Vivemos uma realidade marcada pelo tempo e pelo espaço. Somos homens e mulheres que, desempenhando as mais variadas funções na sociedade, buscam a realização de algum ideal, criam e dissolvem vínculos, enfim, reinventam-se a todo momento. Estamos inseridos em um mecanismo de erros e acertos, cuja razão de ser transcende quaisquer dimensões, situando-nos na própria eternidade do espírito. É precisamente por essa razão que a paciência, que é, antes de tudo, uma atitude inteligente, deve ser estimulada e desenvolvida, sem o que o êxito nos empreendimentos e nos relacionamentos deixa de ser uma possibilidade e se transforma em uma utopia.
Uma vez conscientes do processo que integramos e, de certa forma, dinamizamos – processo cuja essência e objetivo se relacionam com a atualização e o aprimoramento de nossas potências, e não com uma loteria de prêmios e punições –, surge uma pergunta: como reagir positivamente diante das contradições da época atual, em que, de um lado, nossas limitações são expostas de forma acentuada e, de outro, nos são exigidos comportamentos quase sobre-humanos? Devemos reagir com lucidez, agudo senso das proporções, responsabilidade, critério, alegria e, sobretudo, paciência, instrumentos fornecidos pelo estudo e pela prática de uma espiritualidade sadia e forte, como sói ser a difundida pelo Racionalismo Cristão.
A maioria de nós certamente já teve a oportunidade de contemplar os coqueiros, as palmeiras e tantas outras árvores sob a ação dos ventos. Tal imagem, bucólica e poética, deve suscitar em nós, estudiosos da espiritualidade, uma profunda reflexão e um grande aprendizado: quando nos abalam os vendavais da vida, podemos até balançar, mas se nossas raízes são firmes e interpenetradas pela seiva da paciência, pode ser que nos curvemos até a superfície, mas acabamos por levantar-nos, tendo nossa força e resiliência revigoradas e aumentadas.
A possibilidade de que o ser humano pratique a virtude da paciência em todas as circunstâncias da vida está relacionada com uma visão ampliada de mundo, genuinamente abrangente, que enfatize o valor da tolerância, da justiça e da verdade, em que o ser humano mostre disponibilidade para deixar-se inspirar e orientar pelos elevados preceitos da ética espiritualista.
Desenvolve a paciência quem conserva a paz em seu espírito, quem não se deixa consumir pelas adversidades e contratempos, quem confia em seu semelhante, quem fala a verdade e cumpre suas obrigações sem apontar defeitos alheios. Quem quiser ser paciente, zele por sua capacidade de observação; assim verá que tudo na vida tem uma razão de ser e um tempo próprio para acontecer. Aquele que sabe esperar goza de maior tranquilidade e saúde mental, pois, tendo aprendido a vencer suas próprias dificuldades, tornou-se o protagonista de sua própria vida.
A formação de uma personalidade íntegra e fecunda, capaz de responder positivamente aos obstáculos próprios da vida, exige autodomínio e coragem, firmeza e fortaleza espiritual, mas também serenidade e paciência. O primado desta última, tal como o defendemos, ou seja, à luz da espiritualidade, não deve ser compreendido como valorização da passividade ou da aceitação irrefletida, muito menos como apologia à indiferença.
Muitas vezes, ouvimos dizer que a paciência é uma qualidade dos fortes, uma virtude admirável, uma postura digna. Sim, ela é tudo isso. Todavia, queremos destacar nesta reflexão uma outra face dessa virtude, afirmando que ela é, também, um pressuposto do sucesso em todo e qualquer empreendimento, na medida em que constitui uma atitude de quem aprendeu a respeitar o ritmo da vida. A importância e a centralidade dessa conclusão só nos fazem reforçar a relevância da paciência.
A convicção de que tudo na vida é transitório e de que mesmo as situações mais complicadas terão um fim revigora a paciência, que não se resume a resignação, mas representa, antes, uma atitude nobre advinda da fortaleza espiritual, que propicia, por sua vez, o desabrochar de inúmeras outras qualidades.
Muito Obrigado!