Pedras no caminho. Como se reerguer e começar outra vez, diante de adversidades?

Os desafios se apresentam de forma constante na vida de todos os seres humanos. A existência neste planeta é inexoravelmente marcada por inúmeros começos e recomeços e, nessas ocasiões, é inevitável que as dificuldades e os reveses façam parte da trajetória humana. Essa constatação, se outros méritos não tiver, terá um que ultrapassa muitas contrariedades: o de demonstrar que todos necessitam de aprimoramento, uma vez que ninguém é perfeito. 

Não raro, ouve-se dizer que a vida consiste em uma luta constante. Tal enunciado surge periodicamente e com diferentes formulações, mesmo entre aqueles que consideram, em suas análises, o lado transcendente da vida. Nesta reflexão, além de indicar direções para que os seres humanos se reestruturem e reorganizem suas vidas, demonstraremos que a luta a ser travada por eles em nada se identifica com o conceito bélico que orbita o termo – com a disputa, a contenda, o conflito. O reerguer-se e o recomeçar com retidão dependem de uma outra luta: a luta do ser humano contra si mesmo, ou melhor, contra seus vícios e inclinações inadequadas e sabotadoras. 

Evidentemente, as diferenças de formação, interesses e prioridades entre os seres humanos sobressaem também no momento de estudar as causas das adversidades. Todavia, há que se considerar a incidência de uma completa inversão de valores quando a pessoa analisa os fatos apenas pelo reduzido olhar materialista, em detrimento da visão abrangente da espiritualidade, que tanto abarca aspectos que dizem respeito à vida prática, como também se expande para o campo do transcendente, perspectivado em sua duplicidade ética e moral. 

É profundamente significativa a capacidade que o ser humano possui de reinventar-se. Nessa perspectiva, é imperioso que haja a compreensão do correto sentido das adversidades, que jamais devem ser tomadas como punições ou castigos. Com tal reflexão, a pessoa terá sua consciência iluminada e poderá concentrar suas energias no presente, do qual depende seu futuro, reconciliando-se consigo mesma e preservando-se humilde e fortalecida. 

A pessoa que mesmo em ocasiões de grande decepção, infortúnio e desespero se mantém confiante e certa da transitoriedade dos fatos e fenômenos relativos à realidade física demostra que é capaz de assimilar as lições que residem atrás dos reveses. Com efeito, quando o ser humano se encontra em uma situação difícil, quando é pungido pela dor, percebe o quanto uma vivência materializada é vazia de sentidos e desidratada de afetividade; em tais ocasiões, passa a compreender que fora de uma experiência de vida pautada no amor ao próximo, no respeito, na tolerância e na solidariedade não poderá fazer vir à tona suas qualidades, enfim, jamais se há de realizar. 

Ao agir com sinceridade e honestidade, ao entregar-se de corpo e alma às disciplinas construtivas da vida, sem nunca se achar superior a seus semelhantes nem se igualar aos que simulam zelo e bondade para encobrir a revolta, ao repelir com todo empenho aquilo que impede seu progresso moral, o ser humano estará dando mostras de maturidade e de disposição em edificar uma nova fase de vida, que certamente será prospera e frutuosa. Por outro lado, a pessoa preguiçosa, indolente, desonesta e indisciplinada tem seu pensamento mais afeiçoado dos desejos e vícios a que se inclina que da vontade de tornar-se equilibrada, paciente e honrada, bem como de gozar de uma paz imperturbável advinda da consciência de ter cumprido bem seus compromissos. 

Sem conceber a vida como uma oportunidade de crescimento, o ser humano não conseguirá compreender a humanidade no que ela tem de mais valioso: a diversidade e a fraternidade, que enlaça as pessoas e as aproxima de sua essência. Ora, as esperanças humanas não podem se reduzir a um protesto contra os sofrimentos e os reveses e a busca constante e absorvente de soluções para evitá-los, porque a verdadeira realização do espírito está em um campo que ultrapassa o horizonte de uma vida humana estável e de relativa harmonia, que, embora importante, não é tudo – quantos a possuem e não se sentem plenos? 

Importa, portanto, dizer sim à vida, compreendendo seus desafios e adversidades, buscando aprender com eles e alegrando-se com a relativa felicidade alcançada quando se age com generosidade, quando se evitam as atitudes interesseiras e limitadas, quando se tem uma disposição férrea de elevar ao domínio da espiritualidade a razão e o entendimento, porque só a par dos valores da transcendência e em conexão com eles pode a vida florescer e prosperar. 

Vale a pena ressaltar que a perseverança, sustentada pela humildade e pela abertura ao aprendizado contínuo, é uma bela e eloquente demonstração da inabalável convicção de que os desafios e dramas, adversidades e contrariedades representam, no mais das vezes, a mola propulsora do desenvolvimento humano. O ser humano que persevera alimentado por essa convicção desenvolve, a cada embaraço que experimenta e na medida do possível, seus atributos e faculdades espirituais, compreendendo que da ininterrupta ampliação e atualização de suas potencialidades dependem, em grande parte, sua felicidade e sucesso. 

Vimos que a atitude proativa, consciente e espiritualizada diante dos insucessos e adversidades nos coloca em condições de soerguimento e reestruturação, mesmo quando a maior parte das análises e considerações aponta em sentido contrário. Se confiar apenas naquilo que as aparências sensíveis lhe permitem apreender, o ser humano ver-se-á na condição de a pouquíssimas coisas poder dar crédito e tenderá, por conseguinte, ao imobilismo e à negatividade. 

A abertura para a espiritualidade proporcionada pelo Racionalismo Cristão permite à inteligência humana a imediata percepção da importância de uma conduta lapidar, da virtude de empregar a palavra de forma amena e oportuna, de um estilo de vida reflexivo e ao mesmo tempo dinâmico, que seja otimista e digno. Essas atitudes minimizam, quando não apagam, a presença e o relevo do sofrimento, do drama e da dor. 

A espiritualidade a que aludimos não significa fuga da realidade, mas interiorização, a autorreflexão, como nos ensina o Racionalismo Cristão. É penetrando cada vez mais fundo dentro de nós mesmos que entramos em contato com a autêntica espiritualidade. Quando temos a coragem de reconhecer que a maioria dos insucessos que vivenciamos se dá por conta de nossos erros e escolhas inadequadas, elevamo-nos espiritualmente. Aquele que almeja reerguer-se e recomeçar na vida deve, em primeiro lugar, abandonar todo impulso à vitimização e eliminar de sua mente as fantasias oriundas de suas próprias projeções. 

Entendam que onde se encontra o maior dos problemas também reside a maior oportunidade de desenvolvimento. Embora a constante capacidade humana de superação e reestruturação possa ser demonstrada de muitas formas aos seres humanos que desconhecem os percursos da espiritualidade, não cremos que exista uma maneira mais contundente, robusta e sólida do que a que se apoia na certeza da imortalidade da alma. 

Muito Obrigado!