Não poderíamos deixar de manifestar nossa opinião acerca das formas de prevenção ao suicídio atualmente debatidas em âmbito mundial, porquanto se trata de uma grave questão, inseparavelmente ligada ao momento histórico que ora vivenciamos.
Aqueles que costumam estar desatentos às lições que a vida não cessa de oferecer e negam a si mesmos a possibilidade de crescer, amadurecer e caminhar na direção do bem e do autoconhecimento estão sujeitos a ser negativamente influenciados pelas circunstâncias atuais e a engrossar dramáticas estatísticas. Contudo, não nos cabe apenas apontar as raízes do problema, mas sobretudo apresentar soluções possíveis e viáveis. É o que procuraremos fazer na presente reflexão.
O suicídio, também conhecido como autocídio ou autoquíria, é a morte voluntária, que resulta direta ou indiretamente de ação ou omissão realizada pela própria vítima com consciência do resultado, conforme se constata do ensinamento de Émile Durkheim.
As ciências médica e jurídica apontam diversas causas que dão ensejo ao suicídio, tais como agudo estado de miserabilidade e forte comoção política, religiosa ou social. Também não estão descartadas as questões neurológicas e psíquicas, além da senilidade, a imaturidade, entre outras. No Brasil, onde há uma intensa campanha de prevenção ao suicídio durante o mês de setembro, não há, por razões humanitárias, punição para quem atenta contra a própria vida, embora seja um ato ilícito. O mesmo não ocorre para quem instiga o suicídio. Concordamos integralmente que quem tenta o suicídio não merece punição, mas atenção, acolhimento e esclarecimento espiritual.
Por que afirmamos que o esclarecimento espiritual é a solução em matéria de suicídio? Porque ele atua na raiz do problema. Vejamos: o principal elemento que enseja o suicídio é o vazio existencial, a falta de sentido na vida. E o esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão, por seu turno, proporciona ao ser humano a consciência do verdadeiro sentido da vida e de cada existência em particular. Isso faz toda a diferença, pois quem comete o suicídio, na maioria das vezes, não quer se livrar da vida, mas das sensações desagradáveis que experimenta por não mais encontrar um sentido em viver.
O imenso progresso tecnológico verificado na atualidade demonstra a importância da eficiência de gestão. Contudo, há que ter cuidado para não absolutizar o conceito de eficiência a ponto de desumanizar as pessoas e transformar o ser humano em uma máquina.
É impressionante a quantidade de suicídios em empresas e setores de segurança pública, cuja busca por eficiência e cobrança por resultados se tornaram uma obsessão. Os desgastes emocionais relacionados à vida profissional adquiriram o status de uma doença global, de consequências extremamente deletérias para humanidade.
Mais do que fazer a apologia irrestrita do conceito de eficiência, é preciso ressignificá-lo e iluminá-lo pelo farol da espiritualidade autêntica. A verdadeira eficiência não se relaciona diretamente aos métodos produtivos e laborais; tampouco descamba para o estresse e a ansiedade. Devemos, sim, ser eficientes no desenvolvimento de nossos talentos, faculdades e potencialidades: agindo com inteligência, valorizando o tempo e bem canalizando nossas energias, atingiremos esse objetivo e jamais nos permitiremos deixar influenciar por pensamentos autossabotadores e autodestrutivos.
Alguns pensadores, dentre os quais Montesquieu, diziam que a principal causa de ruína das repúblicas é a indiferença. Como é próprio de nossos estudos ampliar conceitos, podemos dizer que a principal causa da ruína de muitas vidas é a indiferença, mas a indiferença duplamente considerada, ou seja, a indiferença do ser humano em relação a si próprio e em relação ao próximo. A principal forma de prevenção ao suicídio é o combate à indiferença; ninguém duvide. Com certeza, as mais eficazes armas contra ela são o autoconhecimento e a solidariedade. Uma pessoa que conhece sua essência e a importância do próximo valoriza a vida e jamais atenta contra ela.