A relação entre autocontrole e ansiedade pode parecer, em um primeiro momento, um tema abstrato. Tais conceitos possuem significados diversos, mas coincidem no fato de que provocam o interesse por sua investigação, por sua pesquisa. Esse ponto explica a influência que ambos exercem no contexto atual, caracterizado por transformações cada vez mais aceleradas.
Este texto fugiria ao objetivo a que se propõe se permanecesse no campo das abstrações e das especulações do senso comum. Defendemos a ideia de que os ensinamentos espiritualistas devem ser aplicados no concretismo da vida humana, como um veículo eficaz na solução dos conflitos internos e externos.
Com as considerações apresentadas, à luz de uma concepção abrangente e consciente apoiada em valores ético-morais, procuraremos estabelecer um referencial seguro para as reflexões sobre a importância do gerenciamento dos pensamentos e emoções no controle da ansiedade.
Entre os dramas vivenciados pelo ser humano na agitada sociedade atual, a ansiedade se destaca como um sentimento capaz de anular as manifestações de espontaneidade e criatividade e a possibilidade de construção de uma vida harmônica. É nesse contexto que o esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão assume excepcional importância, incitando a cada um proceder com ponderação, no sentido de gerir seus sentimentos e aprimorar o senso crítico da realidade, evitando a superestimação dos problemas e desafios que compõem o viver neste planeta.
A ponderação a que nos referimos é fundamental, visto que, uma vez desprezada, os valores da liberdade e espontaneidade excluir-se-iam reciprocamente. Portanto, quando ponderadas racionalmente, as preocupações tendem a se reduzir, possibilitando o livre desenvolvimento da personalidade e a sustentabilidade das relações afetivas.
A quase totalidade das preocupações que atingem cotidianamente as pessoas gira em torno do medo de algo que pode vir a acontecer. Os estados de ansiedade são entendidos como manifestações físicas e psíquicas de preocupações excessivas, que não estão diretamente atribuídas a perigo real e que podem ocorrer nas formas de acometimento ou de um estado perturbador persistente.
Estou agindo corretamente? Será que causei boa impressão? O que os exames revelarão acerca da minha saúde? E se eu perder meu emprego? E se a decisão que tomei não foi a mais adequada? E se, e se, e se… Estas especulações, quando constantes, desviam as pessoas de seus objetivos, criando um quadro angustiante de ansiedade, que tende a se agravar à medida que a pessoa busca fora de si a solução para o problema, recorrendo a fórmulas fáceis, como rituais e panaceias – recursos que, ao invés de resolver a questão, acabam por aumentá-la consideravelmente.
A sociedade deve encarar a ansiedade com a máxima preocupação e seriedade, pois quando exagerada possui inúmeros pontos de contato com a depressão. Ambas causam enormes prejuízos psíquicos à humanidade, possuindo o medo como raiz comum. Este, por seu turno, reflete o desconhecimento da vida em sua expressão mais vasta.
A partir do momento em que o ser humano compreende que sua essência é única e eterna, experimenta uma profunda sensação de paz, afastando de si, naturalmente, a tensão e a ansiedade. Não há, portanto, segredo algum. O que há é a necessidade premente de autoconhecimento e abertura para o transcendente, a fim de que todos possam despertar a consciência sobre seus traços espirituais e suas múltiplas possibilidades de superação.
Uma vez que o futuro se constitui de elementos especulativos, dedutivos e abstratos e que tende a se estabelecer de acordo com ações realizadas no presente, o ser humano deve cada vez mais concentrar sua atenção nos fatos concretos que fazem parte do aqui e do agora, e não canalizar as energias para expectativas e elucubrações.
A percepção dos valores que realmente produzem bem-estar e tranquilidade, assim como o desenvolvimento da confiança em si mesmo e nos processos que regulam a vida com vistas ao seu aperfeiçoamento e à plenitude, retira o ser humano de um estado paralisante de alerta que o impede de entrar em contato consigo mesmo, de forma a rever posicionamentos e ajustar comportamentos.
A certeza de que existe uma realidade espiritual que tudo sustenta e interpenetra imprime um relevante impulso ao compromisso de cada pessoa com sua própria felicidade e com a construção de um mundo melhor, mais fraterno e solidário, em que possa perceber o semelhante como uma extensão de si mesmo.
As sociedades modernas estão fundamentadas em complexos processos organizacionais que não nos cabe aqui mencionar, mas cuja nota principal é a rapidez das transformações. O ritmo acelerado passou a ser uma característica tão normal da vida, que a grande maioria das pessoas não se dá conta de sua relevância na estruturação de suas próprias personalidades ansiosas.
Temos consciência de que a ansiedade tem acompanhado a humanidade ao longo de sua evolução e, em certa medida, desempenhado um papel positivo na preservação da própria espécie. Porém, sabemos que ela tem assumido atualmente índices alarmantes, acarretando no desequilíbrio psíquico face às inadequadas transformações que operam no comportamento individual e coletivo.
No ambiente muitas vezes inseguro, competitivo e imediatista em que vivem muitos seres, é preciso que aprendam a se controlar e a fixar o olhar nos aspectos positivos da vida, nas pessoas que amam, em sua saúde integral, em seus atributos e faculdades; é preciso que procurem absorver os estímulos mais importantes do atual momento histórico e incorporem as lições que ele traz consigo. Caso contrário, adoecerão asfixiado pela angústia e pela ansiedade.
O autocontrole é, sem sombra de dúvida, importante para avançar nessa questão, mas o principal objetivo a ser buscado é, reiteramos, o esclarecimento espiritual. É ele que liberta o ser humano das amarras situacionais, fortalecendo-o e impulsionando-o positivamente em toda sua trajetória.