulsos e conteúdos internamente acalentados. Surge daí a necessidade de constante revisão e análise dos pensamentos e sentimentos, juntamente com o cultivo do autodomínio, a fim de que possamos superar as prejudiciais atitudes oriundas da violência.
Resultante da falta de autocontrole ou de um temperamento incapaz de lidar com as frustrações, a agressividade representa sempre a antítese do ideal de desenvolvimento espiritual, razão pela qual deve ser confrontada e vencida com força de vontade e determinação.
Embora o estudo da transcendência e a vivência dos valores da espiritualidade consistam em uma tarefa que requer humildade, sinceridade, dedicação, disciplina e capacidade de ampliação de perspectivas, a expressão prática da pessoa espiritualizada, isto é, a forma como ela se conduz, é, na maior parte das vezes, suave e harmônica, o que se deve à soma de predicados que dispensa e aos valores que inspira. Quando os autênticos princípios racionalistas cristãos deixam de ser uma teoria e convertem-se em ação objetiva, então o ser humano avança consideravelmente no campo do autodomínio, enquanto a agressividade cede espaço à compressão, à tolerância e ao sentimento de benquerer.
Eis um exercício ao qual devemos nos dedicar intensamente: substituir pensamentos de violência, indignação e revolta por outros que sejam consentâneos com nossa necessidade de aprimoramento, ou seja, por pensamentos elevados e fundamentados na tolerância e no respeito mútuo. É preciso, ainda, dominar as pulsões primitivas que nos impedem de desenvolver e atualizar as potências gravadas em nosso corpo fluídico.
O verdadeiro espiritualista, ou seja, aquele que aprendeu a reconhecer a transcendência dos fenômenos e sua intransferível responsabilidade na construção de um mundo mais ético, solidário e justo, tende a ser, além de cumpridor de seus deveres, um entusiasta pela vida e pelas relações humanas. Dessa maneira, passa a entender, de forma cada vez mais nítida, as bases reais para uma existência harmônica e frutuosa, procurando analisar-lhes o valor e aproveitar o manancial de vigor e bem-estar que delas irradia.
A agressividade, presente, infelizmente, em todas as classes sociais e em todos os povos e culturas, fomenta ataques ácidos e injustos, desqualifica os seres humanos e produz a impressão perturbadora do exagero, impedindo o florescimento das qualidades humanas, o apreço pelas virtudes e o desenvolvimento positivo dos atributos morais. A agressividade incontida e exacerbada, exercida de forma reiterada e predatória, vilipendia a honra dos indivíduos e os rebaixa moralmente para exalçar a falsa e repudiável glória dos que se destacam subjugando e agredindo as minorias. Falamos dos covardes e aproveitadores.
Indicar caminhos para a superação da agressividade é uma questão, a um só tempo, de ética e justiça, às quais nenhuma pessoa de bem pode se furtar.
Em que pese o impulso à agressividade encontrar justificativas em estudos sobre a genética e a hereditariedade, assim como na influência que o meio exerce sobre as pessoas, sabemos que o espírito possui a primazia do composto humano. É ele que pensa, vibra, planeja, projeta, discerne e age em consonância com seu livre-arbítrio. Nessa forma, independentemente de eventuais condicionantes biológicas ou sociológicas que devem ser consideradas – mas não absolutizadas – cada um possui em si a capacidade de superar a agressividade e conduzir-se condignamente, respeitando a si mesmo e a seus semelhantes de forma civilizada e empática.
Esperamos sinceramente que esta reflexão tenha contribuído para assinalar a importância de combatermos – não nos outros, mas em nós mesmos – todo impulso à violência, à destruição, à cólera, à belicosidade e ao revanchismo.
O respeito, a comedimento, a tolerância, a empatia e o amor ao próximo são eficazes antídotos contra a agressividade, que nos permitem redescobrir, perscrutar e experimentar o dinamismo de uma existência valorosa, saudável e feliz, pronta para estabelecer relações afetuosas e sinceras com nossos semelhantes.
Muito Obrigado!