No artigo anterior discorremos sobre as diferenças entre personalidade e individualidade sob o enfoque espiritualista. Neste artigo, vamos aprofundar-nos no conhecimento do que os psicólogos designam por persona, tema estudado e debatido também por muitos filósofos a partir do século XVII.
De acordo com os ensaios publicados em 1953 pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), “persona é a face social que o indivíduo apresenta ao mundo, uma espécie de máscara adotada pela pessoa visando a dois objetivos: 1) para causar uma impressão definitiva nos outros e, 2) para ocultar a verdadeira natureza do indivíduo”.
Em nossos artigos neste jornal intitulados Ter ou ser e Os nossos dois eus, publicados, respectivamente, em agosto/2017 e janeiro/2018, expusemos as bases diferenciadoras dessas formas de a pessoa viver a sua vida, com predominância de um ou outro modo de ser e atuar na vida de relação.
Aqui e agora estaremos falando do desenvolvimento de uma personalidade social que satisfaça os anseios nascentes principalmente nos jovens e se torne viável aos seus relacionamentos sem causar maiores danos ao seu “eu espiritual”. Para isso, é necessário assimilar as circunstâncias do meio em que cada um atua através de forte esforço de adaptação e de preparação para a vida adulta no mundo em que vivemos. Com isso, o seu ego ou “eu material” poderá relacionar-se com o mundo exterior por meio de uma persona flexível identificada com uma persona específica (como engenheiro, médico, advogado, artista etc., enfim, qualquer que seja sua profissão), sem inibir o seu desenvolvimento psíquico.
A sociedade espera que cada um de nós cumpra o seu papel, dando o melhor de si para conseguir construir um mundo sempre melhor. Para isso, precisamos cuidar-nos, também, para não incorrermos no risco de tornarmo-nos idênticos às nossas próprias personas. Temos que tomar esse cuidado para não nos enfraquecermos por adotar uma personalidade superficial e conformista de um lado, nem excessiva de outro, preocupando-nos tão somente com o que as pessoas pensam de nós. Precisamos ser coerentes e manter um conceito positivo de nós mesmos para nos distinguirmos das demais pessoas como de fato assim deve ser. Cada um de nós é pessoa única, não há duas iguais em evolução neste mundo em que vivemos. Portanto, sejamos cuidadosos para tornarmo-nos uma persona afinada com nossos valores espirituais. Afinal, sejamos racionais, coerentes e conscientes de nosso papel neste mundo o tempo todo.
Devemos olhar o nosso “ego” como um animal indomável, com instintos residuais e crenças infundadas difíceis, porém não impossíveis, de serem eliminadas. Daí por que se torna necessário manter constante e profunda vigilância nos pontos em que nos sentirmos mais fracos ou prejudicados em nossa caminhada evolutiva.
O segredo, em cada momento, está em procurarmos evitar um comprometimento excessivo com os ideais coletivos que nos levam a negligenciar nossa realidade individual mais profunda, representada pelos anseios íntimos de nosso eu verdadeiro – o “eu espiritual”. Citando novamente Carl Gustav Jung, “a persona é uma aparência… a dissolução da persona é, portanto, absolutamente necessária para que haja individuação”.
Mas o que se entende por individuação? Essa palavra tem diferentes conotações em diferentes campos da atuação humana.
Em psicologia junguiana ou analítica, individuação é um processo em que “o eu individual se desenvolve a partir do subconsciente diferenciado” – visto como um processo psíquico. Carl Jung assinalou, ainda, que essa definição implica tensão entre os elementos pessoais e coletivos existentes no ser humano.
Contrariamente à individuação, ainda segundo Carl Jung, após predominar esse estado, pode ocorrer o desejo de restauração da persona, que é um processo de volta ao status quo que prevalecia antes da individuação. Porém, nem sempre esse processo em que a pessoa pretende ser o que era antes ocorre, principalmente por desejá-la em curto prazo, caso em que a pessoa passa por uma restauração incompleta, sobrevindo um verdadeiro caos mental, psiquicamente negativo, podendo até levar a uma perturbação psíquica mais séria.
Nos casos graves, para obter resultados satisfatórios no processo de restauração da persona, torna-se necessário que a pessoa se submeta a um tratamento psiquiátrico ou psicológico mais demorado conhecido como “restauração progressiva da persona”, por meio da qual a pessoa tenta, sofridamente, restabelecer a sua reputação social abalada, ainda que seja limitada a uma personalidade muito mais limitada, aceitando que ele não ficará como era antes dessa retomada de posição. Nesses casos, a reversão ao status quo anterior deixa de ser completa.
Em filosofia, individuação expressa a ideia geral de como uma coisa é identificada como sendo uma coisa individual “que não é alguma outra coisa”. Isso expressa que cada um de nós é pessoa única, diferente de todas as demais. É uma questão de identidade. Mas para haver evolução é necessário haver inter relacionamentos, essa é a questão que alimenta esta constante disputa.
O que, na realidade, diferencia o indivíduo (qualquer ser humano isoladamente) dos seus semelhantes que constituem a espécie humana? Com certeza não é seu corpo físico; ou seria sua essência? Por mais importância que a individuação tenha para a visão psicológica ou para os próprios filósofos, essas questões nunca foram respondidas e explicadas de forma cabal, conclusiva.
Para a filosofia Racionalismo Cristão, individuação é o ser humano buscar seus valores morais e éticos no aprimoramento de seus atributos e faculdades, cada indivíduo agindo e responsabilizando-se por si mesmo, conscientizando-se das eternas verdades morais e evolutivas que realmente têm valor.
Enquanto a humanidade não abrir os olhos para as ilusões do mundo Terra e não se der conta de que a espiritualidade está explicada em nosso tempo por doutrinas e filosofias espiritualistas, não haverá respostas definitivas para as questões suscitadas mais acima. Nesse particular, os conhecimentos da Filosofia Racionalismo Cristão vêm sendo postos à disposição de todo o mundo Terra através de suas obras, reuniões e via Internet, isentos de qualquer custo em numerosíssimos textos, palestras e vídeos, explicando a natureza do ser humano e as leis evolutivas que o regem em suas múltiplas vivências no planeta. É hora de despertar para a espiritualidade para sofrer menos e viver melhor, objetivando sua própria evolução e de toda a humanidade.