O que vem primeiro, nossos pensamentos ou nossos sentimentos? Essa pergunta nos faz lembrar outra, bem semelhante: “o que vem primeiro, o ovo ou a galinha?” É curioso, mas sabemos que não podemos ter uma galinha sem primeiro ter um ovo, e não podemos ter um ovo sem primeiro ter uma galinha, o que veio primeiro? Essas perguntas guardam muita semelhança, mas não são iguais. A primeira envolve vibrações e percepções, e a segunda, a ordem de geração biológica.
Em nosso livro Valor dos Sentimentos – 2012, apresentamos o tema Sentimentos e emoções, o que os distingue, páginas 14/17, no qual nos aprofundamos sobre o real entendimento desse assunto. Agora, vamos considerar a questão suscitada no título deste artigo. Apenas, desejamos esclarecer que a palavra “sentimentos” é usada aqui como oriunda das vibrações do espírito com dois significados. Primeiro, as percepções ou sensações que experimentamos, como visão, tato, olfato, paladar e outras formas de entrada sensorial. Em segundo lugar, é comumente usada para significar emoções, cujas diferenças com os sentimentos foram elucidadas no referido livro.
Conhecimento das origens. Para respondermos essa questão com seriedade precisaríamos conhecer os fatores que influenciam a geração e propagação dos pensamentos e sentimentos, quais os estímulos que os geraram, qual a fonte de sua geração, como um e outro são deflagrados e representados em nosso consciente e subconsciente e disparados do e para o cérebro e/ou sentidos físicos, quais os que são de natureza automática e os de natureza racional etc. Dependendo dessa análise, a pergunta pode estar certa ou errada, isto é, não fazer sentido. Por exemplo, para essa pergunta estar correta é preciso que ela pressuponha ou implique que sentimentos e pensamentos sejam diferentes e que um dos dois sempre vem antes do outro. Caso não seja nessas condições a pergunta pode não ter sentido ou estar errada. Se eles forem de natureza igual e da mesma fonte, ainda que com percepções diferentes, não seria descabida a pergunta que fizemos no início desse tema?
Palavras / imagens. Uma argumentação muito forte para continuarmos nosso raciocínio é a seguinte. Para descrever tudo que pertence ao mundo das ideias, como os pensamentos, opiniões, crenças etc., a partir de nossa mente consciente nós usamos palavras. Contudo, nosso subconsciente se vale de imagens, não palavras, para registrar essas mesmas crenças e percepções. Ora, consciente e subconsciente são estimulados pelas vibrações do espírito que é a fonte única tanto de pensamentos como de sentimentos e emoções. Portanto, será lógico concluirmos que os “sentimentos” provenientes do subconsciente se comportam como se fossem pensamentos. Dito de outra forma, pensamentos e “sentimentos” são a mesma coisa expressa em diferentes linguagens (a linguagem das palavras e a linguagem dos imagens, respectivamente). Outra forma de argumentar essa igualdade de natureza é que pensamentos e sentimentos são registrados e transmitidos em nosso cérebro pelos neurônios como uma série de reações eletroquímicas segundo a neurociência. Isso nos parece ou são basicamente a mesma coisa sob diferentes prismas.
Vibrações do espírito. Se não bastasse a argumentação das igualdades de pensamentos-sentimentos, ambos vibrações oriundas da mesma fonte (o espírito), vamos supor agora que pensamentos e sentimentos sejam diferentes. Se forem, a nossa pergunta inicial estaria correta, mas a resposta correta seria “nenhum dos dois”, já que, para responder essa questão precisaríamos saber primeiro qual foi o “estímulo gerador” que evocou um sentimento ou um pensamento. Fica óbvio que, se o estímulo provoca primeiro um pensamento, este leva a um sentimento e, vice-versa, se o estímulo provoca primeiro um sentimento, este vem em primeiro lugar. Para ficar mais claro, vamos apresentar dois exemplos.
Primeiro exemplo. Estou andando na calçada de minha rua. De repente, levo um empurrão por trás e caio num pequeno buraco, torcendo meu pé. Levanto-me e minha primeira reação é “pensar” em xingar ou desafiar a pessoa que me empurrou e não o faço porque percebo que o empurrão foi acidental causado por um cego que me pediu desculpa e aceitei com um sorriso nos lábios. Analisando o episódio, verifico que a causa da minha queda foi o que me pareceu ser um empurrão (causa pensada por mim) e caio no buraco (efeito físico) e, em seguida, penso em xingar ou desafiar a pessoa (pensamento) e ao verificar que foi um cego que me abalroou (constato isso pelo sentido da visão), mudo de ideia (pensamento) e aceito (sentimento de aceitação) a desculpa (gerada pelo sentimento de aceitação) que ele me pediu. Veja aí nesse simples episódio ocorreram alternâncias de pensamento-pensamento-sentimento-sentimento, nessa ordem. Aqui o pensamento veio em primeiro lugar.
Segundo exemplo. O mesmo exemplo anterior, inserindo uma pequena alteração. De repente, levo um empurrão por trás e caio num pequeno buraco, torcendo meu pé e sentindo dor. Levanto-me e minha primeira reação é pensar em xingar ou desafiar a pessoa que me empurrou e não o faço porque percebo que o empurrão foi acidental causado por um cego que me pediu desculpa e a aceitei com um sorriso nos lábios. Analisando o episódio, verifico que a causa da minha queda foi o que me pareceu ser um empurrão (causa pensada por mim) e caio no buraco (efeito físico) e sofro dor (emoção) e em seguida, penso em xingar ou desafiar a pessoa (pensamento) e ao verificar que foi um cego que me abalroou (constato isso pelo sentido da visão), mudo de ideia (pensamento) e aceito (sentimento de aceitação) a desculpa (gerada pelo sentimento de aceitação) que ele me pediu. Veja aí nesse simples episódio ocorreram alternâncias de emoção-pensamento-sentimento-emoção. Aqui a emoção veio em primeiro lugar.
Resposta difícil. Verifica-se, portanto, que a questão suscitada pela pergunta desse artigo não é assim tão fácil de responder sem uma análise cuidadosa da situação envolvida. Nesses dois exemplos, a ordem em que pensamento e sentimento/emoção aparecem varia. Como regra geral, quando tivermos que responder a essa pergunta, a resposta correta é que depende se estamos agindo de forma consciente (pensamento) ou automática (sentimento/emoção). Assim, quando agimos automaticamente (tarefas rotineiras, hábitos, vícios etc.), sem pensar, nossas emoções nos governam, e quando agimos conscientemente (racionalmente com vontade, raciocínio e lógica), selecionando cuidadosamente nossos pensamentos e os aplicamos sob a orientação do livre-arbítrio, podemos governar nossas emoções.
Para terminar, lembramos que a maior parte do tempo nós agimos automaticamente. A razão disso é que formamos hábitos que são guardados em nosso subconsciente. A neurociência nos informa que somos programados para fazer a maioria das tarefas automaticamente para que possamos nos concentrar em assuntos mais importantes. Além disso, os fluxos de percepção do mundo exterior para o nosso cérebro passam primeiro pelo sistema límbico a uma velocidade 100 a 1000 vezes mais rápida do que os pensamentos através dos neurônios, principalmente nos casos das emoções primárias. Isso nos permite agir em momentos de emergência (fugir ou lutar), mesmo quando não há tempo suficiente para pensar.