Voltamos a falar de esperança, mote muito explorado nesta coluna há um tempo relativamente curto, quando tratávamos de corrupção, banditismo oficial, afanos praticados por governantes, avanço nos dinheiros públicos com anuência e cobertura de órgãos que deveriam ser os fiscalizadores.
Era um tempo desagradável, de denúncias e suspeições, mas daqui A Razão sustentava a necessidade de se manter a esperança e até usava o chavão de vislumbrar uma luz no fim de túnel. Ela existe e lá está aguardando que nossa sociedade a alcance, com a eliminação dos vícios e comportamentos perniciosos de aproveitadores, que redesenham as práticas (os meios) para alcançarem o mesmo fim (a roubalheira).
E de onde vem este propósito de falar, agora, de esperança? São dois os motivos: a chegada da vacina que deverá proteger-nos contra o malfadado coronavírus, que já infectou milhões de pessoas pelo mundo e levou milhares à morte; e a expectativa de que os contratos de compra e distribuição dessas vacinas sejam feitos com lisura, honestidade, probidade e dignidade, que não haja a interveniência de aproveitadores e oportunistas, que não aconteça o que se viu com a aquisição de respiradores e outros insumos hospitalares e hospitais de campanha no auge da contaminação pelo vírus e elevação acelerada do número de casos da doença.
Há, porém, um grande risco de que possa acontecer algo desagradável –mas não imprevisível – porque, ao que se percebe, o vaivém em torno da possível procedência do imunizante pode não ser apenas uma questão científica. É preciso estar atento e elevar a voz no momento próprio para evitar surpresas desagradáveis. Só a esperança na correção das negociações nos conforta.
O outro motivo que nos faz reavivar o sentimento esperança é a crônica do presidente do Racionalismo Cristão lida em recente apresentação do programa Conversa com o presidente, que ele traz de volta no Olá, caro leitor desta edição.
Como dizia o professor no velho palacete do Campo de São Cristóvão, cinco minutos antes de a sirene anunciar o fim do tempo de aula, “recapitulemos”.
O que dissemos, então? Que é preciso estarmos vigilantes, porque por trás de argumentos pseudocientíficos e de defesa da integridade física dos brasileiros podem haver segundas e terceiras intenções maldosas. Não se trata de acusação, até porque este não é o foro apropriado, nem insinuação, mas de uma advertência. É preciso estar atentos, ou como se diz numa linguagem mais atual, é preciso ficar ligados. E não descartar a esperança em melhores dias. Um ditado diz que ‘a esperança é a última que morre’. Errado, desde a origem, porque a esperança não morre, jamais. E não devemos deixá-la fraquejar.