Em continuação ao nosso artigo anterior, estamos apresentando outra versão para responder à pergunta “O que vem primeiro, o pensamento ou o sentimento?”, baseada na tese materialista-científica do professor Mark Solms. Ele apresentou uma argumentação contrária à que defendemos no primeiro artigo dessa série, em outubro/2020, com o mesmo título, afirmando que o sentimento e a emoção vêm antes do pensamento.
Mark Solms é o articulista referido ao longo desse tema, o principal educador do curso online gratuito intitulado O que é uma mente?, da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul. Em seu curso ele apresenta e discute a diferença entre pensar e sentir, e o papel que o instinto desempenha. Seu artigo de apresentação do curso (ver blog https://www.futurelearn.com/info/blog/) tem o seguinte título Thinking and feeling, what is the difference?, (“Pensamento e sentimento, qual é a diferença?”), bem dentro do tema que vimos tratando. O fundamento desse artigo encontra-se, também, nos mais recentes conhecimentos da Neurociência.
O que é mente? A distinção entre pensamento (cognição) e sentimento (emoção) é fundamental em relação ao que a mente faz (transmite ou recebe). Nenhum cientista-neurologista sabe responder o que é mente nem onde ela pode ser encontrada, mas todos nós sabemos que ambos, pensamento e sentimento, representam e demandam necessidades que recaem sobre a mente e o espírito para cumprirem o seu papel, para realizar o efeito esperado.
A compreensão materialista nos diz que os sentimentos vêm em primeiro lugar. Afirmam que os pensamentos são modos de lidar com os sentimentos para aceitá-los ou evitá-los, procurando encontrar soluções que, ao final, atendam necessidades que estão por trás dos sentimentos e emoções.
Afirmam, também, que os sentimentos vêm primeiro em um sentido hierárquico e cronológico. E apresentam, como exemplo, a condição de um recém-nascido que “não tem pensamentos com os quais se manifestar”. Ao nascer, sua mente é apenas um pacote de sentimentos. E completam dizendo que “o pensamento deriva da aprendizagem, ou seja, da experiência”. Isso implica dizer que a aprendizagem é a causa do pensamento.
Desenvolvimento do pensamento. Continuando, afirmam que “o aparato” para pensar (que aparato é esse? – o cérebro?), então, trabalha no material que internalizamos a partir das soluções que experimentamos, de como nossas necessidades podem ser atendidas no mundo. Essas soluções são, obviamente, fornecidas, inicialmente, pelos seus cuidadores. É por isso que a maternidade e a paternidade são importantes. Com base nisso, o pensamento se desenvolve gradualmente (onde, no cérebro?) e nos ensina como administrar nossos sentimentos – como resolver os problemas que os sentimentos representam”.
No sentido apresentado, com o qual não concordamos, o pensamento pode tornar-se muito elaborado, mas os materialistas não explicam como. Contudo, admitem que o pensamento pode ser repensado ou reelaborado a partir de um determinado sentimento. E, ainda, admitem que, após ativado o pensamento pelo sentimento, o pensamento domina o sentimento em questão, reativando-o. Ou seja, misturando tudo isso, ao final os neurocientistas afirmam que o pensamento pode fazer o sentimento vir em segundo lugar! Mas como? Resposta dessa linha de pensamento: “Mas isso é um processo derivado, uma vez que existe um aparato de pensamento maduro”. E concluem que os pensamentos são experiências internalizadas. Ou seja, “todos os pensamentos, distintos dos sentimentos, têm um formato perceptivo derivado de imagens sensoriais, que também se aplicam ao pensamento com palavras”.
Os adeptos dessa linha de raciocínio afirmam, ainda, que quando pensamos “estamos tateando um problema para sentir o nosso caminho (a solução) por meio de representações da realidade. A função de pensar representa a realidade ou o que fazer em relação à realidade, antes de realmente colocar as soluções em prática. Resumindo: os pensamentos se interpõem entre sentimentos e ações”. E concluem: “pensar e fazer se sobrepõem”. Exemplificam com a emoção do medo: quando a pessoa se depara com um precipício, o pensamento age no sentido de se afastar dali por não ser seguro. Assim, conclui que o pensamento orienta a pessoa para fugir da situação. E ainda diz que “pensar é um refinamento do instinto”.
Com esse raciocínio, o articulista afirma ainda que “não temos que trabalhar nossas próprias soluções para todos os problemas da vida somente com base na experiência. Além do que fazemos por nós mesmos e do que nossos pais nos ensinaram, temos também certas soluções embutidas para problemas de significado biológico universal”. Essas soluções são muito gerais e até rudes, dizem os defensores dessa tese, afirmando que existem “muitos, muitos problemas que não podem ser previstos pela evolução (o que acontece se você enfiar o dedo em uma tomada elétrica, por exemplo) e para esses problemas precisamos aprender com a experiência”.
Problemas x instintos. E continua, afirmando: “Existem mais problemas no mundo, de longe, do que instintos. Portanto, os instintos precisam ser ampliados e elaborados pelos pensamentos, para lidar com as situações da vida real em toda a sua complexidade. Por essa razão, o pensamento não se interpõe apenas entre os sentimentos (em geral) e as ações, mas também, entre os sentimentos instintivos e as respostas automáticas que eles liberariam. O pensamento gera opções de ação mais matizadas”. Aqui, interpretamos os “sentimentos instintivos” como sendo emoções, principalmente as de natureza primitiva e negativa para os seres humanos em evolução.
Eis a conclusão desse articulista: “Então, em geral, o pensamento se desenvolve para que possamos gerenciar os sentimentos (e as necessidades que eles representam) de maneiras mais flexíveis do que nossos instintos embutidos fornecem. Pensar é um refinamento do instinto. Sentimentos nem sempre são coisas ruins”.
Em contrapartida às ideias do articulista, eu provoco o pensamento do leitor para a realidade do aprendizado da matemática, desde o mais simples conhecimento da aritmética e da geometria até o desenvolvimento dos cálculos avançados ou das teorias científicas, todas respaldadas pelo raciocínio lógico do pensamento, operações inteiramente desprovidas de sentimentos e emoções. Depois do aprendizado vem o sentimento de satisfação, que não passa de uma emoção.
Verdadeira origem. Conforme defendemos em nosso artigo anterior, apresentado em outubro/2020 neste jornal, o principal fator a ditar a ordem sequencial pensamento – sentimento ou sentimento – pensamento é o estímulo inicial, o propósito que o indivíduo tem em mira. E mais, qualquer que seja o estímulo ou o propósito, todo o desenrolar dos eventos envolvendo pensamentos, sentimentos ou emoções, em qualquer ordem, ocorre entre centésimos e milésimos de segundos, o que equivale dizer, instantaneamente, pelo que a questão que intitula este e os artigos anteriores tem pouco sentido prático, sendo apenas conjecturas mentais. Para nós, racionalistas cristãos, a priori, toda e qualquer manifestação humana parte essencialmente do espírito via geração do pensamento. Tudo o mais são consequências.