Considerável número de pessoas age cotidianamente de maneira a não considerar o tempo como um bem de grande valor. Tal interpretação deriva de uma concepção materialista de mundo, em que as pessoas tendem a valorizar apenas aquilo que, tendo uma existência concreta, é palpável ou tangível. Talvez pareça surpreendente e até provocativo estabelecer uma conexão entre a análise do tempo e o estudo da espiritualidade; contudo, é plenamente possível fazê-lo, como se verá no decorrer desta breve reflexão.
A trajetória do ser humano neste planeta é marcada por momentos fugazes e por fases um pouco mais estáveis. Quando ele se esclarece acerca da dimensão transcendente da vida através do Racionalismo Cristão, esse percurso assume um sentido mais amplo, transformando-se em um itinerário de aperfeiçoamento consciente. Nesse contexto, cada momento da existência representa um passo à frente rumo a seus elevados objetivos, e cada fase, uma etapa conquistada de progresso ético e moral.
Encerra, sem dúvida, grande sabedoria o adágio popular que diz: “Não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje”. Realmente, a procrastinação é a causa de inúmeros males psíquicos, bem como da ruína patrimonial e moral de um sem-número de seres humanos que se deixam dominar pela preguiça, pela indisciplina e pela falta de zelo em relação aos compromissos assumidos.
O tempo enquanto realidade objetiva é uma concepção que se impõe pela evidência. O Universo se mostra em constante dinamismo. A existência dos seres corpóreos se estrutura em ciclos que se renovam ou se extinguem em períodos breves e extensos. Ao transportar a questão do tempo para o campo da vida prática, deve a pessoa dar ênfase ao agora, pois em que pese sua evanescência, o passado ele não pode alterar, e o futuro depende de suas ações no presente.
Mesmo consciente da inexorabilidade da transformação e do fluxo ininterrupto de movimentos que acentuam a percepção da relatividade, o estudioso do Racionalismo Cristão deve fundamentar suas ações em princípios absolutos e não relativizáveis, como a liberdade de consciência e a dignidade da vida. Estes, com certeza, são oriundos de uma dimensão da realidade em que o tempo não se subdivide em passado e futuro, mas que assume a forma de um eterno presente.
Viver em um mundo de relatividades, fundamentando as ações em valores imperecíveis e imutáveis, não significa uma antítese incontornável ou um drama insolúvel, mas um desafio que poderá ser superado desde que o ser humano tenha a consciência de que tudo na vida passa, exceto o espírito, que é imortal e indestrutível.
O ser humano espiritualizado se notabiliza pela forma harmoniosa como organiza mentalmente seus conceitos e pelo equilíbrio e bom senso de suas ações. Assim sendo, compreende a efemeridade da vida e a imperiosa necessidade de aproveitamento inteligente do tempo. A consequência lógica e natural de tal consciência é a de valorização da própria vida e dos relacionamentos, a definição de horários para as atividades cotidianas, a elaboração de uma agenda de prioridades e a eleição da disciplina e da racionalidade como princípios de vida.
O fio condutor que atravessou e urdiu a presente reflexão foi o da razoabilidade, não apenas no sentido de analisar o tempo de modo reflexivo e racional, mas também no de fornecer subsídios para aproveitá-lo da melhor maneira, tendo-se como referência os princípios racionalistas cristãos. O estudo da espiritualidade ajuda a compreender a multiplicidade de camadas temporais superpostas que configuram o viver. Essas camadas ou dimensões, que estruturam a história pessoal e coletiva dos seres humanos, devem ser interpretadas de forma coerente a partir do parâmetro da espiritualidade, que enseja a adequada utilização do tempo e das energias vitais.
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