A organização das ideias é um tema fascinante pelas várias vertentes em que pode ser considerado, devido à interdisciplinaridade que supõe e, sobretudo, à consciência ampliativa que fornece. Para nós, é um marco de referência, que suscita a percepção de que sem uma conceituação sólida, disciplina e método, o ser humano não consegue o equilíbrio emocional, tão importante para a superação dos desafios e para a conquista de uma experiência de vida harmônica e fecunda. Por essa razão, a presente reflexão, congregada com valores defendidos pelo Racionalismo Cristão, pretende abordar o estudo da ordenação das ideias de forma ampliada e integradora.
É comum que surjam na mente de muitas pessoas, de quando em vez, pensamentos relacionados à manutenção da saúde, ao futuro profissional, ao sucesso nos relacionamentos, à estabilidade financeira etc. Na verdade, as atuais condições do mundo tornam tais questões ainda mais prementes. Contudo, faz-se necessário recordar que antes de tomar qualquer decisão ou traçar metas para futuro, a pessoa que se orienta pelos conteúdos da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão deve estabelecer como roteiro seguro de sua vida uma ordem racional de valores.
O desenvolvimento dos valores do espírito, que não estão circunscritos ao campo dos objetivos imediatos, mas que representam um enorme potencial transformador, devem ocupar a primazia da atenção do espiritualista. Ao falarmos sobre valores do espírito, referimo-nos a seus atributos, que devem ser desenvolvidos com atenção e apreço, sem nenhum pendor ao improviso ou à indisciplina.
Rememorando conceitos importantes e aperfeiçoando cada vez mais suas atitudes, o ser humano conseguirá estabelecer a coordenação de seus pensamentos, intuições e inspirações, atingindo a maturidade espiritual e, com ela, a serenidade, a ponderação e o equilíbrio.
É comum ouvirmos dizer que a materialidade reinante na contemporaneidade subverte a conhecida frase do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare: “Ser ou não ser, eis a questão” passa a ser “Ter ou não ter, eis a questão”. Não achamos oportuno carregar de dramaticidade o tema da aquisição de bens materiais. Não se deve exagerar nem minimizar a importância de prosperar materialmente, pois faz todo o sentido buscar melhores condições de vida. Claro está, porém, que esta busca deve ser estabelecida dentro dos limites de um projeto maior e mais amplo, que é o do desenvolvimento constante das faculdades e talentos do espírito.
Quando criticamos o materialismo, não incentivamos uma atitude de desprezo aos bens materiais, mas buscamos uma ampliação de perspectivas no sentido de indicar que os recursos terrenos, apesar de serem úteis e importantes, não representam um fim em si mesmos.
Atitudes simples e puras que brotam da alma sincera não se coadunam com as artificiosas imposições ou os falsos pudores advindos da hipocrisia materialista. A passagem da concepção reducionista da vida para a concepção ampliada da existência principia pelo cultivo da humildade e da perseverança, duas virtudes em que o desapego e a constância prevalecem sobre a vaidade e a frivolidade. Tais virtudes promovem e fomentam o verdadeiro sucesso na vida, que nada tem que ver com o êxito antropocêntrico tão em voga na atualidade e que, em médio ou longo prazo, oprime e vicia.
A pessoa que busca constantemente seu aprimoramento moral e ético estabelece sempre uma hierarquia no campo de seus projetos e ideais. Não se satisfaz com superficialidades e sensações efêmeras, mas procura apreender o sentido íntimo e recôndito que subjaz aos fatos mais simples da vida cotidiana.
Ignorar o valor da ordenação dos pensamentos e ideias em nome de um estilo de vida mais despojado ou factual implica a redução expressiva do panorama existencial humano. A ação prática e a organização mental não se anulam, mas se complementam reciprocamente. Tenha-se presente: se as ações humanas não são consubstanciadas por princípios racionais que transcendem ao imediatismo e ao improviso, desestabilizam a saúde emocional de seus autores.
A presente reflexão tem o intuito de proporcionar uma síntese entre princípios transcendentes e a necessidade de coordenação dos pensamentos e ideias. Para isso, reunimos subsídios, relembramos conceitos e afirmamos valores elevados, que brotam irreprimíveis da pujança da realidade espiritual, capaz de fornecer, por seu turno, plena razão às esperanças de um futuro de grandes e positivas transformações. Sirva-se dela, estimado leitor, para se orientar. É admirável o êxito do ser humano que transpõe à vida cotidiana a beleza de princípios que transcendem aos ciclos e que fomentam fecundos recomeços.
Muito Obrigado!